Hospitais públicos da PB deveriam ser interditados, diz CRM.
Diretor
do setor de fiscalização do Conselho Regional de Medicina (CRM-PB), João
Alberto Morais é direto quando o assunto é a situação dos hospitais.
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“Se
fôssemos seguir os critérios rígidos de fiscalização, nenhum hospital público
da Paraíba deveria estar com as portas abertas”. A declaração é do diretor do
setor de fiscalização do Conselho Regional de Medicina (CRM-PB), João Alberto
Morais, que afirma que a maioria dos problemas relacionados às unidades de
saúde é de gestão. “São hospitais que não atendem na integralidade e com
decência e seriedade. Não é uma questão médica, é gerencial e financeira. Todos
têm deficiência em relação a exames, medicamentos e as mais variadas coisas”,
revela o médico.
Em
todo o Estado, há 60 unidades de saúde interditadas pelo CRM-PB. Destas, 20
estão em Santa Rita, na Grande João Pessoa. “A cada dia, a cada nova
fiscalização, nós verificamos que as condições que são ofertadas nos atendimentos
dos hospitais e postos são piores. E na capital, onde deveríamos ter os
melhores hospitais, temos unidades funcionando de forma precária”, afirma.
“Temos, por exemplo, o Hospital de Trauma Humberto Lucena, onde as macas no
setor de emergência são muito próximas e permite pacientes com pneumonia ficar
ao lado de uma vítima de acidente. Nessa situação tem muito risco de infecção”,
analisa.
De
acordo com o diretor, quando as unidades de saúde do interior da Paraíba são
analisadas, a situação é ainda pior. “Nessas cidades, nós encontramos postos de
atendimentos, unidades básicas e hospitais com condições impossíveis de ser
realizado qualquer procedimento. Na semana passada, fomos a Alagoa Grande, e
verificamos que o hospital de lá se transformou em uma unidade básica porque
não tem nenhum paciente internado. E apenas um médico trabalhando no hospital
inteiro, o que dava uma média de 240 pacientes por dia. É humanamente
impossível realizar esse número de atendimentos”, opina.
Segundo
João Alberto, o CRM não realiza as interdições médicas em unidades como essa
porque toda a população é prejudicada com a falta de atendimento. “Uma
interdição não é boa para ninguém. A população perde porque fica sem
atendimento, o médico perde porque fica sem local de trabalho e a gestão perde
porque fica sem mais uma unidade de saúde. Então a interdição é o nosso último
recurso, quando não há mais opções”, diz.
“As
causas dos problemas das unidades são gerenciamento péssimo da saúde, recursos
mal empregados e recurso financeiro pequeno. A gente observa que na grande
maioria dos hospitais os recursos não investidos na saúde como deveriam ser.
Geralmente os hospitais públicos são geridos pela secretaria municipal. Se um
gerente emprega mal um recurso no hospital, a secretaria troca o gestor. Mas
quando um médico assume a gerência do hospital e esse mal gerenciamento
acontece por falta de recurso, como ele pode melhorar o local?”, questiona o
diretor.
No
início do mês de abril, o CRM realizou uma fiscalização no Complexo Hospitalar de
Mangabeira Governador Tarcísio Burity, o Trauminha. Durante a visita foram
verificadas diversas irregularidades como falta de medicamentos, equipamentos e
higiene. Até baratas foram encontradas na enfermaria do hospital. “No
Trauminha, eu não pude sequer entrar na parte cirúrgica porque não tinha a
roupa necessária”, contou o médico. Um relatório elaborado após a fiscalização
foi encaminhado para o Ministério Público da Paraíba, que está realizando
audiências com a direção do hospital para verificar os problemas.
O Jornal
da Paraíba procurou a Secretaria Estadual de Saúde e a Secretaria de Saúde de
João Pessoa para comentar o assunto, mas não obteve retorno.
JPOnline
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