Coluna Dr Edgley Porto: Desmistificando o Bruxismo.
1.
Conceito:
A
palavra bruxismo deriva da palavra “brychein” que significa “apertamento,
fricção ou atrito” dos dentes entre si, com força e sem nenhum
objetivo funcional. O bruxismo é uma parafunção bucal de causa multifatorial,
podendo comprometer de diferentes maneiras o sistema estomatognático (boca,
dentes e músculos).
O
bruxismo pode ser entendido como um hábito, muitas vezes involuntário, que
ocorre principalmente durante a noite, mas que pode acontecer durante o dia; de
relativa intensidade e persistência ao longo do tempo pode causar danos aos
dentes ou a seus tecidos de suporte (gengiva e osso alveolar). De acordo com
alguns estudos, o bruxismo é uma das desordens funcionais dentais mais
prevalentes, destrutivas e complexas existentes.
Pesquisas recentes
apontam que o bruxismo acomete uma grande parcela da população, e, de maneira
geral, sua manifestação está quase sempre associada a um cotidiano de estresse
e tensões emocionais. Assim, como é uma patologia de ocorrência relativamente
comum, o bruxismo, pode ser encontrado em todas as faixas etárias, acometendo
crianças, adultos e idosos, com prevalência semelhante em ambos os sexos.
2. Causas:
Uma
vez que o bruxismo pode estar relacionado a uma ou a várias patologias, sua
causa e/ou efeito ainda não foram totalmente estabelecidos. As teorias e
hipóteses que buscam a explicação de suas causas ora se apoiam em seus efeitos,
ou em suas causas, ou mesmo em ambas. Contudo, na maioria dos casos o bruxismo
estará relacionado a um tipo de estresse emocional, sendo que fatores locais e
fatores sistêmicos podem estar associados.
A
respeito dos fatores locais, valem-se citar o desequilíbrio oclusal ou as más
oclusões, ocasionadas por restaurações incorretas, más posicionamentos dentais,
problemas periodontais, entre outros. Já em relação aos fatores sistêmicos,
podem se citar doenças do Sistema Nervoso Central, fatores genéticos,
fatores alérgicos, parasitários intestinais, além de problemas nutricionais,
hormonais bem como os próprios fatores psíquicos.
3. Sinais e sintomas:
Inicialmente
devemos considerar o desgaste dental, que é promovido pelo ranger dos dentes. O
esmalte dental é primeiro tecido a ser afetado pelos movimentos mandibulares,
onde dentes antagonistas, quando postos em contato levam a um quadro de
abrasão, que tem como consequência a perda da estrutura dental que se instala
ao longo do tempo em pacientes bruxômanos.
Alguns pacientes, portadores
dos hábitos do bruxismo, costumam relatar sintomas de sensibilidade nos dentes,
ao ingerir alimentos gelados, salgados ou ácidos. Porque ocorre isto?
O dente, na sua coroa, é formado de esmalte dental, de cor branca
translucida, que não tem sensibilidade. Logo abaixo dele, existe a dentina, de
cor amarelada, que possui canalículos dentinários (cheios de líquidos),
canalículos estes, que estão ligados a polpa dental, de cor vermelho escuro
(conhecida popularmente, como nervo dental). Ao se alterar a temperatura ou
modificar o Ph (tornar o local mais ácido ou mais alcalino) em uma dentina, que
perdeu parte da cobertura de esmalte dental, devido ao bruxismo, o líquido
dentro desses canalículos, se expandem ou contraem, transmitindo sensações
dolorosas, para a polpa dental (que é composto de artérias, veias e nervos).
No caso do bruxismo, devido a
abrasão da superfície de mastigação, que pode ocorrer em alguns casos (entre
outras causas: como escovação incorreta), pode haver perda, de parte desse
esmalte, expondo a dentina, que tem sensibilidade. Também, é comum observar,
uma cor escurecida, na superfície de mastigação dos dentes, que sofreram, este
tipo de abrasão.
Foto comparativa: Modelo de uma hemi arcada (a esquerda) e,
uma hemi arcada (a direita), com desgaste severo, devido ao bruxismo.
Para esses sintomas de sensibilidade dentinária, originados por
problemas do bruxismo existem medicamentos (também utilizados, para problemas
de sensibilidade dentinária, decorrentes de escovação incorreta); medicamentos
esses, que são utilizados pelo profissional, afim de obliterar esses
canalículos, reduzindo assim, os sintomas de sensibilidade nos dentes (são mais
eficazes, que as pastas de dentes). Nos casos extremos de sensibilidade,
pode-se recorrer a colocação, de próteses de cobertura.
O constante atrito ou aperto entre os dentes superiores e inferiores,
pode, em alguns casos gerar problemas periodontais, como bolsas, retração
gengival, perda do tecido ósseo de sustentação e mobilidade dental. Por isso é
importante procurar eliminar esse hábito do bruxismo e, em conjunto, verificar
e acompanhar as condições periodontais do paciente, afim de evitar problemas
futuros, como a mobilidade ou perda do órgão dental, por exemplo.
