'Nada é impossível', diz jovem que saiu da zona rural para ser médico.
Filho de lavradores se forma em
medicina no Piauí
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Festa,
alegria e formatura em uma das profissões mais disputadas do mercado. Quem vê
Luciano Carlos hoje nem imagina o que ele passou para conseguir se formar em
medicina pela Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Filho de lavradores e
natural do município de Valença do Piauí, o agora médico sempre estudou em escola
pública na zona rural, mas nunca viu isso como empecilho para a realização de
seu sonho.
“Minha
vida nunca foi fácil, mas nunca passei fome. Meus pais sempre foram muito
batalhadores, nunca me deixaram faltar nada. Me ensinaram a não desistir, e
depois de tudo que eu consegui, pra mim nada é impossível, quem quer consegue”,
disse.
O
terceiro de quatro irmãos, Luciano sempre gostou de estudar, mesmo com os
perigos de ir para escola à noite, e de bicicleta. Os pais o incentivaram a
lutar pelos seus sonhos e foi no ensino médio que ele teve certeza do que
queria para o futuro: ser médico. Dentro de casa, o estudante era apoiado pela
família, mas quem via de fora, não acreditava na sua capacidade.
Contra
o que todos achavam, em 2009, Luciano tornou-se o primeiro estudante de escola
pública da zona rural da sua cidade a ingressar no curso de Medicina na Uespi,
segundo a Pró-Reitoria de Graduação. Foi nessa época que ele deixou a cidade
natal e mudou-se para Teresina para fazer o curso.
“A
princípio foi um choque de realidade, sabendo das minhas limitações
financeiras, o primeiro medo foi esse. Eu ia mudar de cidade e passar seis anos
(período do curso) só gastando. Eu e minha família nos preocupamos com isso,
mas graças a Deus depois da minha aprovação a situação começou a melhorar e o
meu medo foi diminuindo”, contou.
Durante
o curso, Luciano conta que sua renda era composta por ajudas, em parte pelos
pais, outra parte por uma instituição filantrópica de Teresina e, a partir do
quarto semestre de curso, também por remuneração de estágios feitos por ele.
“Eu
tive ajuda, e acredito que se não tivesse tido, não teria conseguido me formar.
Sou muito grato por todas essas pessoas. Fui acolhido, tive casa e alimento da
pessoa que também é responsável pelo local onde minha família mora”, conta.
Outro
receio era de como as pessoas poderiam olhar para ele, e surpresa foi grande ao
chegar à sala de aula. “Fui muito bem recebido por todos os professores e
principalmente pelos meus amigos de turma. Durante a primeira semana, aonde eu
chegava, batiam palmas. Tive uma recepção bem calorosa e foi bom, porque era um
local novo pra mim”.
Apesar
da recepção, tinha algo que Luciano não estava preparado: a sua vida social.
“Devo dizer que deixei um pouco a desejar. Talvez eu pudesse ter relaxado um
pouco mais. Mas era uma coisa minha mesmo, de apenas estudar, afinal era pra
isso que eu tinha saído de casa. Meus amigos sabiam como era o ambiente
acadêmico e como lidar com tudo isso. Eu não. Então, principalmente no começo,
me tranquei muito. Hoje eu já consigo achar um tempo pra mim”, falou.
Em
relação ao futuro, Luciano pretende especializar-se em otorrinolaringologia.
“Vou tentar residência em Teresina e em outros estados também. Espero conseguir
passar em Teresina, se não, vou para onde Deus me levar”, disse.
Luciano
disse acreditar que outros jovens possam conseguir assim como ele, alcançar a
realização profissional. “Para aqueles
jovens que estão na zona rural e sonham em se profissionalizar, digo que
independente da carreira que deseje seguir, não desista, lute, mas sempre com
humildade, dignidade, competência, porque ele pode sim conseguir”, completa.
G1
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