Relator da reforma eleitoral defende modelo de transição para eleições 2018.
O
relator da proposta de reforma política na Câmara dos Deputados, Vicente
Cândido (PT-SP), afirmou nesta terça-feira (21) que defenderá em seu relatório
o sistema de voto em lista fechada e o financiamento público para as eleições
de 2018. O deputado propõe, no entanto, que esse modelo seja de transição e
vigore apenas até as eleições de 2022.
Pela
proposta do relator, a partir de 2026, as eleições poderiam ocorrer de acordo
com o sistema distrital misto, como o que é adotado na Alemanha. Como o modelo
alemão é considerado complexo, por dividir o voto em distritos e listas
fechadas, Vicente Cândido disse que é preciso mais tempo para ser implantado no
Brasil, de forma a se adaptar à realidade do país.
“Não
tem um sistema perfeito. Nós vamos escolher, talvez, aquele mais adequado para
este momento, com o roteiro de que podemos adotar outro sistema brevemente.
Estou propondo a adoção da lista fechada para 2018, 20 e 22", disse o
relator. A partir de 2026, pode-se experimentar aqui o sistema alemão adaptado
às condições brasileiras, acrescentou o deputado, que presidiu hoje (21) um
seminário internacional na Comissão Especial da Reforma Política na Câmara, com
a presença de especialistas e parlamentares da Alemanha, França, Bélgica, de
Portugal, da Espanha e do México.
O relator
disse que as críticas ao sistema de lista fechada são naturais e admitiu que o
modelo diminui a possibilidade de renovação dos parlamentares no Congresso.
Contudo, ele argumentou que, apesar das limitações, a lista fechada é um
sistema melhor que o atual, principalmente no que diz respeito à forma de
financiamento. “Vamos ter que encarar o financiamento público de campanha, é a
maneira mais barata. Como o dinheiro que você faria uma campanha no estado de
São Paulo para um deputado, você faria para a chapa inteira, então isso muda
significativamente o custo de campanha", afirmou.
Vicente
Cândido destacou que os dados consolidados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
referentes às eleições de 2014 mostram que as campanhas de deputados e
senadores foram mais caras que as de presidentes e governadores. "Isso não
existe no mundo e, para viabilizar isso dentro do orçamento público, temos que
derrubar radicalmente o custo da campanha. A lista fechada é o mais recomendado
para este momento.”
O
relator acredita que, encerrada a fase de debates, a proposta de reforma será
votada pela comissão especial em abril, passará pelo plenário da Câmara em maio
e em junho já estará no Senado.
Vicente
disse que colocará em seu relatório a proposta de que o financiamento de
campanha seja dividido entre recursos públicos (70%) e contribuição de
eleitores (30%). Para as doações privadas, ele estabelecerá o valor equivalente
ao salário mínimo como teto, além de restrição ao autofinanciamento para evitar
vantagem dos candidatos ricos.
Lista flexível
O
deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), no entanto, criticou a adoção da lista
fechada, principalmente, em um prazo curto de seis meses. Para Alencar, a forma
rápida como o processo está tramitando, “soa” como um “abrigo para caciques
políticos” investigados por envolvimento em casos de corrupção.
Alencar
defende a adoção de uma lista flexível para permitir participação dos eleitores
na definição dos candidatos. “A ideia de uma lista que reforce o partido é boa,
entretanto – é fundamental que a população possa interferir nisso. Na chamada
lista flexível, você faz a sua opção pelo partido de sua preferência, de acordo
com seu programa e doutrina, mas o eleitor e a eleitora também escolhem esses
nomes.”
O
deputado acredita que neste momento seria mais prudente e urgente alterar
apenas a forma de financiamento eleitoral. Ele defende mudanças mais profundas
no sistema político-eleitoral somente depois da formação de uma assembleia
constituinte.
“O
ideal é não ter essa pressa toda, não. Só se for para consolidar o fim do
financiamento empresarial e manter ou reforçar um limite de gastos que continua
muito abusivo. Para o resto, o ideal é uma assembleia constituinte exclusiva,
eleita com esse fim, para debater a partir de várias propostas apresentadas à
sociedade”, disse Chico Alencar.
Modelo possível
O
ministro do TSE Henrique Neves, que também participou do seminário, disse que
não há um modelo perfeito, mas é importante que seja aceito e compreendido pela
população. “O que tem se buscar é um modelo cujos benefícios sejam maiores que
as desvantagens.”
Neves
considera as modificações no sistema eleitoral muito complexas para serem
decididas em plebiscito e diz que é necessário ficar mais atento aos detalhes
dos modelos propostos do que às definições gerais e adaptar as propostas à
realidade nacional.
Na
opinião do ministro, algumas mudanças podem ser feitas no âmbito da legislação
eleitoral, que são mais simples que mudanças na Constituição, o que garantiria
o cumprimento do prazo de alterações antes das eleições de 2018. Para Neves, a
forma de financiamento só deve ser escolhida depois da definição do modelo
eleitoral: “o financiamento deve ser o último debate".
Agência
Brasil
Nenhum comentário