Chacina no Pará deixa 10 trabalhadores rurais mortos.
Dez posseiros – nove homens
e uma mulher – foram assassinados na manhã desta quarta-feira (24) durante uma
ação policial de reintegração de posse em um acampamento na Fazenda Santa
Lúcia, no município de Pau d’Arco, no Pará, segundo informações da Comissão Pastoral
da Terra (CPT). A reintegração foi realizada pelas Polícias Civil e Militar do
estado.
“O magistrado [juiz da Vara
Agrária de Redenção] determinou que essa ordem [de reintegração] fosse cumprida
por policiais militares e civis. O juiz não se atentou para as orientações que
constam na Cartilha da Ouvidoria Agrária Nacional e nas diretrizes do Tribunal
de Justiça que determinam que esse tipo de ação seja realizada por Batalhão da
Polícia Militar especializado nestas situações”, disse a CPT.
Os corpos das vítimas foram
levados inicialmente para o necrotério do Hospital Municipal de Redenção e
depois serão transferidos para o Instituto Médico Legal (IML) do município de
Marabá.
A coordenadora da Federação
dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado do Pará (Fetraf), Viviane
Pereira, disse, em nota, que o número de mortos em Pau D'Arco pode aumentar,
pois não há precisão sobre a quantidade de feridos e o estado de saúde dos
envolvidos. Segundo a Fetraf, a chacina na Fazenda Santa Lúcia só perde em
número de mortos para o episódio que ficou conhecido como Massacre de Eldorado
de Carajás, em 17 de abril de 1996, quando 19 trabalhadores sem terra foram assassinados.
A Procuradoria Federal dos
Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, informou que, assim
que tomou conhecimento da chacina, entrou em contato com o procurador da
República na localidade, Igor Spíndola, e com a promotora agrária do estado,
Eliane Moreira, para auxiliar a articulação de ações.
A procuradora federal dos Direitos
do Cidadão, Deborah Duprat, informou que irá à região junto com o presidente do
Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Darci Frigo; o presidente da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputado
Paulão (PT-AL); e o procurador-geral de Justiça do Estado do Pará, Gilberto
Martins.
Governo do Pará
Procurada pela Agência
Brasil, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará
(Segup) respondeu, em nota, que a operação cumpriu 16 mandados judiciais (prisão
preventiva, temporária e buscas e apreensões) e que “os policiais foram
recebidos a tiros por um grupo fortemente armado e que já vinha sendo
investigado por diversas ocorrências”. Segundo a secretaria, houve confronto, e
as 10 pessoas acabaram mortas. O órgão não informou os nomes das vítimas.
O secretário adjunto de
inteligência da Segup, Rogério Moraes, alegou que a polícia havia recebido
denúncia de que, no dia 23 de abril, um funcionário da fazenda e familiares do
proprietário teriam sido vítimas de “tentativa de homicídio em ações atribuídas
ao referido grupo, conforme consta em investigação”.
“Os mandados de prisão foram
emitidos justamente por conta de investigação sobre homicídio que vitimou um
segurança da empresa Elmo, que fazia a segurança da propriedade, ocorrido no
dia 30 de abril”, acrescentou Moraes.
O inquérito sobre a
ocorrência de hoje será presidido pelo Departamento de Investigações Especiais
da Polícia Civil. O governo estadual enviou para o município de Pau d’Arco uma
equipe especial para intensificar as investigações e reforçar a segurança na
região da Fazenda Santa Lúcia, segundo a secretaria.
Segundo o delegado João
Bosco, diretor de Polícia do Interior, foram apreendidas onze armas de grosso
calibre no local, incluindo um fuzil 762 e uma pistola Glock modelo G25.
Violência
agrária
De acordo com a CPT, em 2016
foram registrados 61 assassinatos em conflitos no campo, o maior número desde o
início do monitoramento da entidade, em 2003. Em 2017, o total de mortes no
campo já chega a 26, sem contar os casos desta quarta.
Em abril, nove trabalhadores
rurais foram brutalmente assassinados por um grupo de homens encapuzados em uma
chacina em Colniza, em Mato Grosso.
Agência Brasil
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