Funaro diz ter repassado R$ 1 milhão para Cunha comprar votos pelo impeachment de Dilma.
Em um dos depoimentos de sua
delação premiada, Lúcio Funaro contou que repassou R$ 1 milhão para o
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) comprar votos de deputados no
processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo Funaro, apontado
como operador de políticos do PMDB em esquemas de corrupção, Cunha queria
assegurar o afastamento de Dilma.
O plenário da Câmara
autorizou a instauração do processo de impeachment em 17 de agosto de 2016, com
voto favorável de 367 deputados, entre eles o próprio Cunha, adversário da
ex-presidente. Era necessário o apoio de pelo menos 342 dos 513 que compõem a Câmara.
Em maio, o Senado confirmou a decisão e afastou Dilma, inicialmente, por 180
dias, até a conclusão do processo.
— Quando foi aprovar no
plenário, ele (Cunha) achava que já estava ganho, mas queria garantir de
qualquer jeito que ela seria afastada esses 180 dias — contou Funaro, relatando
que Cunha lhe mandou uma mensagem por meio de um aplicativo de celular:
— Ele me pergunta se eu
tinha disponibilidade de dinheiro, (para) que ele pudesse ter algum recurso
disponível para comprar algum voto ali favorável ao impeachment da Dilma. E eu
falei que ele podia contar com até R$ 1 milhão, e que eu liquidaria isso para
ele em duas semanas, no máximo.
Questionado se Cunha teria
dito expressamente que o dinheiro seria usado para comprar votos, Funaro
confirmou:
— Comprar votos. Exatamente.
Indagado no depoimento se
Cunha mencionou quem seriam esses deputados, Funaro deu apenas um nome: Aníbal
Gomes (PMDB-CE). Ele, no entanto, faltou à votação. Como eram necessários pelo
menos 342 votos para dar continuidade ao impeachment, qualquer ausência contava
a favor de Dilma.
— Olha, tem um caso até
hilário, mas um dos deputados que ele comprou e pagou antecipado, pelo que ele
me disse, foi Aníbal Gomes. Disse que tinha pago R$ 200 mil para o Aníbal Gomes
votar favorável ao impeachment da Dilma. O que aconteceu? Aníbal Gomes não veio
no dia da votação. Faltou. E isso aí era a mesma coisa de votar a favor da
Dilma. Aí ele ficou louco.
Aníbal era ligado ao senador
Renan Calheiros (PMDB-AL), com quem o ex-presidente da Câmara media forças
dentro do PMDB. Assim, Cunha queria o voto dele como uma demonstração de força.
— Na verdade, o que ele
tentou, na minha visão, vendo de fora, com essa jogada? Ele falou: eu vou
aproximar um cara do Renan para o meu lado, vou tirar o poder do Renan sobre
esse cara e aí vou cooptar esse cara para mim. Para ele era importante provar:
'tá vendo, até no pessoal do Renan eu tô mandando também'. Porque eles tinham
uma disputa muito forte os dois, entendeu? Então era um deputado assim que, se
cooptado por ele, por esse valor, ele ia achar irrisório. Mas o cara acabou que
deu a volta nele. Não veio para o dia da votação — contou Funaro.
Relato de compra de votos no
processo do impeachment já tinha aparecido na delação do empresário Joesley
Batista. Mas, nesse caso, teria sido para o lado contrário. Joesley disse que
negociou o pagamento de R$ 15 milhões para serem distribuídos a cinco
deputados. Em troca do dinheiro, eles votariam contra o impeachment de Dilma no
plenário da Câmara.
Os vídeos da delação de
Funaro foram enviados à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara,
onde está o processo em que o presidente Michel Temer foi denunciado por
organização criminosa e obstrução de Justiça. Isso porque, em razão do cargo
que ocupa, a denúncia do Ministério Público (MP) só pode ter prosseguimento se
a Câmara der seu aval.
No mesmo inquérito, foram
denunciados outros políticos do PMDB, como o próprio Cunha, os ministros Eliseu
Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretária-geral da Presidência da
República) e os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Alves.
O Globo
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