Protesto em Brasília termina com 49 feridos, 7 detidos e Exército nas ruas.
O protesto organizado por
centrais sindicais e movimentos sociais contra as reformas previdenciária e
trabalhista, pela saída do presidente Michel Temer e por eleições diretas
transformou a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em um palco de batalha
com a Polícia Militar e a Força Nacional nesta quarta (24).
Seis ministérios depredados,
um incendiado, 49 atendimentos de urgência -entre eles o de um homem baleado e
de um estudante de Santa Catarina que teve a mão decepada por um rojão- são
alguns dos números do ato, que reuniu 35 mil pessoas, segundo a PM, e 150 mil,
de acordo com organizadores.
Por decreto, válido até o
próximo dia 31, Temer convocou as Forças Armadas para conter manifestações de
rua. À noite, os prédios dos ministérios já passaram a ter proteção de homens
do Exército.
Com o prédio do Ministério
da Agricultura em chamas, devido a um incêndio causado por manifestantes, PMs
que não dispunham de armamento não letal sacaram suas armas e dispararam, para
o alto e em direção à multidão, que avançava sobre a polícia.
Segundo a Secretaria de
Segurança Pública do Distrito Federal (DF), sete pessoas foram detidas sob
suspeita de crimes como lesão corporal, dano ao patrimônio público e porte de
arma branca.
Até as 20h, a secretaria não
havia informado a identidade do homem baleado nem quem disparou o tiro que o
acertou.
A manifestação dos
sindicalistas e grupos de esquerda contra a agenda reformista estava marcada
desde antes de vir a público a investigação contra Temer, resultante da delação
da JBS. As suspeitas de corrupção e de obstrução da Lava Jato, divulgadas na
semana passada, engrossaram o protesto.
"O ato foi maior do que
o esperado, e 150 mil em Brasília são milhões representados pelo Brasil",
disse Guilherme Boulos, um dos coordenadores do MTST (Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto).
Membros do governo também
avaliaram que o volume de pessoas foi significativo.
Autoridades calcularam que
entre 500 e 600 ônibus de outras cidades chegaram a Brasília. A reportagem
encontrou manifestantes de São Paulo, Rio, Espírito Santo, Minas, Pará, Rio
Grande do Norte, Paraíba e Rio Grande do Sul.
"É importante lutar por
diretas, principalmente porque esse governo quer impor reformas sem consultar o
povo e sem ter uma base de votos", disse o agente comunitário de saúde
Luciclaudio Bezerra, 39. Ele enfrentou viagem de cerca de 39 horas de ônibus de
Santa Cruz (RN) a Brasília para participar do ato.
Foram mais de quatro horas
seguidas de confronto ao longo do Eixo Monumental, onde ficam os ministérios. O
ponto mais crítico foi o gramado próximo ao Congresso.
Manifestantes armaram
barricadas com banheiros químicos e atiraram paus, pedras e fogos de artifício,
enquanto a polícia lançava bombas de gás, spray de pimenta e balas de borracha.
Havia sindicalistas, professores, estudantes e também pessoas mascaradas.
CONFRONTO
O conflito começou por volta
das 13h30, quando a manifestação se aproximava de um bloqueio policial a 500
metros do Congresso. Primeiro, chegaram sindicalistas de roupa laranja da Força
Sindical, que forçavam as grades e eram repelidos com spray.
Depois, uma multidão se
engajou na tentativa de invadir o Congresso. Dos carros de som, líderes pediam
calma, mas não eram ouvidos. "Companheiros mascarados, por favor, temos
mães aqui, vamos manter a calma", pediu a senadora Vanessa Grazziotin (PC
do B-AM).
Quando ficou claro que as
bombas não cessariam, líderes como Zé Maria (PSTU) disseram para os
manifestantes resistirem à ação da polícia.
Um técnico de som da equipe
da documentarista Petra Costa, que filmou os bastidores do impeachment de Dilma
Rousseff, foi ferido na perna esquerda por uma bala de borracha da PM.
Em meio à confusão,
participantes do ato começaram a recuar para o estádio Mané Garrincha, um dos pontos iniciais da marcha. Quem passava pela rua era atingido por bombas e
disparos -um homem ficou com uma bala de borracha alojada no pescoço.
Usuários de ônibus no
terminal rodoviário, a dois quilômetros do Congresso, sofreram com spray de
pimenta. Jornalistas de vários veículos ficaram no fogo cruzado.
Dois homens, de 18 e 35
anos, foram feridos no olho por tiros de bala de borracha e levados ao Hospital
de Base. Até a noite, não havia saído um balanço dos feridos.
Por volta das 18h, a
Esplanada dos Ministérios estava praticamente esvaziada pela polícia. Mais
cedo, o governo liberou os servidores para que abandonassem rapidamente os
prédios.
Folhapress
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