Pais de menina de SP com tumor raro buscam ajuda para tratá-la nos EUA.
O
apelo dos pais de uma menina de 3 anos com uma doença raríssima tem comovido
pessoas nas redes sociais. Um vídeo postado no YouTube, no qual os pais contam
a história da filha e pedem ajuda foi publicado no início de novembro e desde
então muitas pessoas se prontificaram a ajudar o casal. Melyssa Delgado Braga
luta contra um tumor agressivo chamado fibroma desmóide, desde um ano e dois
meses. O tumor atinge a parte inferior da cabeça e o pescoço de Melyssa.
Mel,
como gosta de ser chamada, mora com a mãe, Caroline, o pai, Manassés, e o irmão
mais novo, Anthony, nos fundos da casa da avó materna, em Guarulhos, na Grande
São Paulo. Todos dividem o mesmo quarto.
Os
pais querem levá-la para os Estados Unidos, em busca de um tratamento mais
eficaz. No Brasil, o único tratamento possível, segundo os médicos, é uma
cirurgia “de caráter mutilante”, que seria responsável por retirar a mandíbula
da menina. Com isso, ela se alimentaria por traqueostomia, não conseguiria mais
falar. Os médicos alertaram ainda do risco que essa operação é alto e que a
possibilidade de uma infecção seria grande.
De
acordo com o oncologista Fernando Maluf, o tumor fibroma desmóide é raro e
apesar de não ter muitas chances de espalhar pelo corpo, ele pode voltar com
frequência. “Ele não tem o padrão de disseminação, de alastramento, ele é uma
doença de padrão recidivo (que pode voltar a se manifestar)”, explica o médico.
No
Facebook, a página “Ajudem a Melyssa” tem mais de 5,6 mil pessoas acompanhando
o caso.
Diagnóstico
Em
uma brincadeira com a filha, os pais de Mel perceberam que o pescoço dela
estava com um nódulo. Foram ao médico e, sem exames, receberam o diagnóstico de
íngua e indicação de tratamento. Após idas e vindas ao pronto socorro do
convênio, exames, tomografias e médicos especialistas, Caroline Delgado Braga,
de 21 anos, a mãe, levou a filha na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e
lá foi constatado o tumor.
Após
uma semana internada, muitos exames feitos e o tumor ainda maior, iniciaram o
tratamento com anti-hormônio, que durou cerca de dois meses. Sem o resultado
esperado, deram sequência com quimioterapia durante três meses. Mas com a
imunidade baixa, e pouco resultado, os médicos constaram que Mel não poderia
receber mais sessões da medicação.
“A
última que ela tomou foi em maio de 2015. Ela estava com imunidade zero, com os
glóbulos brancos baixos. Ela foi internada duas semanas, porque o organismo
dela não estava mais aguentando”, conta a mãe.
Cirurgia
Em
uma conversa com o médico, a família soube que a quimioterapia não estava dando
o resultado esperado, que Mel não aguentaria outros tratamentos e que os pais
deveriam decidir se ela seria operada. “Eu perguntei se ela morreria fazendo ou
não a cirurgia e ele disse que sim. Eu não acreditava, eu chorava”, lembra a
mãe.
“Então,
que não autorizava a cirurgia. Se fosse para ela morrer de qualquer jeito, que
seja em casa, brincando, feliz, comendo. Ao meu ver de mãe, eu optei pela
qualidade de vida dela. Melhor do que ela ficar até o último dia dentro de um
hospital, sem comer, sem falar, debilitada”, lamenta.
O
médico explicou para os pais que aquele era o momento de fazer a cirurgia, que
depois não seria possível. “Eu procurei manter a calma, pensei, repensei, mas é
uma decisão difícil”, conta o pai, Manasses Tavares Braga, de 25 anos.
Ferida
no rosto
Desde
que os pais optaram por não operar Mel pouca coisa mudou. Embora o tumor tenha
crescido ainda mais, eles garantem que a filha não sente dores, não toma
remédios e está sempre brincando. “Ela é cheia de vida”, garante a mãe.
Segundo
os pais, as maiores dificuldades de Mel é uma ferida que apareceu no rosto
dela, depois que um vasinho estourou e a pele não conseguiu conter e a gengiva
que tem sido forçada ainda mais para dentro, por causa do tumor. Essas
complicações fizeram a família repensar a cirurgia.
“Minha
filha está morrendo. Então agora eu quero tentar a operação. Ela está ruim
agora, antes ela não estava assim. Ela está sofrendo agora, está difícil agora.
Se, Deus o livre, ela falecer, eu posso dizer que eu operei quando ela já
estava ruim, que ela viveu bastante. Ela viveu um ano e meio depois desse
diagnóstico e com qualidade de vida, brincando. Um ano e meio para uma criança
é muita coisa”, lamenta Caroline.
Tratamento
nos Estados Unidos
Com
a repercussão do caso, os pais conseguiram apoio e passaram em um oncologista
especializado em pescoço e cabeça. “Ele disse que se nós tivermos condições
para irmos para os Estados Unidos, que ele daria a carta para o hospital
receber o caso. Ele explicou que lá eles têm condições de fazer a reconstrução
de face e que ela voltaria a falar, comer. Mas que é um tratamento demorado,
que seriam muitas cirurgias”, explica a mãe.
O
médico indicou três hospitais americanos que teriam estrutura para receber o
caso de Melyssa. Um fica no Texas, outro em Nova York e o terceiro na
Philadelphia. Para conseguirem o atendimento, os pais pretendem entrar com uma
liminar para pedir que o governo brasileiro custeie os gastos do tratamento.
Até
lá, a família aceita doações. Uma prima, Aline, fez uma vaquinha online e
conseguiu arrecadar R$ 11.192 até a tarde desta quinta-feira (10). “Nós tiramos
do ar, porque muitas pessoas acharam que era mentira, acharam que o caso dela
não fosse verdade. Mas é verdade e a gente precisa de ajuda.”
“Se
deixar, a gente chora o dia inteiro. Ouvir tudo o que os médicos dizem é muito
triste. A gente ajoelha, chora, ora e busca apoio em Deus. A cada dia deus me
dá forças para aguentar mais um dia. A lágrima está sempre no olho, mas tem que
ser forte, e dar valor às coisas pequenas. O peso está sempre nas costas, mas a
gente vê um sorriso no rosto dela e melhora nosso dia”, conta Manassés.
Para
que a viagem aos Estados Unidos seja possível, muita gente tem oferecido apoio.
Segundo a família, algumas pessoas garantiram ajudar com o passaporte,
passagens e o visto.
“A
fé e a esperança que Deus está nos dando é o que está nos movendo. Até três
meses atrás, nós não tínhamos nem esperança. De acordo com a medicina, já era
para ela ter falecido. Na nossa oração é que se for para ela ir para os Estados
Unidos, que Deus abra os caminhos, porque condição nós não temos”, afirma
Caroline.
G1
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