Relatório do Coaf mostra que Flávio Bolsonaro pagou título de R$ 1 milhão.
Um novo trecho do relatório
do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), sobre movimentações
bancárias atípicas de Flávio Bolsonaro, aponta que ele fez um pagamento de R$
1.016.839 de um título bancário da Caixa Econômica Federal. O Coaf diz que não
conseguiu identificar o favorecido. Também não há data e nenhum outro detalhe
do pagamento.
O documento, obtido com
exclusividade pelo Jornal Nacional, cita que o senador eleito tem operações
muito parecidas com as feitas por Fabrício Queiroz, seu ex-assessor, apesar de
as datas serem diferentes.
Em comum nos dois relatórios
do Coaf:
>Os depósitos e saques eram
feitos em caixas de autoatendimento dentro da Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj);
>As operações eram em
espécie;
>Os valores eram fracionados.
O novo relatório do Coaf
analisa movimentações de Flávio Bolsonaro entre junho e julho de 2017. Foram 48
depósitos na conta do então deputado estadual, agora senador eleito pelo PSL do
Rio.
Todos os depósitos foram no
mesmo valor: R$ 2 mil – o limite permitido em dinheiro nos caixas automáticos
da Alerj. No total, foram R$ 96 mil em cinco datas:
>9 de junho de 2017: 10
depósitos, no intervalo de 5 minutos;
>15 de junho de 2017: mais 5
depósitos, em 2 minutos;
>27 de junho de 2017: outros
10 depósitos, em 3 minutos;
>28 de junho de 2017: mais 8
depósitos, em 4 minutos;
>13 de julho de 2017: 15
depósitos, em 6 minutos.
O relatório que analisou as
operações na conta de Flávio Bolsonaro foi um desdobramento do primeiro
documento do Coaf. Nesse levantamento apareciam as movimentações do ex-assessor
de Flavio, Fabrício Queiroz.
Queiroz movimentou, entre
janeiro de 2016 e janeiro de 2017, R$ 1,2 milhão. Ele recebeu 59 depósitos em
dinheiro em valores fracionados que somavam R$ 216 mil. Entravam na conta dele
no mesmo dia ou pouco dias depois do pagamento dos salários dos servidores.
Queiroz também sacou R$ 159 mil em caixas automáticos dentro da Alerj.
Os relatórios do Coaf que
citam Queiroz e Flávio dizem respeito a períodos diferentes. No caso do senador
eleito, a maioria dos depósitos também foi feita perto da data pagamento na
Assembleia.
O Coaf diz que não foi
possível identificar quem fez esses depósitos, e que o fato de serem valores
fracionados desperta a suspeita de ocultação da origem do dinheiro. Isso com
base na circular do Banco Central que trata de lavagem de dinheiro: “a
realização de operações que por habitualidade, valor e forma configuram
artifício para burlar a identificação dos responsáveis e dos beneficiários
finais”, diz a circular.
Suspeita de devolução de
salários
O Ministério Público do Rio
pediu ao Coaf para ampliar o levantamento sobre os funcionários da Alerj porque
suspeita que eles devolviam parte dos salários.
O MPRJ disse que recebeu os
dados brutos do Coaf e se ateve aos fatos que indicavam possíveis
irregularidades. Só depois dessa análise, é que pessoas poderão ser
investigadas.
O MP esclareceu ainda que
tomou cuidado para que nada fosse divulgado antes do processo eleitoral, para
que nenhum parlamentar fosse prejudicado. E que deu prioridade a fatos
investigados de acordo com a hierarquia das autoridades políticas e servidores.
Flávio não era investigado,
mas conseguiu suspender temporariamente no Supremo Tribunal Federal a
investigação contra Queiroz, que citava o parlamentar.
O senador alega que o
Ministério Público do Rio se utilizou do Coaf para criar atalho e se furtar ao
controle do Poder Judiciário, e que burlou as regras constitucionais de quebra
de sigilo bancário e fiscal.
O MP explica que não houve
quebra de sigilo, e que o relatório de inteligência do Coaf apresenta apenas as
movimentações consideradas atípicas.
Decisões do Supremo e do
Superior Tribunal de Justiça confirmaram que o MP pode obter informações do
Coaf sem necessidade de pedido à Justiça, e se baseia ainda numa norma do
Conselho Nacional do MP que permite a solicitação de relatório de inteligência
ao Coaf.
22 investigados pelo MP
Com base na análise dos
dados do Coaf, o MP abriu 22 investigações contra funcionários e
ex-funcionários da Alerj. Todas relacionadas a movimentações bancárias
suspeitas.
O Jornal Nacional procurou a
assessoria de Flávio Bolsonaro, mas não teve resposta.
G1
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