Senadoras almoçam no plenário para impedir votação da Reforma Trabalhista.
Tropa de choque: Gleisi,
Lídice, Vanessa, Fátima e Regina Sousa ocuparam a mesa.
A estratégia da oposição,
para impedir a votação da Reforma Trabalhista, no Senado, parece ter dado
certo. Depois de frustrar a tentativa do presidente da Casa, Eunício Oliveira
(PMDB-CE), de dar início à votação, um grupo de senadoras oposicionistas
decidiu não arredar o pé da mesa de trabalhos. Gleisi Hoffmann (PT-PR), Lídice
da Mata (PSB-BA), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Fátima Bezerra (PT-RN) e
Regina Sousa (PT-PI), inclusive, decidiram almoçar no plenário. Elas chegaram
cedo ao Legislativo, dispostas a impedir o início dos trabalhos. Por volta das
11h, aproveitando a ausência de Oliveira, ocuparam a mesa. Pelas regras,
qualquer parlamentar pode abrir os trabalhos, desde que haja quórum.
Os transtornos foram gerados
depois que Eunício Oliveira chegou à mesa e foi impedido de ocupar a
presidência dos trabalhos. Pouco mais de uma hora depois da abertura da sessão
extraordinária, o parlamentar suspendeu a sessão por tempo indeterminado. A
decisão foi tomada depois que a senadora Fátima Bezerra, que conduzia os
trabalhos, se negou a dar o assento da presidência. O senador mandou desligar
os microfones e apagar as luzes. Eunício Oliveira convocou uma reunião no
gabinete da Presidência com diversos senadores e líderes para tratar da
retomada da sessão de votação da reforma trabalhista. Ao deixar o plenário, o
presidente do Senado disse que a votação será retomada “quando a ditadura
permitir”.
O prédio do Senado está sob
a proteção da tropa de choque da Polícia Militar de Brasília e o acesso está
restrito a parlamentares, servidores e pessoas credenciadas. Sob protesto da
oposição, o acesso às galerias não foi liberado a visitantes. A versão final da
proposta foi colocada em votação após dois meses e meio do início da sua
tramitação no Senado. Para ser aprovado, o projeto precisa de maioria simples,
ou seja, metade mais um dos senadores presentes à sessão. O texto que tramita
no Senado prevê que as alterações entram em vigor 120 dias após a publicação da
lei no Diário Oficial da União. A expectativa é de que, se aprovada da forma
como está, as novas regras comecem a valer a partir de novembro.
Protestos
Assim que começou a sessão,
integrantes de Centrais Sindicais começaram a ocupar o gramado em frente ao
espelho d’água do Congresso em protesto contra a reforma trabalhista. Até o
fechamento desta reportagem, a manifestação seguia pacificamente. Ontem (10),
uma carta assinada por 14 entidades, dentre as quais Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados Brasil (OAB) e a Associação
Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), condenou o texto da
reforma trabalhista. No documento, as entidades pedem a rejeição do texto, que
classificam como retrocesso. “O texto está contaminado por inúmeras, evidentes
e irreparáveis inconstitucionalidades e retrocessos de toda espécie, formais e
materiais”, dizem as entidades.
Texto
A proposição a ser analisada
prevê, além da supremacia do negociado sobre o legislado, o fim da assistência
obrigatória do sindicato na extinção e na homologação do contrato de trabalho.
Além disso, extingue a contribuição sindical obrigatória de um dia de salário
dos trabalhadores. Há também mudanças nas férias, que poderão ser parceladas em
até três vezes no ano, e regras para o trabalho remoto, também conhecido como
home office. Para o patrão que não registrar o empregado, a multa foi elevada e
pode chegar a R$ 3 mil. Atualmente, a multa é de um salário-mínimo regional.
Para que a proposta não
tenha que voltar para análise pela Câmara dos Deputados, os senadores não podem
fazer nenhuma mudança de mérito no texto. Por isso, para acelerar a tramitação
no Senado, todas as emendas apresentadas nas comissões e em plenário foram
rejeitadas pelos relatores, Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Romero Jucá (PMDB-RR).
Em resposta aos pontos polêmicos da proposta, há um compromisso do presidente
Michel Temer de vetar seis pontos da reforma. A ideia é aperfeiçoar esses
pontos para que eles sejam reapresentados via medida provisória ou projeto de
lei.
Suetoni Souto Maior
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