Ministro diz que PF instaurou 37 inquéritos para apurar 'apoio criminoso' de empresas à greve dos caminhoneiros.
'Identificamos com a maior
clareza movimento criminoso de parte dos senhores donos de grandes empresas',
declarou Jungmann. Segundo balanço, persistem 566 pontos de bloqueio em
rodovias.
O ministro da Segurança
Pública, Raul Jungmann, informou na noite deste sábado (26), em entrevista
coletiva junto com o ministro Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucional), que
a Polícia Federal instaurou 37 inquéritos em 25 estados para apurar prática de
locaute (paralisação por iniciativa ou com apoio das empresas) durante a greve
dos caminhoneiros.
Segundo Jungmann, houve
"apoio criminoso" de empresas ao movimento, que, afirmou, "irão
pagar por isso". Ele disse que os identificados como responsáveis estão
sendo convocados para prestar depoimento.
"Temos comprovado,
seguramente, que essa paralisação por caminhoneiros autônomos, em parte, teve
desde seu início a promoção e o apoio criminoso de proprietários, patrões de
empresas transportadoras e distribuidoras. E podem ter certeza que irão pagar
por isso", declarou.
De acordo com o ministro,
mandados de prisão já foram expedidos, mas ele disse que não sabia informar se
tinham sido cumpridos.
"Identificamos com a
maior clareza movimento criminoso de parte dos senhores proprietários, donos de
grandes empresas, que não permitem, não engajam, não liberam os caminhoneiros.
Pelo contrário, lhes dão apoio para permanecer paralisados", afirmou.
Ele informou que até mesmo
as empresas do setor que não são suspeitas de locaute estão sendo notificadas
pela PF para tomar ciência dos decretos.
"Daí a importância
dessa ação da Polícia Federal, que está notificando todas essas grandes
empresas, não apenas aquelas que são suspeitas, mas todas, para apresentar as
consequências e decisões tanto do governo quanto do Supremo Tribunal
Federal", disse.
Segundo Jungmann, a Polícia
Rodoviária Federal emitiu 400 autos de infração no valor total de R$ 2,03
milhões, sem incluir as multas de R$ 100 mil por hora determinadas em decisão
do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Redes sociais
Para Jungmann, parte dos
caminhoneiros segue nas rodovias porque, embora o governo tenha negociado com o
"sindicalismo tradicional", existe um "movimento paralelo",
nas redes sociais.
Além disso, segundo o
ministro, o movimento de empresários que praticaram o locaute explica o fato de
ainda haver a paralisação.
"Temos não só aqui,
também no mundo todo, o sindicalismo tradicional e a manifestação em rede. O
governo negociou com o sindicalismo tradicional e o fez de boa-fé, até porque
trazia uma série de vantagens consideradas boas para a categoria. Mas, ao mesmo
tempo em que isso acontecia, nas redes sociais, em paralelo, o movimento se
espraiava", declarou.
Bloqueios
Jungmann informou que, até a
noite deste sábado, havia 566 interdições parciais de rodovias no país. Segundo
ele, 524 bloqueios tinham sido dissolvidos. "Isso significa que temos
número, praticamente meio a meio, entre aquelas que se encontram interditadas e
liberadas", declarou.
Durante a entrevista, o
ministro divulgou percentuais de liberação das vias em alguns estados:
São Paulo: 97%
Pernambuco: 75%
Distrito Federal: 70%
Rondônia: 69%
Bahia: 64%
Ceará: 62%
"Entre ontem e hoje, o
principal foco da Polícia Rodoviária Federal foi a criação e liberação de
corredores de acessos aos aeroportos e principais centros de abastecimento de
combustível", afirmou o ministro.
Jungmann disse que houve
“aproximadamente seis casos” em que a desmobilização de um bloqueio “não se deu
de forma negociada” e que, por isso, foi necessário utilizar o grupamento de
choque da Polícia Rodoviária Federal. “Porém, sem feridos, sem vítimas”,
declarou.
Abastecimento
O ministro Sérgio Etchegoyen
disse que o acesso aos principais aeroportos e refinarias e o trânsito em
estradas que passam pelos principais corredores logísticos, como Porto Alegre,
São Paulo e Rio de Janeiro, começaram a se normalizar.
"Chegamos ao fim do dia
caminhando bem na direção de tentar normalizar, num esforço de normalizar o
abastecimento", disse Etchegoyen.
O ministro afirmou que a
greve dos caminhoneiros compromete o Sistema Nacional de Transplantes. “Já
perdemos órgãos”, disse. Segundo ele, alguns hospitais estão com estoque baixo
de produtos e insumos básicos, como gás.
Durante a entrevista,
Etchegoyen afirmou que o governo seguirá monitorando a greve até o
abastecimento ser normalizado.
Embora o ministro não tenha
estimado uma data para a normalização, afirmou que o governo tem a percepção de
que a situação "caminha" para a normalidade.
"Cada caminhão parado
poderia ter feito tantas viagens que não é possível, de uma única vez,
abastecer na plenitude todas as necessidades. Mas é possível intensificar o
trabalho. Por isso as Forças Armadas estão trabalhando e atuando. Motoristas
oriundos das Forças Aramadas, da Polícia Federal e de outras instituições já
estão conduzindo veículos de transporte de carga e combustível para suprir o
abastecimento", declarou.
Os ministros deram
entrevista à imprensa no Palácio do Planalto após reunião com o presidente da
República, Michel Temer, e com outros ministros integrantes do gabinete de
crise que avalia a greve dos caminhoneiros em todo o país.
Requisição de bens
Mais cedo, Temer assinou um
decreto no qual permitiu ao governo assumir o controle de caminhões para
desobstruir as rodovias.
A medida, chamada de
requisição de bens, já havia sido anunciada pelo governo na sexta-feira (25),
mas, segundo o governo, só seria tomada se houvesse necessidade.
O ministro Jungmann explicou
que, com o decreto, não haverá transferência de caminhões das empresas para o
governo. “Se trata de deter a posse temporariamente”, disse.
Questionado sobre o que será
feito se houver algum tipo de dano nos caminhões requisitados, o ministro
afirmou que o proprietário poderá reclamar e pedir a indenização do prejuízo,
que poderá ser concedida pelo governo ou então contestada na Justiça.
A greve dos caminhoneiros
chegou ao sexto dia neste sábado. A categoria protesta contra o aumento no
preço do óleo diesel.
G1
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