RN: Pastoral Carcerária defende construção de unidades pequenas e de baixo custo.
Diante da crise
penitenciária enfrentada pelo Rio Grande do Norte, a coordenadora da Pastoral
Carcerária da Arquidiocese de Natal, Guiomar Veras, defende uma medida
alternativa com base na construção de unidades prisionais pequenas e de baixo
custo, sob a metodologia da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados
(Apac). A Pastoral Carcerária é considerada referência na área de direitos
humanos no Rio Grande do Norte.
“Enquanto o sistema
prisional comum enfraquece esses vínculos, na Apac a família é copartícipe
desse processo. A aproximação é incentivada porque é também para o seio da
família que ele vai retornar”, defende. “São várias mães [com filhos no
presídio comum] em estado depressivo porque não têm condições psicológicas de
visitar o filho, se sentem culpadas por isso e também por causa da própria
prisão. Lá [na Apac], a família encontra o filho limpo, trabalhando, estudando,
em ambiente limpo. E os presos têm a autoestima trabalhada, porque começam a
descontruir essa imagem de se ver como bandido. Eles passam a se ver como
trabalhadores, com novas perspectivas”, disse a coordenadora, em entrevista à
Agência Brasil. Ela falou sobre as deficiências no sistema prisional do estado,
cuja última crise iniciada no dia 14 de janeiro, na penitenciária de Alcaçuz,
deixou um saldo de pelo menos 26 mortos.
Guimar cita inúmeras
vantagens que atribui à Apac. “É de baixo custo em relação ao modelo
convencional, tem como um dos princípios a participação da sociedade, apresenta
índice de reincidência bem mais baixo, tem índice zero de fuga praticamente,
principalmente considerando que não tem o aparato de segurança comum, apresenta
índice zero de rebelião e homicídio”. De acordo com a coordenadora, o modelo
não substituiria o presídio comum, mas seria uma alternativa para acabar com a
superlotação.
A Apac é uma entidade
civil de direito privado sem fins lucrativos, que começou a trabalhar com
presos em 1972, em São José dos Campos (SP). Desde então levou o método para
vários estados e para o exterior. No Brasil, a maior referência é Minas Gerais,
com mais de 30 unidades e mais de 2 mil presos atendidos, segundo dados
divulgados pelos próprios criadores.
O modelo aposta na
municipalização da pena, levando pequenas unidades – com no máximo 200 vagas –
a cidades do interior que são corresponsáveis pelo financiamento do projeto. A
metodologia se concentra em 12 princípios, dos quais alguns religiosos, já que
a Apac é uma organização cristã. A maioria dos pontos, no entanto, é ligada ao
desenvolvimento dos internos para garantir uma ressocialização baseada no afeto
e na vida produtiva.
A obrigatoriedade do
trabalho e do estudo está entre os princípios, assim como a ausência de agentes
penitenciários (os presos são responsáveis pelas chaves das celas), o
atendimento psicossocial, as instalações humanizadas, a aproximação com a
sociedade por meio do trabalho voluntário e o incentivo aos laços familiares.
Agência Brasil
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