PREOCUPANTE: Pesquisadores dizem que estiagens mais severas e prolongadas devem ser regra.
As
únicas alternativas colocadas pelos órgãos de gestão das águas são esperar por
chuva em 2017 ou pela transposição de águas do Rio São Francisco. Mas o pior
está por vir, segundo pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), em São Paulo. Um estudo mostra que a região do semiarido
nordestino está se tornando uma zona árida. Resumindo: o Sertão pode virar um
grande deserto.
Esse
panorama é inevitável? “Hoje só temos uma certeza. A de que no futuro os
períodos de seca serão mais longos e mais quentes”, responde o hidrologista e
meteorologista do Cemaden, José Antonio Marengo.
Os
pesquisadores basearam o estudo em projeções climáticas estimadas a partir da
aplicação ao Nordeste dos modelos climáticos globais do 5º Relatório de
Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, de 2014. “As
projeções de clima geradas pelos modelos climáticos sugerem que, daqui para
frente, as estiagens mais severas e prolongadas tenderão a ser a regra, não
mais a exceção”, afirma Marengo.
A
época das chuvas no Nordeste acontece entre os meses de março e maio. É nesse
período que a precipitação fornece a água que irá ser armazenada nos milhares
de cisternas da região, para os meses de estiagem.
Veranicos
mais longos. Atualmente, durante os meses chuvosos não chove todos os dias. Há
intervalos sem precipitação que duram de cinco a seis dias. O que as projeções
indicam é que esses intervalos ‘secos’ tenderão a ser mais numerosos e mais
longos. No futuro, os ‘veranicos’ poderão se estender por até 40 dias. Ou seja,
a quantidade de precipitação nos meses chuvosos tenderá a ser menor do que a
atual.
Isso
irá impactar diretamente na quantidade de água que poderá ser armazenada no
solo e nas cisternas. Menos dias de chuva se traduzem em menos água nas
cisternas e no solo que tende a ressecar, com prejuízo para a vegetação do semiárido,
adaptada a um volume sazonal de chuvas que se torna mais deficiente.
Dias
mais quentes. De acordo com as projeções, menos chuva significa também dias
mais quentes. Esse é um processo que já vem acontecendo há muito tempo. De
acordo com Marengo, as projeções passadas indicam que a temperatura média no
Nordeste já aumentou 0,8 grau centígrado entre 1900 e 2000.
Foram
feitas projeções para estimar as alterações no índice de chuvas e nas
temperaturas médias do Nordeste tanto ao longo do século 20 quanto até o final
do século 21. O aquecimento vai aumentar. Na melhor das hipóteses, as projeções
apontam para uma elevação nas temperaturas médias de outros dois graus
centígrados até 2040, o que poderia também estar acompanhado de períodos secos
mais intensos e longos.
Apelando
aos céus. “Vamos torcer para que a força divina nos dê cobertura, porque não
temos plano B ou C. Precisamos pedir apoio para que a obra de transposição seja
acelerada ou vamos ficar sem água. Porque se chega em Poções em abril, é no
mínimo mais um mês pra chegar em Boqueirão. Era uma obra pra anteontem. Esse
tempo de atraso nos fará falta. O fato é que 90% dos açudes estão em estado de
calamidade, então temos que cobrar, porque se antes ficávamos tristes com a
seca, agora, a aproximação de um colapso nos causa pânico”, disse o
especialista em Recursos Hídricos, Isnaldo Cândido.
Fé
na transposição. Segundo o secretário de Estado dos Recursos Hídricos, João
Azevedo, não existe previsão de medidas paliativas, pois acredita que a
transposição chegue antes do colapso no reservatório Epitácio Pessoa, que
abastece o referido município e mais 18 cidades, estando atualmente com apenas
7% do volume total. “Não precisa plano B para Campina Grande, já fazemos o
monitoramento da barragem e vamos continuar com racionamento. Ou a chuva ou a
transposição vai resolver”, disse.
JCOnline
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