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Se não chover logo, nada a comemorar – apenas a lamentar. Por Fabiana Agra*


Foi com lágrimas nos olhos que comecei a olhar as mais de 40 imagens do açude Várzea Grande, que foram clicadas hoje pela manhã e enviadas por um amigo internauta que, avesso à publicidade, pediu para não ter seu nome divulgado. As primeiras fotografias mostram o leito do reservatório praticamente vazio e o passeio continua na visualização de centenas de formações rochosas onde há pouco tempo havia água, muita água. Eu só posso ficar triste, muito triste, com essas cenas que agora divulgo: em vésperas de completar 112 anos de emancipação política, caso não chova muito e logo, o município de Picuí nada terá para comemorar no dia 9 de março, pois estará prestes a entrar na maior crise hídrica de sua história, eis que as cerca de treze mil pessoas que tem suas residências abastecidas por aquele manancial, passarão a depender exclusivamente dos carros-pipa da Prefeitura; para os poucos habitantes mais abonados, restará ter que desembolsar muito dinheiro para terem acesso à água, até mesmo para lavar as suas roupas.

Não, eu não estou exagerando. Até gostaria, mas não é o caso: segundo dados da AESA, no último dia 24 de fevereiro, o volume do açude Várzea Grande era de 2,3% – ou seja, com uma capacidade de 21.532.659 m3, contava com apenas 500.546m3. É a lama, é o último sopro daquele reservatório que ainda está chegando às nossas torneiras. Mas, até quando? Se não chover o necessário para uma mínima recarga que seja, possivelmente a sua água acabará de vez em fins de março para início de abril. E o que já era ruim tem tudo para piorar, pois na semana passada foi divulgada a previsão climática do INPE para o trimestre março/abril/maio de 2016, que indicou “maior probabilidade do total trimestral de chuva ocorrer na categoria abaixo da normal climatológica do norte do Amazonas ao norte da Bahia, com distribuição de probabilidade de 20%, 35% e 45% que correspondem, respectivamente, às categorias acima, dentro e abaixo da faixa normal climatológica. Esta previsão também se aplica ao leste da Região Nordeste, cujo período mais chuvoso tem início a partir de abril”. Trocando em miúdos, neste ano continua forte a tendência de chuvas abaixo do normal para a nossa região e o grande vilão do clima continua sendo o “El Niño” que, apesar de ter perdido a força, ainda continua mandando por essas bandas aqui dos mares do sul.

Entenderam agora o motivo das minhas lágrimas? Apesar da meteorologia não ser uma ciência das mais exatas e de só bastar uma mudança brusca em um dos fatores que provocam a estiagem em nossa região para a chuva cair em abundância e calar a minha boca, a tendência para o ano de 2016, mais uma vez, é de ocorrência de chuvas localizadas, fenômeno que não foi favorável para Picuí e região nos últimos anos. Tem mais: se os prognósticos se confirmarem e caso a estiagem persista ao longo do ano, o Complexo Coremas-Mãe D’Água, maior reservatório paraibano, poderá entrar em colapso e as consequências serão desastrosas para os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Por conseguinte, outros reservatórios da nossa região provavelmente se esgotarão – dentre eles o Açude Boqueirão, que abastece Campina Grande e 18 outras cidades paraibanas. É por isso que martelo tanto na história da Transposição do Rio São Francisco, obra que será a redenção  definitiva para esse nosso povo tão sofrido mas aguerrido. Eu sei que o Eixo Norte do “Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional” (PISF) está sendo olhado, vigiado e cobrado, de perto, pela senadora potiguar Fátima Bezerra – na última segunda-feira, ela capitaneou uma caravana para percorrer vários trechos da obra, de vital importância para o estado que ela representa. Enquanto isso, o Eixo Leste, que na Paraíba chega ao município de Monteiro, vive abandonado pelos políticos paraibanos. Certamente não é do interesse dos mesmos que o Cariri, o Agreste, o Seridó e o Curimataú do nosso estado sejam também agraciados por obra tão grandiosa e definitiva. A hora é de cobrar e de gritar, e é isso que estou fazendo.

...Volto a olhar para as imagens do Várzea Grande e lembro da promessa feita ainda no século XIX pelos párocos de Cuité e Picuí, que envolvia a permuta de seus santos padroeiros para que os mesmos intercedessem a Deus por chuva. Seria este o caso agora? Será que o caso continua sendo “ter FÉ”? ...Vou até a janela e observo o horizonte: algumas nuvens esparsas, “maneiras”, incapazes de trazerem a chuva... Olho o calendário, faltam 17 dias para o 19 de março, dia de São José – quem sabe a véspera não seja propícia para nós e os relâmpagos risquem os céus seridoenses e os trovões ecoem pros lados do curimataú e a chuva, enfim, caia em abundância? É. Agora só resta mesmo esperar pela chuva, ter esperanças e cobrar, cobrar muito, pela chegada do Velho Chico – não o imbróglio global, mas aquela água redentora que flui desde as Gerais. Assim seja. Amém.


Picuí, tarde quente e sem sinal de chuva de 02 de março de 2016.

* Fabiana Agra é advogada e jornalista

Um comentário:

  1. Muitas pessoas alegam que o açude não entra água durante as poucas chuvas. No entanto temos que lembrar que em todos os afluentes do rio Picuí foram construidos grandes açudes que impedem que as águas cheguem até a varzea grande.

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