LAMENTO-BRADO DE UMA NORDESTINA. Por Fabiana Agra*
Nesse
12 de março de 2016, escrevo com o coração partido, pois vejo o nosso país
completamente dividido e prestes a ser esfacelado pelas mesmas forças que
dividiram as suas terras há mais de 500 anos e que, ao longo desses cinco
séculos, sugaram o que de melhor nós tínhamos e ainda temos. Então, a burguesia
cansou de uma política mais voltada para a distribuição de renda, capitaneada
pelos governos Lula/Dilma e disse “-chega!”.
O
artista Benvindo Sequeira foi muito feliz quando falou, há alguns dias, que o
que estamos vivenciando no Brasil não se trata de golpe, apenas devido ao
alastramento da crise capitalista vivenciada em todo o mundo, está havendo o
rompimento do pacto entre a classe dos trabalhadores e a elite brasileira,
feito através da “Carta aos Brasileiros” de Lula e do PT, proposta e aceita em
2002 e que, nos últimos meses, a classe dominante brasileira apenas brada: -
chega, me dá de volta o que eu te emprestei! Somente isso, nada mais do que isso...
Hoje,
antevejo uma paisagem de terra devastada para nós, que nos últimos anos,
estávamos galgando (ainda que a passos trôpegos) a escada do desenvolvimento
estrutural e social. E quando eu digo “nós”, entenda a “gente do Nordeste”,
região, ao longo da história brasileira, sempre preterida, esquecida, jogada de
lado, mas que cujo povo nunca desistiu de si mesmo, sempre trazendo no peito
uma baita de uma identidade de pertencer a esse chão. Pois é. Porém, também
prevejo que essa “terra de ninguém” não durará tantos anos quanto aqueles de
outrora, que tanto maltrataram o nosso povo, através da espoliação das nossas
riquezas, da escravidão e da indiferença das instituições quando era o Nordeste
que estava à mesa.
Mas
ainda tem mais. Nos dias atuais, o nordestino anda meio enxerido. É! Depois de
2003, os nossos jovens venceram a fome e deram pra estudar. E seus pais, quando
eles mesmos não ocuparam os bancos escolares, voltaram seus ouvidos para os
filhos e começaram um diálogo que fascista algum poderá parar, pois trata-se
daquela conversa ao pé-do-ouvido, daquela conversa de filha-para-pai, de
filho-para-mãe e de todos os vice-versas possíveis. Assim, o povo nordestino
não mais voltará a condição de coitado, de espoliado, de “morto-de-fome” – não
mais, nunca mais, esqueçam disso! Hoje, nós temos consciência do pertencimento
da nossa gente e do nosso chão.
Ainda
não acabei, perainda. Estamos prontos para a defesa de um legado ainda recente,
mas muito sólido. Não pensem vocês, São Paulo, Paraná e demais estados que
sempre tiveram as benesses de uma política e de políticos voltados para seus
próprios bolsos, que o Nordeste irá cair, ajoelhar-se e aceitar de bom grado o
que querem meter em nossa goela. Não, não mais. Nunca mais.
Isso
não significa que estamos prontos para uma guerra com “bala de verdade”. Não,
isso eu não quero que aconteça, não é muito da nossa índole. Mas estamos
prontos para combater o fascismo e a canalhice dessa classe dominante que está
acostumada a fazer o butim quando bem entende; isso acabou, corja de estúpidos.
O nosso povo está pronto para resistir – e resistiremos não através dos canhões
e nem das flores, mas fazendo uso da razão, das leis e do tempo, porque “a
verdade é filha do tempo, não da autoridade”, já dizia Francis Bacon. Ah,ia
esquecendo: esse daí não é o bacon de porco, pro caso do tal promotor de sampa
vir a ler este artigo.
*
Fabiana Agra é advogada e jornalista
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