Seca no Nordeste deve prolongar cobrança extra nas contas de luz para 2016.
A
permanente seca no Nordeste do Brasil, intensificada pelo fenômeno climático El
Niño, aumenta as chances de ser preciso manter termelétricas ligadas ao longo
de 2016, o que significa que os consumidores de energia continuariam pagando um
adicional nas contas de luz para custear essa geração, mais cara.
Os
reservatórios das hidrelétricas da região estão com 5,2 por cento da capacidade
de armazenamento, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), com
nível de 1,5 por cento na represa de Sobradinho. Em Três Marias, há 8,7 por
cento da capacidade, e na usina Itaparica, 10,2 por cento.
"Sem
dúvida nenhuma, as termelétricas, ao menos as do Nordeste, devem continuar a
funcionar ainda por um tempo suficiente para que essa situação se resolva...
tem que chover muito para recuperar, e essa chuva não está parecendo muito que
vá ocorrer", afirmou à Reuters o ex-diretor do ONS, Carlos Ribeiro.
Atualmente,
os consumidores têm sido cobrados pela bandeira tarifária vermelha, que
representa um acréscimo de 4,50 reais a cada 100 kilowatts-hora; a cobrança
extra é disparada quando há usinas térmicas em operação com custo acima de 388
reais por megawatt-hora.
Se
a última térmica ligada tiver custo entre 200 e 388 reais por megawatt-hora, é
acionada a bandeira amarela, que cobra 2,5 reais extras a cada 100
kilowatts-hora. A bandeira verde, que representa o retorno à tarifação normal,
só é acionada quando estiverem desligadas todas térmicas com custo acima de 200
reais.
"Você
vai ter que manter térmicas ligadas também para atender os momentos de pico de
carga do sistema... e (a seca) que a gente vem observando deve continuar em
2016. Acho que não tem condição de termos bandeira verde tão cedo",
afirmou o meteorologista da Climatempo Alexandre Nascimento.
Na
visão de Ribeiro, ex-ONS e hoje diretor da Associação Brasileira de Companhias
de Energia Elétrica (ABCE), um cenário otimista de chuvas poderia permitir
passar à bandeira amarela, mas a necessidade de térmicas no Nordeste deve
evitar o retorno à tarifação normal, da bandeira verde.
"Se
houver uma afluência grande nas usinas do Sudeste, que dê uma garantia de
abastecimento, você poderia desligar as térmicas de lá, as do Sul... mas não as
do Nordeste", disse.
O
consumidor brasileiro pagou 11 bilhões de reais extras entre janeiro e setembro
deste ano devido ao acionamento da bandeira tarifária vermelha, segundo dados
mais recentes da Agência Nacional de Energia Elétrica.
SUPRIMENTO
SEM RISCO
Para
Ribeiro, da ABCE, a situação do Nordeste "é crítica", mas não
representa um risco de suprimento de energia.
"Não
vejo problema porque existem ali as termelétricas, as eólicas, e existe o
recebimento de energia de outras regiões, principalmente do Sudeste",
apontou.
Para
ele, é possível que o El Niño, que tem provocado chuvas fortes no Sul e
próximas da média no Sudeste, favoreça as hidrelétricas dessas regiões, que
poderiam ajudar o Nordeste com o envio de energia até o limite da capacidade
das linhas de transmissão.
Essa
situação, no entanto, dependeria das térmicas, sem as quais a região ficaria
"vulnerável". Isso porque um sistema sobrecarregado, recebendo
energia demais do Sudeste, ficaria exposto a grandes blecautes no caso de
qualquer falha nas linhas que conectam as regiões.
MELHORIA
TARDIA
A
Climatempo prevê que os efeitos do El Niño, que incluem a redução das chuvas no
Nordeste, devem diminuir a partir da virada do ano, mas não vê a melhoria como
suficiente para aliviar a situação local.
"O
grande problema é que já vai ser tarde demais... como o ponto de partida é
péssimo, não haverá, na realidade, grande recuperação", disse Nascimento.
O
meteorologista Georg Müller, da Thomson Reuters Point Carbon, disse que o El
Niño deste ano "atingirá o pico de intensidade nas próximas semanas"
e deve ser um dos mais fortes nas últimas décadas --"provavelmente atrás
apenas dos registrados em 1982/83 e 1997/98".
Ele
também espera que as anomalias causadas pelo El Niño deverão "desaparecer
muito rapidamente no próximo ano".
Reuters
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