ESPERANÇA: 2018 pode ser o ano do fim da seca.
A estiagem que já dura mais
de 6 anos na Paraíba está com os dias contados. A informação é do PhD em
Meteorologia e pós-doutor em Hidrologia de Florestas, Luiz Carlos Baldicero
Molion. De acordo com o pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
os efeitos do fenômeno climático “La Ninã”, que corresponde ao resfriamento das
águas do Oceano Pacífico, favorecem chuvas acima da média, principalmente no
Litoral, Cariri e Sertão, até meados de 2019. Baseando sua previsão no método
de similaridade, o meteorologista diz que 2018 deverá apresentar chuvas acima
da média histórica, semelhante ao inverno ocorrido no ano de 2000.
Molion lembra ainda que,
faltando menos de 30 dias para 2018, o inverno previsto é baseado no método
conhecido como similaridade, ou seja, quando é realizada uma avaliação global
do clima para encontrar em anos passados características climáticas semelhantes
as que estamos vivenciando agora. Além disso, o fenômeno La Niña no Oceano
Pacífico, segundo o pesquisador, é sempre um bom sinal de inverno no Semiárido
brasileiro. No entanto, segundo esse mesmo método, o ano de 2019 não deve dar
sequência aos dias chuvosos em virtude de uma retomada do fenômeno El Niño.
“Quando temos um La Niña
forte, temos chuva no Nordeste. Esse fenômeno começou a se instalar no mês de
agosto deste ano. Os dados coletados nos últimos meses mostram um intenso
resfriamento das águas do Pacífico. Uma área de 40 milhões de km² de água fria
e com profundidade de até 200 metros, volume de água muito grande, ou seja, a
temperatura está fria e não vai mudar, o que nos garante um inverno bom pelo
menos para 2018”, explicou o meteorologista.
"Tivemos em 2015 e 2016
um El Niño muito forte, semelhante ao ocorrido em 1997 e 1998, quando
posteriormente as águas do Pacífico se esfriaram e deram origem ao “La Niña”,
aumentando a pluviometria até 2001. Usando o método da similaridade, previmos
que as águas também deveriam esfriar entre 2017 e 2019, que é o que está
acontecendo. Então 2018 será um ano de chuva e reabastecimento dos
reservatórios hídricos do Estado, semelhante ao ano 2000" - Luiz Carlos
Molion, PhD em Meteorologia da UFAL.
Estiagem gera impactos além
da falta de água
Luiz Carlos Molion afirma
que o Nordeste já passou por outras secas tão severas quanto a que estamos
vivenciando hoje, embora nenhuma tenha sido tão devastadora. “O problema é que
hoje temos um impacto social e econômico muito mais severo que há 20 anos, por
exemplo. Tivemos muitas outras estiagens piores que essa, como a de 1919, a da
década de 30, a de 1958 e 1959. Toda vez que ocorreu um El Niño forte no
passado, as secas foram intensas, mas só do ponto de vista de falta de
disponibilidade de recursos hídricos”, pontuou.
O meteorologista comenta que
as secas moderadas de hoje equivalem às secas mais severas de um século atrás.
“A população daquela época era bem menor, e as atividades econômicas existentes
eram apenas agricultura e pecuária de pequeno porte, ou seja, o impacto social
e econômico não era tão sentido quanto agora. Temos uma população muito maior,
o que também aumenta a demanda de água para consumo humano e animal”, explicou
Molion.
A Agência Executiva de Gestão
das Águas (Aesa) registra que 58 dos 127 reservatórios hídricos da Paraíba
estão em situação crítica, ou seja, com menos de 5% do seu volume total. A
reserva hídrica do Estado está com menos de 11% de sua capacidade.
Dos 223 municípios, pelo
menos 196 foram relacionados como afetados pelos efeitos da estiagem. A maior
parte do Estado (172 cidades) é abastecida atualmente pela Operação Carro Pipa
do Exército Brasileiro. E mesmo com a chegada das águas do Rio São Francisco, a
maioria dos municípios abastecidos pelo Açude Epitácio Pessoa (Boqueirão)
também foi incluída na lista de emergência.
“Já cheguei a passar mais de
10 dias sem água na torneira. O que ainda salva é um poço artesiano que temos
no bairro. Mesmo assim, se a água da Transposição não chegar logo ao Sertão,
pra liberarem pelo menos água de Coremas pra gente, não sei como vai ser,
porque o açude daqui mesmo faz anos que secou completamente”, disse a dentista
cirurgiã Gabriella Araújo, moradora da cidade de Santa Luzia, no Seridó
Ocidental, localizada 44 quilômetros de Patos, conhecida Capital do Sertão.
Jornal Correio
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