"Eu não vou renunciar. Se quiserem, me derrubem", diz Temer.
Na primeira entrevista
concedida após a divulgação da delação da JBS, o presidente Michel Temer disse
que não renunciará, pois isso seria uma admissão de culpa e que não sabia que o
empresário Joesley Batista era alvo de investigações quando o recebeu para o
encontro em que acabaria gravado.
“Eu não vou renunciar. Se
quiserem, me derrubem, porque, se eu renuncio, é uma declaração de culpa”,
declarou o presidente em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo publicada na
edição desta segunda-feira.
Temer disse que tem
demonstrado com “relativo sucesso” que o empresário induziu uma conversa e
novamente negou ter avalizado qualquer pagamento ao ex-deputado Eduardo Cunha.
“[…]ontem mesmo o Eduardo
Cunha lançou uma carta em que diz que jamais pediu [dinheiro] a ele [Joesley] e
muito menos a mim. E até o contrário. Na verdade, ele me contestou algumas
vezes. Como eu poderia comprar o silêncio, se naquele processo que ele sofre em
Curitiba, fez 42 perguntas, 21 tentando me incriminar?”, indagou o presidente.
Questionado sobre se não
teria cometido crime de prevaricação ao ouvir Joesley falar sobre a compra de
juízes e um procurador, Temer disse que não e chamou o empresário de
“falastrão”.
“Conheço o Joesley de antes
desse episódio. Sei que ele é um falastrão, uma pessoa que se jacta de
eventuais influências. E logo depois ele diz que estava mentindo […] Eu ouço
muita gente, e muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta.
Confesso que não levei essa bobagem em conta. O objetivo central da conversa
não era esse. Ele foi levando a conversa para um ponto, as minhas respostas
eram monossilábicas…”, respondeu.
Sobre o ex-assessor Rodrigo
Rocha Loures, filmado correndo com uma mala de dinheiro, Temer diz que mantinha
com ele apenas “relação institucional” e que ele “errou, evidentemente”. Questionado, no entanto, se ele se sentia
traído pelo deputado, Temer respondeu:
“Não vou dizer isso, porque
ele é um homem, coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole. Eu o conheci
como deputado, depois foi para o meu gabinete na Vice-Presidência, depois me
acompanhou na Presidência, mas um homem de muito boa índole”.
Temer também foi questionado
sobre que culpa teria nesse episódio. Ele disse: “Ingenuidade. Fui ingênuo ao
receber uma pessoa naquele momento”.
Na entrevista, Temer afirmou
ainda ter convicção de que mostrará sua força política ao longo das próximas
semanas, com a votação de matérias importantes e que acredita que a fidelidade
do PSDB vai até o dia 31/12/2018, quando termina seu mandato.
Sobre o julgamento da chapa
Dilma-Temer, que será retomado no próximo dia 6 de junho, Temer disse não
acreditar que o contexto de crise influenciará nas decisões do ministro.
Questionado sobre o fato de
a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ter pedido seu impeachment, Temer disse
que “lamenta pelos colegas advogados”, mas “reconhece que é legítimo”.
“Eu já fui muito saudado,
recebi homenagens da OAB. Tem uma certa surpresa minha, porque eles que me
deram espada de ouro, aqueles títulos fundamentais da ordem, agora se comportam
dessa maneira. Mas reconheço que é legítimo”.
O presidente disse ainda que
não acha que será preciso reaglutinar a base pois os partidos vêm dizer que
estão comigo” e que precisa verificar com o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, sobre o quanto a crise vai atrasar a retomada da economia.
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