No RN, bispo diz que homossexualidade é "dom de Deus" e gera polêmica entre fiéis.
Um dos principais líderes da
Igreja Católica no Rio Grande do Norte causou polêmica ao afirmar que a
homoafetividade é um dom de Deus. "Se não é escolha, se não é doença, na
perspectiva da fé só pode ser um dom", afirmou o bispo de Caicó, Dom Antônio
Carlos Cruz Santos. O município fica na região Seridó, em pleno sertão
potiguar. Veja a fala do bispo no vídeo acima.
O comentário do clérigo foi
feito no último domingo (30), durante a missa de encerramento da Festa de
Santana de Caicó – um dos mais tradicionais eventos religiosos do estado. Ao
fim de sua fala, ele foi aplaudido pelos fiéis presentes à celebração.
"O evangelho por
excelência é evangelho da inclusão. O evangelho é porta estreita sim, é um amor
exigente, mas é uma porta sempre aberta. Deus nunca fecha porta para
ninguém", afirmou o bispo.
"Por isso, talvez,
seria momento, assim como fomos capazes de dar um salto, na sabedoria do
evangelho, de vencer a escravidão; não está na hora de a gente dar um salto, na
perspectiva da fé, e superar preconceitos contra os nossos irmãos
homoafetivos?", questionou.
O bispo ainda considerou que
a homoafetividade não é uma opção, mas uma orientação. Argumentou que desde a
década de 1990 a Organização Mundial da Saúde não considera a relação entre
pessoas do mesmo sexo como doença.
"Se não é escolha, se
não é doença, na perspectiva da fé só pode ser um dom, é dado por Deus. Dom é
isso. É dado por Deus, não tem jeito. Mas talvez os nossos preconceitos não
consigam perceber o dom de Deus", ponderou.
Reações
O vídeo da transmissão da
missa viralizou nas redes sociais e gerou polêmica entre os fiéis. Na página da
Diocese de Caicó no Facebook, pessoas usaram o espaço destinado aos comentários
para criticar o religioso.
"Dom Antônio Carlos
Cruz conseguiu transformar um pecado grave em dom de Deus", diz um dos
comentários. "A Santa Sé tomará conhecimento desta heresia, proclamada
dentro da Igreja Católica", afirma outro usuário, que chama o bispo de
inimigo da igreja.
Também houve manifestações
de apoio ao religioso. Uma mulher que afirma ser do Paraná disse que conheceu
Dom Antonio por meio das redes sociais e considerou que o posicionamento é um
novo passo para a religião.
"Quero agradecer o
senhor pela sua fala e pela sua delicadeza ao tratar deste assunto que faz
parta da minha vida. Meu filho é homossexual, bispo", comenta ela. O grupo
Cáritas Diocesano publicou uma nota de apoio ao clérigo, considerando que o
bispo cumpriu "missão profética" de denunciar injustiças sociais.
O G1 procurou Dom Antônio
Carlos Cruz Santos, mas ele afirmou que prefere não dar entrevistas no momento.
Já a Arquidiocese de Natal informou que não vai comentar a declaração do bispo
e considerou que ele tem autonomia e liberdade de ideia e pensamento.
Durante a mensagem na missa
de encerramento da Festa de Santana, dom Antônio Carlos Cruz Santos afirmou
ainda que ouviu uma entrevista com o autor de um estudo sobre suicídios entre
travestis e transexuais.
Ele contou que procurou o
pesquisador para conversar sobre o assunto e lembrou de um caso em que recebeu
a mãe de um jovem homossexual, que sofria muito o preconceito. Para ele, é
momento de "dar um salto" e superar alguns posicionamentos da igreja.
Dom Antonio ainda pontuou
que a pessoa não pode escolher a orientação sexual, mas pode escolher como
vivê-la: "se de uma forma digna, ética, ou de uma forma promíscua".
"Mas promiscuidade pode-se viver em qualquer uma das orientações que se
tem", concluiu.
Carioca, filho de pais
nordestinos, Dom Antonio foi nomeado Bispo de Caicó, pelo Vaticano, em 2014.
Parte da congregação Missionários do Sagrado Coração de Jesus, foi ordenado em
1992 e trabalhou na Cidade de Deus (RJ) e em Contagem (MG), onde atuou três
anos com estudantes de Teologia. Antes de chegar ao Rio Grande do Norte, o
religioso passou quatro anos em Belford Roxo (RJ).
G1
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