Falsa grávida acreditava na própria mentira, diz casal: "parece filme".
Pâmela usa uma toalha de
mesa para deixar a festa de 1 ano do bebê que nunca existiu em Ribeirão Preto,
SP.
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Uma atendente de
supermercado Emily Maganha mudou sua rotina temendo pela integridade de sua
filha Laura, de 1 ano. Laura foi o nome usado por Pâmela Serveli, de 24 anos,
em uma gravidez inventada para chantagear o ex-namorado Vitor Sedassare em
Ribeirão Preto (SP).
Responsável por ajudar a
polícia a desfazer a mentira no dia em que a suposta mãe promoveu uma festa de
1 ano para a filha que não existia, Emily conta que, na mesma data, em 11 de
julho, Pâmela mandou três conhecidos até a casa dela para tentar tomar sua
criança à força. Ela também relata que a mãe da falsa grávida encampou a
história e chegou a cogitar um exame de DNA.
“Muito louca, se eu conto
ninguém acredita, não dá pra acreditar. Parece filme, mentira, que ela queria
pegar minha filha mesmo. Acho que ela acreditava que a Laura era filha dela,
pra mim é isso: ela acreditava e ela queria levar à festa”, diz.
Segundo o advogado de defesa
de Pâmela, a família da suspeita diz que a jovem está em tratamento
psiquiátrico desde janeiro deste ano.
Do primeiro contato às
ameaças
Emily relata que conheceu
Pâmela por intermédio de uma amiga em comum e que, desde então, mantinham
contato apenas pelas redes sociais. Foi pela internet que ela disse ter
acompanhado a suposta gravidez de Pâmela por publicações de fotos. A atendente
conta que a própria Pâmela pediu, certo dia, para visitá-la e conhecer Laura.
De acordo com Emily, Pâmela
aproveitou a ocasião para tirar uma foto com a menina no colo, pedido que,
segundo ela, foi atendido. A imagem, mais tarde, teria sido usada pela falsa
grávida para corroborar a história nas redes sociais.
"Ela me contou que a
filha dela estava doente no hospital, eu fiquei com dó. Ela falou: eu posso ver
sua filha? Eu falei: pode. Ela foi lá em casa. A única vez que ela foi lá em
casa foi esse dia pra ver minha filha", conta.
Emily afirma que somente
desconfiou das reais intenções de Pâmela quando três homens visitaram sua casa
para levar Laura. Foi o marido da atendente, Guilherme Biagini, quem disse ter
falado com o trio.
Segundo ele, os visitantes
desconhecidos disseram que Pâmela havia lhes dito ser a verdadeira mãe de Laura
e que o casal não queria devolver a menina. Diante da recusa dele em entregar a
criança, os três homens teriam ameaçado voltar ao local posteriormente.
"Contaram uma história
que a Pâmela contou pra eles, que deixou a filha dela para nós criarmos e que a
gente não estava querendo devolver ela e eles foram buscar minha filha.
Questionei: eu tenho como provar que ela é minha filha. E eles não acreditaram,
falaram que queriam levar de qualquer jeito e que iam voltar depois pra
resolver o assunto", afirma.
Pedido de DNA
Emily, que estava no
trabalho quando isso aconteceu, conta que, assim que soube do ocorrido por uma
ligação do marido, ligou para uma amiga mais próxima de Pâmela e chamou a
polícia.
"Cheguei em casa, a
polícia chegou em seguida, os três caras não estavam. Essa minha amiga chegou e
entrou em contato com o irmão da Pâmela. O irmão da Pâmela foi lá na minha
casa, conversou com o policial e falou: nunca teve criança na minha casa, eu
nunca vi", afirma.
Por meio do irmão de Pâmela,
segundo ela, Emily soube da festa de R$ 3 mil que a falsa grávida havia
preparado para comemorar um ano de Laura. Ao se dirigir ao bufê onde acontecia
a festa, ela conta que começou uma discussão com a suspeita e a mãe dela, que
teria solicitado um exame de DNA na menina.
Confusão presenciada pelos
convidados. "A mãe dela falou, tinha certeza que era filha da Pamela, e
queria fazer um teste de DNA."
Emily também afirma que a
família do ex-namorado de Pâmela chegou a ir à festa para confirmar as
suspeitas sobre a falsa gravidez. "A Pâmela e a mãe dela foram para dentro
do salão, aí foi quando a gente conversou com a família do suposto pai. A gente
conversou e ele contou que ela o enganou durante um ano, que eles tinham uma
criança, que eles foram à festa para ver se tinha criança mesmo."
Mesmo depois da intervenção
da polícia no caso, Emily conta que ficou uma semana na casa de sua irmã com
medo do que poderia acontecer com sua filha. "Os caras falaram que iam
voltar. Se ela é capaz de mandar três caras pegarem minha filha ela é capaz de tudo."
Agora, ela diz viver em
constante estado de alerta. "A gente não sai, na escola eu reforcei que só
eu e minha mãe podem ir buscar, se alguém for lá é ligar pra mim, pra ligar pra
polícia, que não é pra tirar."
O caso
O motorista Victor Sedassare
e Pâmela namoraram por quatro anos e terminaram o relacionamento em 2015, mas a
jovem não aceitava o fim da relação. Pouco tempo após o último encontro, ela
procurou o jovem para contar que estava grávida e apresentou um exame, que
comprovava a gestação.
Segundo a família de
Sedassare, Pâmela entrou na Justiça para obrigar o ex-namorado a custear as
despesas da gestação, e conseguiu uma decisão favorável. Após o nascimento da
criança, no entanto, o rapaz nunca conseguiu ver a menina, chamada de Laura
pela mãe.
Desconfiada do comportamento
de Pâmela, a mãe do motorista diz que há quatro meses busca evidências sobre a
existência da neta. Rosa Helena Sedassare conta que foram várias tentativas
frustradas de conhecer Laura.
Em julho deste ano, Rosa
procurou o laboratório responsável pelo exame que atestou a gravidez de Pâmela
e descobriu o que seria uma grande mentira. A descoberta da farsa deixou Victor
perplexo, e ele passou a acreditar que Pâmela agiu por vingança.
Rosa procurou o juiz e
relatou sobre a possibilidade de o exame de gravidez ter sido fraudado por
Pâmela. Um oficial de Justiça foi enviado à casa da jovem para informar que ela
e a criança teriam que comparecer ao Fórum para apresentar a certidão de
nascimento da menina.
O oficial foi enviado no dia
da festa do primeiro aniversário de Laura, em 11 de julho deste ano. A mulher
distribuiu convites a familiares, amigos e vizinhos dela e do pai da criança, e
chegou a gastar R$ 3 mil com a contratação de um buffet para o evento.
A farsa foi, enfim, revelada
quando Emily foi à festa e afirmou que três pessoas tinham tentado levar a
filha dela de casa. Pâmela foi levada para a delegacia para prestar
esclarecimentos por suposto sequestro.
Para o Ministério Público, a
Justiça não errou ao obrigar o motorista a arcar com as despesas da falsa
gravidez da ex-namorada, pois foi enganada por Pâmela.
G1
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