O fenômeno virtual da “baleia azul”: o jogo que induz o adolescente a comportamentos autodestrutivos. O que precisamos saber para combater?
Daniel Macedo |
As dependências tecnológicas
têm trazido muitos danos à saúde mental do adolescente, bem como no seu
desenvolvimento sociaoafetivo e aprendizagem. A virtualização das relações
sociais e o uso libertino das redes sociais ou mesmo o uso compulsivo de jogos
cibernéticos já são um dos principais responsáveis por esse fenômeno.
Atualmente, ainda não há
estatísticas oficiais no Brasil que revelem os índices reais de tantos casos de
automutilação na adolescência, principalmente, provenientes do uso do jogo “Baleia
Azul”. No entanto, já se tem notícias que esse fenômeno se encontra presente em
todos os estados brasileiros, chamando a atenção das autoridades judiciais,
profissionais da área da saúde e educação, uma vez que os casos têm gerado
significativa implicação à vida da vítima em vários aspectos (sociais,
corporais, comportamentais...).
Para o acesso à vítima, jogo
segue uma lógica cibernética. É sabido que, por meio do endereço de IP [1], o
curador (que geralmente é um hacker), consegue ter acesso às informações que a
vítima tem registrada nas suas redes sociais (YouTuber, Instagram, Twitter,
WatszApp, Faceddook...), inclusive seus dados pessoais (nome completo, data de
aniversário, endereço, fotos e assim por diante) cujos registros são utilizados
para convencer e indução o adolescente, o qual fica bastante perplexo e com
muito medo e receio. Assim, por mais que a vítima tente recusar sua
participação no jogo, ela não consegue, pois, o suposto “curador” acaba
ameaçando-a psicologicamente para que cumpra progressivamente os 50 desafios ou
tarefas que a “baleia” determina, até o último desafio: o suicídio. Contudo, existem inúmeras maneiras do
adolescente se tornar vítima do jogo. Os relatos são variados. A maioria dos
iniciantes do jogo afirma que o conheceu por mera curiosidade, devido à
propagação em geral da mídia. Outros se tornaram usuários por serem
influenciados por colegas de escola e
assim por diante. Isto revela a que há inúmeros fatores pessoais que contribuem
como vias de acesso do público adolescente ao jogo.
Nesse contexto, é importante
salientar que inúmeras são as causas psicológicas e comportamentais que estão
levando esses jovens a se aventurar nesse game. De fato, a falta de maturidade
do próprio adolescente; a vivência de conflitos emocionais e interpessoais;
situações de carência socioafetiva; fatores psicopatológicos (como ansiedade,
depressão...); sentimentos de inutilidade ou autoavaliação negativa; isolamento
social e tantos outros aspectos experimentados pelas vítimas reforçam ainda
mais a sua vulnerabilidade para o uso do referido jogo, tornando-se assim
“presas fáceis” sem discernirem sobre os danos que podem sofrer.
Reforça-se que na maioria
dos casos, o adolescente se encontra num contexto familiar bastante negligente
e inóspito, desprovido de vínculos afetivos e onde os pais não dialogam e nem
se importam em estabelecer diariamente contatos amorosos com ela. Para suprir
as ausências, ou mesmo não suportarem os próprios conflitos interpessoais,
optam em disponibilizar por muito tempo o uso livre da Internet, sem que haja
ao mesmo um monitoramento ou limite do que os filhos realmente estão acessando.
Assim, a falta de regras e
carência afetiva, também se destaca como umas das principais causas de tantos
transtornos e repercussões psicológicas geradas no comportamento desse público,
que, geralmente, encontra-se numa situação de fragilidade e instabilidade
emocional. E isso basta para então se explicar o porquê de quando um filho não tem a necessária atenção das
figuras parentais e, tampouco, é acolhido num meio familiar amoroso e
socialmente saudável, acaba surgindo inúmeras razões para que ele desenvolva
atitudes ou vícios prejudiciais à sua saúde mental, buscando transferir os seus
“vazios afetivos e existenciais” para outros lugares, que, ilusoriamente,
encontram preencham tais lacunas, mesmo
que esses lugares lhes custem à vida.
Diante disso, estudiosos do
fenômeno do jogo da “Baleia Azul” já alertam para os educadores reforçarem a
ideia de que é possível conscientizar o adolescente para não levarem a sério
esse tipo de jogo e orientá-lo a evitar a sua exposição diante desse fenômeno
virtual. Também é muito importante que os pais monitorem e orientem os filhos
quanto ao uso responsável das redes sociais, em especial do Facebook e
WhatsApp, onde o jogo “Baleia Azul” está sendo veiculado.
O jogo denuncia a
fragilidade de uma geração que não está sendo preparada ou educada a dizer
“não” à perversidade do terrorismo virtual que há tempos tem lhe alienado na
ideologia genocida que vem se perpetuando pelo mundo a fora.
De fato, cabe a cada um de
nós, informar, educar e esclarecer cada adolescente acerca dos perigos que esse
jogo apresenta, conduzindo-os para atividades que possam realmente
potencializar suas qualidades pessoais, criatividade e amor pela vida.
* Daniel
Macedo é natural da cidade de Picuí-PB. É Psicoterapeuta e Psicólogo Clínico
CRP 13/7358). Mestre em Psicanálise aplicada à Educação e à Saúde. Especialista
em europsicopedagogia; Saúde Mental; Terapia Cognitivo-Comportamental e
Psicanálise Clínica. Atualmente, exerce suas funções ocupacionais nos campos da
Saúde e Educação.
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