Reforma da Previdência vai dificultar acesso à aposentadoria, diz Dieese.
O Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou nesta
sexta-feira (20) nota técnica em que afirma que a reforma da previdência social
vai restringir o direito à aposentadoria. “O que esse projeto vai fazer é
estender, na verdade, sob a capa de igualdade de tratamento ao impor idade
mínima e ampliar o tempo de contribuição, é condenar a maior parte dos
trabalhadores brasileiros a não se aposentar mais”, disse a economista do
departamento, Patrícia Pelatieri, após participar de uma reunião com líderes de
centrais sindicais.
Na avaliação da
economista, um dos principais problemas do Projeto de Emenda Constitucional
(PEC) é acabar com parte das diferenciações previstas nas regras atuais, por
sexo e ocupação. “Sob a aparente uniformidade que dá para todos os
trabalhadores, na verdade, ela aprofunda muitas desigualdades”, destacou.
O estudo do Dieese foi
feito a partir da comparação das regras existentes e as propostas de mudança,
detalhando os impactos de cada medida. “Para garantir o valor integral do
benefício, a pessoa trabalhadora teria que contribuir por 49 anos, tempo que
demonstra a utopia que será o desejo de se aposentar com valor integral, mesmo
que calculado com base em toda a trajetória contributiva”, diz a nota técnica
sobre o aumento do tempo de contribuição.
A economista ressaltou que
o mercado de trabalho brasileiro é “extremamente desigual”, o que dificulta que
os trabalhadores consigam contribuir ininterruptamente para atingir novas
exigências. “Essa PEC que está sendo apresentada trata de uma transformação
profunda nas regras existentes de cobertura previdenciária no Brasil”,
acrescentou.
Pelas regras propostas, o
trabalhador precisa atingir a idade mínima de 65 anos e pelo menos 25 anos de
contribuição para poder se aposentar. Neste caso, ele receberá 76% do valor da
aposentadoria - que corresponderá a 51% da média dos salários de contribuição,
acrescidos de um ponto percentual desta média para cada ano de contribuição. A
cada ano que contribuir a mais o trabalhador terá direito a um ponto
percentual. Desta forma, para receber a aposentadoria integral (100% do valor),
o trabalhador precisará contribuir por 49 anos, a soma dos 25 anos obrigatórios
e 24 anos a mais.
Mobilização
As centrais sindicais
preparam uma mobilização conjunta para negociar a reforma. “As seis centrais
sindicais decidiram fazer um calendário de mobilizações, porque a reforma da
Previdência já está no Congresso Nacional, vai ser debatida e vai ter um
resultado. Então, nós achamos que para ter negociações tem que ter pressão para
que possamos modificar e trazer o que interessa para os trabalhadores”, disse o
secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.
Uma das demandas é que,
além de um ajuste mais brando sobre o tempo de contribuição e idades mínimas,
seja feita uma regra de transição gradativa para quem já está no mercado de
trabalho. “Tem que ter uma proporcionalidade para o tempo de trabalho que já
foi exercido, que a regra de transição seja mais justa”, destacou Juruna.
Conforme a proposta do
governo, haverá uma regra de transição para quem está perto da aposentadoria.
Homens com 50 anos de idade ou mais e mulheres com 45 anos de idade ou mais
poderão aposentar-se com regras diferenciadas. A regra de transição só vale
para o tempo de aposentadoria, já para o cálculo do benefício valerá a nova
regra proposta. Trabalhadores nessa situação deverão cumprir um período
adicional de contribuição, uma espécie de "pedágio", equivalente a
50% do tempo que faltaria para atingir o tempo de contribuição exigido.
O governo argumenta que a
reforma é necessária por causa do envelhecimento da população e o aumento das
despesas da União com o pagamento de aposentadorias e que faz parte do pacote
de medidas do ajuste fiscal da economia.
Correio
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