PSOL processará desembargadora que acusou Marielle de se engajar com crime.
Vítima |
O PSOL (Partido Socialismo e
Liberdade) vai entrar com uma representação oficial no CNJ (Conselho Nacional
de Justiça) e com uma ação criminal por calúnia e difamação contra a
desembargadora do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), Marilia Castro
Neves, pelas declarações de que a vereadora Marielle Franco, assassinada na
última quarta-feira (14), "estava engajada com bandidos".
As informações foram
confirmadas pelo vereador da legenda Tarcísio Motta, ao UOL. A OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) no Rio também está juntando informações sobre as
declarações da desembargadora para se manifestar oficialmente sobre o caso,
segundo apurou a reportagem.
Ontem, a coluna Mônica
Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, revelou a postagem da juíza, que
comentava uma postagem do advogado Paulo Nader no Facebook.
"A questão é que a tal
Marielle não era apenas uma 'lutadora', ela estava engajada com bandidos! Foi
eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu 'compromissos' assumidos com seus
apoiadores. Ela, mais do que qualquer outra pessoa 'longe da favela' sabe como
são cobradas as dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava",
escreveu a juíza.
O texto da desembargadora
Marilia Castro Neves segue: "Até nós sabemos disso. A verdade é que jamais
saberemos ao certo o que determinou a morte da vereadora, mas temos certeza de
que seu comportamento, ditado por seu engajamento político, foi determinante
para seu trágico fim. Qualquer outra coisa diversa é mimimi da esquerda
tentando agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro".
À coluna da jornalista, a
desembargadora declarou que não tinha ouvido falar de Marielle Franco até a sua
morte. "Eu postei as informações que li no texto de uma amiga",
afirmou. "A minha questão não é pessoal. Eu só estava me opondo à
politização da morte dela. Outro dia uma médica morreu na Linha Amarela e não
houve essa comoção. E ela também lutava, trabalhava, salvava vidas",
finalizou.
'MANCHARAM O NOME DELA'
O PSOL vai mover uma ação
criminal contra a juíza em decorrência das declarações.
"É um absurdo esse tipo
de declaração. A desembargadora deveria ter o mínimo de responsabilidade sobre
a vida de Marielle, inclusive pelo cargo que ela [a juíza] ocupa",
declarou o vereador do PSOL à reportagem por telefone.
"Vamos entrar com uma
representação no CNJ e com uma ação criminal por calúnia e difamação. Não vamos
deixar que uma situação como essa sem consequência. Mancharam, absurdamente, o
nome dela [Marielle]", prosseguiu.
Ele vê o comentário da
desembargadora Marilia Castro Neves como uma "politização equivocada do
processo".
"[O assassinato] é um
crime político, é um atentado contra a democracia. Negar isso é calar as
bandeiras que Marielle defendia", afirmou o vereador.
Já o presidente da Comissão
de Direitos Humanos da OAB-RJ, Marcelo Chalréo, confirmou à reportagem que a
entidade está reunindo "esse material referente à desembargadora para
tratarem sobre isso com o vice-presidente da Comissão a partir de
segunda".
"Na minha opinião, deve
ser aberto um procedimento investigativo para apurar possível cometimento de
crime pela desembargadora pela Corregedoria do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro. Nada impede, outrossim, que o Ministério Público do Estado requisite a
instauração de um inquérito para apurar a conduta dessa senhora. São providências
que não se confundem e podem caminhar em paralelo", declarou Chalréo.
O UOL tenta localizar a
desembargadora Marilia Castro Neves para comentar a questão.
Em nota, o Ministério
Público do Rio informou que "a desembargadora Marília possui foro por
prerrogativa de função no STJ [Superior Tribunal de Justiça], não tendo o MP-RJ
atribuição para funcionar no caso em tela".
O UOL também entrou em
contato com o CNJ e o TJ-RJ, mas os órgãos não se manifestaram acerca das
declarações da desembargadora até a publicação da reportagem.
DEPUTADO ALBERTO FRAGA
O PSOL também estuda
possíveis ações contra o deputado federal Alberto Fraga (DEM/DF), que postou
acusações contra Marielle no Twitter. "Outra mentira que tem sido
divulgada neste sábado afirma que Marielle havia sido casada com Marcinho VP,
conhecido traficante carioca, com quem teria tido um filho aos 16 anos. Até o
deputado federal Alberto Fraga divulgou o absurdo", afirmou o partido em
nota. Fraga acabou apagando este tuíte.
UOL
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