ELEIÇÕES 2016: Em Lucrécia, candidatos só não se elegem em caso de morte ou zero voto.
“Se
nenhum candidato morrer até o dia da votação, todos seremos eleitos.” A
afirmação é do atual presidente da Câmara Municipal de Lucrécia, Hélio Maia
(PR), que, caso realmente não morra até 2 de outubro próximo, será eleito para
o seu sétimo mandato de vereador na cidade, que fica a 346 km de Natal. A
certeza da eleição de Hélio Maia se dá porque Lucrécia é a única cidade
brasileira que neste ano não terá “disputa” para as cadeiras na Câmara: são
nove candidatos para as nove vagas existentes. Além disso, a cidade é uma das
97 do Brasil que têm um único candidato a prefeito na eleição deste ano.
Lucrécia
tem quase 4 mil habitantes, dos quais 3.265 são eleitores. Os moradores contam
com orgulho que em 1933 o presidente Getúlio Vargas pernoitou na cidade uma
vez. A casa onde Vargas dormiu já não existe mais. O presidente foi ao local
para visitar a obra de construção da barragem, que acabou se tornando o único
"ponto turístico" da cidade. Devido à estiagem que assola o Nordeste
brasileiro há cinco anos, a barragem está completamente seca. Lucrécia virou
município, por decreto, em 1963.
Os
políticos de Lucrécia admitem que houve um "entendimento" para que
houvesse uma candidatura única para a eleição majoritária. "Já vínhamos
tentando isso há alguns anos. Lucrécia tem situação e oposição fortes e as
disputas eleitorais são acirradas. Desta vez, durante mais de um ano, tivemos
inúmeras reuniões com a oposição e decidimos que, pelo bem de nossa cidade,
teríamos uma chapa única para a eleição majoritária", afirma o atual
prefeito, Walter Araújo (PSB), que vai deixar a prefeitura após oito anos de
mandato. A candidata da chapa única é a professora Conceição Duarte (DEM).
Para
ele, o fato de ter feito uma gestão bem avaliada pela população possibilitou
esse "acordo". "Todos demos um passo atrás. Nossa cidade, como
todas as outras pequenas do país, passam por uma crise financeira histórica.
Temos muitas dificuldades até mesmo para pagar a folha salarial e manter os
serviços básicos em pleno funcionamento. Esse entendimento foi a melhor coisa
que todos poderíamos fazer pelo nosso município", diz Araújo.
Mas
o "entendimento" foi apenas para a eleição de prefeito. Não houve
discussões nesse sentido para a eleição proporcional, a de vereadores.
"Todos os dez partidos que têm representatividade aqui em Lucrécia tiveram
suas convenções normalmente, com edital de convocação e anúncio na rádio da
cidade. Acontece que, por mais incrível que possa parecer, apenas nove pessoas
quiseram se candidatar neste ano", afirma Manoel Hélio.
Dos
nove vereadores de Lucrécia, seis serão reeleitos. O empresário Edson Soares
(DEM) já foi vereador por dois mandatos e – caso tudo corra bem – será eleito
para voltar à Câmara Municipal. Ele tem uma irmã vereadora e vai substituir a
filha na Casa. "Minha filha tem 22 anos, é engenheira civil, e decidiu que
não quer mais saber de política. Vai se especializar e tomar conta da nossa
empresa", conta.
Para
Edson Soares, o principal fator para que apenas nove pessoas decidissem se
candidatar é a descrença com os políticos e com a política brasileira.
"Em
um primeiro momento, qualquer um pode imaginar que se trata de coronelismo, que
isso se deu de forma impositiva. Mas, na verdade, o que aconteceu aqui é
triste. Por todos esses escândalos que acompanhamos no país atualmente, as
pessoas, principalmente os jovens, passaram a ser descrentes com a política.
Confesso que, por muitas vezes, eu mesmo sinto vergonha de dizer que sou
político."
O
salário bruto de um vereador em Lucrécia é de R$ 2,8 mil. "Eu sou
empresário da construção civil, é de onde sustento minha família. Sou vereador
apenas para ajudar a minha cidade, a minha terra. Já conversei com os demais
candidatos e propus a eles que a próxima legislatura seja voltada para os
jovens, para resgatar neles a vontade de se fazer política", diz Manoel
Hélio.
G1/RN
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