Parlamentares acusados de caixa dois estudam saída para evitar condenação.
BRASÍLIA — Após virem a
público os depoimentos dos delatores da Odebrecht, parlamentares investigados
apenas por possível caixa dois eleitoral começaram a desenvolver a saída
jurídica para não serem condenados na Lava-Jato. Caso a Procuradoria-Geral da
república (PGR) de fato ofereça a denúncia contra eles, a ideia é negociar uma
“suspensão condicional do processo”. Trata-se do mecanismo que liberou o ex-dirigente
do PT Silvio Pereira de condenação no mensalão. Advogados confirmam que essa
hipótese é aplicável aos casos que envolvam exclusivamente caixa dois e que são
enquadrados como crimes eleitorais de falsidade ideológica. São 30 políticos
nesta situação na delação da Odebrecht.
A tentativa de parlamentares
de estabelecer um amplo acordo que amenize a situação tem esbarrado em
dificuldades de ordem prática, como a ausência de um plano concreto e a
resistência em enfrentar o tema diante de uma reação negativa da sociedade.
Neste contexto, envolvidos na Lava-Jato passaram a apostar em linhas de defesa
individuais.
— Para o caixa dois, já
existe saída na legislação. Não gera condenação, não acaba com a primariedade,
evita o processo e não é tida como confissão. É uma espécie de acordo para
evitar o processo. Estamos naqueles momentos de cada um por si — pondera um
senador.
De acordo com advogados, a
suspensão condicional do processo, no entanto, só pode ser negociada a partir
do oferecimento da denúncia pela PGR, o que ainda não ocorreu.
— A possibilidade de
suspensão condicional do processo é admissível para crimes que tenham pena
mínima de um ano ou menos. É exatamente essa a situação que se verifica em
relação ao crime previsto no artigo 350 do código eleitoral (caixa dois) —
explica o criminalista Conrado Gontijo.
SÍLVIO
PEREIRA FOI BENEFICIADO
Em dezembro de 2012, o
Supremo Tribunal Federal declarou extinta a punibilidade do ex-secretário-geral
do PT Sílvio Pereira, denunciado por formação de quadrilha. O advogado de
Sílvio Pereira, Gustavo Badaró, também defende que este tipo de acordo seria
viável nos casos de acusação de caixa dois:
— Como o caixa dois acaba
sendo falsidade ideológica eleitoral, em tese, é possível aplicar. Digo em
tese, porque há outros requisitos além da pena. Por exemplo, o investigado não
pode ser reincidente ou estar sendo processada naquele momento por outro fato.
E além disso, a lei estabelece alguns requisitos subjetivos que dão margem para
aplicação discricionária do juiz.
A tese vai de encontro ao
que alguns dos políticos implicados têm defendido. Há uma percepção geral de
que dificilmente o Congresso terá força para enfrentar a opinião pública e
aprovar projetos que favoreçam os investigados. O presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), que está entre os parlamentares investigados, é cético sobre uma
solução que venha do Congresso. Para Maia, cada político apostará em sua
própria defesa:
— Acredito que cada um vai
fazer sua defesa individualmente — afirmou.
JUCÁ:
CONTRA PARALISIA
O senador Cássio Cunha
Lima (PSDB-PB), investigado por caixa dois, também vê obstáculos em um
movimento que parta do Congresso. Para Cássio, qualquer iniciativa neste
sentido pode ser interpretada como uma reação contra a Lava-Jato, o que vai
gerar forte repercussão.
— A única saída é uma
investigação ampla, clara, transparente e rápida. Não creio que haja espaço político,
muito menos tolerância da sociedade para isso — diz.
Para o líder do governo no
Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o Congresso deve focar nas reformas para
recuperar a economia e também em uma reforma política que acompanhe o fim das
doações empresariais. Projetos como o de anistia ao caixa dois ou sobre abuso
de autoridade podem contaminar esta pauta prioritária.
— Temos que ter dois
movimentos: apressar as votações das reformas da Previdência, Trabalhista e
fazer uma reforma política mais contundente, com um fundo constitucional para
financiar as campanhas. Não está sendo feita uma discussão de posturas
individuais, mas de um modelo que mandava pedir dinheiro de empresas para fazer
campanha — defende.
O Globo
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