SAÚDE: Sífilis aumenta em 13 de 14 estados com dados disponíveis sobre doença.
Os casos de sífilis aumentaram em 13
dos 14 estados do Brasil que têm dados disponíveis sobre a sífilis adquirida
(aquela em que a transmissão ocorre por via sexual e não da mãe para o bebê). O
G1 pediu informações sobre o número de infecções para todos os estados, além do
Distrito Federal, mas apenas 14 possuíam esse registro.
A sífilis é uma doença sexualmente
transmissível que, se não tratada, pode comprometer o sistema nervoso central,
o sistema cardiovascular, além de órgãos como olhos, pele e ossos.
O tratamento, simples e eficaz,
consiste em injeções de penicilina benzatina, medicamento conhecido pelo nome
comercial de Benzetacil. A droga está atualmente em falta no Brasil, tanto no
setor público como no setor privado. O crescimento da doença, porém, não tem
relação com o desabastecimento da droga e sim com o descuido no uso da
camisinha, segundo a opinião de especialistas (leia mais abaixo).
O aumento de infecções chegou a 603%
no estado de São Paulo, onde os casos passaram de 2.694 para 18.951 entre 2007
e 2013. A maior parte dos estados, porém, não tem registros tão antigos.
Na comparação entre 2013 e 2014, os
estados que registraram aumento foram Acre (96,1%), Pernambuco (94,4%), Paraná
(63,1%), Tocantins (60%), Bahia (47%), Santa Catarina (34,1%), Distrito Federal
(22%), Mato Grosso do Sul (6%), Mato Grosso (4,1%) e Sergipe (3,8%).
No Espírito Santo e no Rio Grande do
Norte, que têm dados disponíveis só até 2013, o aumento registrado entre 2012 e
2013 foi de, respectivamente, 31% e 31,5%.
O estado do Amazonas foi o único que
registrou queda do número de casos. Entre 2013 e 2014, as ocorrências
diminuíram 20,2%.
'Tendência
mundial'
Para o secretário de Estado da Saúde
de São Paulo, David Uip, trata-se de uma tendência mundial. Ele observa que os
dados de São Paulo mostram muito claramente o aumento das doenças sexualmente
transmissíveis, inclusive a Aids, em grupos específicos como o de homens jovens
que fazem sexo com homens. "No caso da sífilis, só o [Instituto de
Infectologia] Emílio Ribas fez o diagnóstico de 9 novos casos por dia em
2013", citou em uma entrevista coletiva, em junho.
Os dados sugerem, de acordo com Uip,
que as pessoas estão deixando de usar o preservativo. Esta também é a opinião
da médica Ana Escobar, consultora do Bem Estar (veja o vídeo). Ela observa que,
desde que a disponibilidade do coquetel anti-HIV promoveu a diminuição da
mortalidade por Aids, tem havido um descuido quanto à principal medida de
prevenção contra todas DSTs, incluindo a sífilis: o uso da camisinha.
Notificação
recente
Segundo o Ministério da Saúde, até
agora a sífilis não era uma doença de notificação compulsória, ou seja, os
casos não tinham que ser comunicados individualmente para as autoridades de
saúde. Essa exigência deve passar a valer este ano, ainda segundo o Ministério,
e é por isso que muitos estados não têm esses dados disponíveis.
"Uma parte desse aumento enorme
corresponde aos casos que já ocorriam, mas não eram notificados”, diz o médico
sanitarista Artur Kalichman, coordenador-adjunto do Programa Estadual DST/Aids
de São Paulo. “Mas só isso não explicaria. O que está acontecendo também é o
aumento de novos casos da doença."
O crescimento tem sido notado
inclusive nos consultórios particulares, segundo o infectologista Luís Fernando
Aranha Camargo, da Sociedade Brasileira de Infectologia. "Embora não
existam dados sobre isso, a impressão que eu tenho a partir da experiência no
consultório é que tem tido um relaxamento nas medidas de prevenção. O
interessante seria entender o porquê."
Sífilis congênita
Já os casos de sífilis em gestantes
e bebês que foram infectados por suas mães (sífilis congênita) têm sido
registrados em todo o país há mais tempo. Segundo o Ministério da Saúde, de
2005 a 2013, os casos de grávidas com sífilis passaram de 1.863 para 21.382,
aumento de mais de 1000%. As ocorrências de sífilis congênita passaram, no
mesmo período, de 5.832 para 13.705, aumento de quase 135%.
"A sífilis congênita é um
problema de saúde e a meta do governo é reduzir o número de casos a zero porque
é uma doença evitável se o pré-natal for bem feito", disse a ministra
interina da Saúde, Ana Paula Menezes, em um evento em São Paulo este mês. Ela
enfatizou a importância do pré-natal para a prevenção de casos de sífilis
congênita. O teste deve ser feito na gestante logo na primeira consulta do
pré-natal, no terceiro trimestre da gestação e no momento do parto.
Se uma gestante com sífilis não se
tratar, as consequências podem ser aborto espontâneo, nascimento prematuro e
morte do recém-nascido, além de surdez, problemas visuais e retardo mental da
criança.
Sinais da sífilis
Os primeiros sinais da sífilis são
pequenas feridas que surgem no pênis ou na vagina. Elas não doem e, no caso das
mulheres, pode ser difícil identificá-las se aparecerem no colo do útero. Depois
de um período, essas feridas desaparecem.
Após um período sem sintomas,
aparecem manchas na pele que podem atingir todo o corpo, principalmente a
planta dos pés e a palma das mãos.
Se a doença não for tratada nessa
fase, ela pode acometer o sistema nervoso central, o sistema cardiovascular e
vários órgãos do corpo. Nesta fase, ela pode até matar.
É importante que as pessoas que
observem esses sintomas procurem seu médico ou uma Unidade Básica de Saúde
(UBS). Há vários tipos de exames para detectar a doença disponíveis na rede
pública.
G1 RJ
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