A
presença de periodontites muitas vezes pode ser observada, devido às forças
intensas que os dentes recebem, e normalmente uma sensibilidade à percussão ou
mesmo dor ao morder podem estar presentes, estas, especialmente pela manhã ao
acordar. Facetas de desgaste parafuncionais geralmente estão presentes em toda
a dentição, com ênfase nos dentes molares e caninos.
Também devem ser observados e tratados, alterações periodontais e
mobilidades dentais, geradas pelo vícios de língua (aqui vale dizer, que alguns
pacientes, tem o costume de empurrar os dentes ou ficar mordendo a língua -
como hábito ou em situações de estresse) ou por contatos prematuros de dentes
(contato prematuro: é quando um dente, por estar mais alto, ao ocluir com o
dente antagonista, acaba tocando primeiro que os outros – recebendo, somente ele,
a carga mastigatória, enquanto que essa carga, deveria ser distribuída, por
todos os dentes). Esses contatos prematuros, também podem ocorrer, em
movimentos de lateralidade.
Outra
queixa bastante comum relatada nos portadores de bruxismo refere-se às dores de
cabeça tensionais e, sua manifestação está associada a uma contração excessiva
dos músculos da mastigação, podendo atingir rosto, pescoço, ouvido e até
ombros. Mialgias, hipertonicidade muscular (espasmos) ou mesmo
hipertrofia muscular, são alguns sintomas relativamente comuns a pacientes
bruxômanos.
Dores
na articulação temporomandibular (ATM) também podem estar presentes, e o
paciente pode relatar a presença de estalos, travamento, restrição quanto à
abertura da boca e desvios nos movimentos de abrir e fechar a boca.
4. Classificação:
Podemos dividir em bruxismo primário e secundário
ou bruxismo em vigília ou do sono.
O bruxismo pode ser secundário a uma série de
condições como distúrbios do movimento (como o Parkinson), distúrbios
neurológicos (como o coma e a hemorragia cerebelar), distúrbios psiquiátricos
(estados demenciais, retardo mental, etc.), mas os mais comuns no dia a dia do
consultório: secundário ao uso de medicamentos (sobretudo os inibidores
seletivos da recaptação da serotonina que tem como maior exemplo a fluoxetina),
de anfetaminas, de drogas ilícitas (cocaína, crack, etc.), associados à
ingestão abusiva de álcool ou café, à nicotina e ainda, associado a distúrbios
respiratórios. O que este conhecimento trouxe de mudança? Ora, no tratamento.
Quando o bruxismo está presente associado a uma das situações citadas, o
primeiro procedimento é o de eliminar e/ou alterar este fator e acompanhar a
evolução do bruxismo. Infelizmente nem sempre é possível.
Conhecer estas associações com o bruxismo está
alterando a forma com que aborda o bruxismo infantil, por exemplo (ele não está
associado a verminoses!!!). Por quê? Ora, as crianças sofrem muito com
processos alérgicos e estruturais e muitas apresentam problemas respiratórios e
mesmo respiração oral com frequência. Ainda se procura entender como, mas
pode-se supor que, por exemplo, a passagem do ar pela boca durante o sono
resseque ainda mais a mucosa oral, o que faz com que ocorra um aumento nos
movimentos rítmicos da mandíbula durante o sono, e com isso eventualmente os
eventos de bruxismo (para estimular a salivação). Ainda, já se observou que
após um evento respiratório durante o sono, com dessaturação de oxigênio, pode
ocorrer um evento de bruxismo e se supõe que isso seja mais frequente nestas
crianças. Assim, nestas crianças, tratamentos para reverter este quadro podem
auxiliar no controle do bruxismo.
Seguindo na classificação, é importante se separar
o bruxismo em vigília do bruxismo do sono, que é hoje definido pela
Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, como um distúrbio de
movimento relacionado ao sono.
O bruxismo em vigília é caracterizado pelo
apertamento dental, ocorre em aproximadamente 20% da população, com preferência
do gênero feminino. Pouco ainda se sabe sobre isso, mas acredita-se que possa neste
caso ter associação ao estresse e também à atividades que requerem
concentração. O tratamento aqui é direcionado a alertar o paciente, o tornando
consciente para este hábito com auxílio de adesivos posicionados em lugares por
onde o paciente circula e estimulá-lo a quando visualizar um destes adesivos,
evitar de encostar os dentes. Um alerta no telefone celular também pode
funcionar.
O bruxismo do sono é o mais estudado. Com a
polissonografia, pode-se então compreender o que acontece quando o paciente
está dormindo. O que se percebe é que na maioria das vezes o bruxismo do sono é
caracterizado por eventos de ranger de dentes, não há predileção por sexo, é
mais frequente em crianças (14 a 18% da população) depois em adultos (8%) e
menos na terceira idade (3%). Não se range os dentes a noite toda. Os eventos
ocorrem em maior frequência na fase 2 do sono, com em média 6 episódios/hora de
sono. Estes episódios de bruxismo ocorrem após um micro despertar que consiste
numa ativação cerebral rápida, não percebida pelo paciente.
5. Diagnóstico:
O
diagnóstico é feito pela observação de um desgaste dentário anormal, ruídos de
ranger de dentes durante o sono e desconforto muscular mandibular. A
polissonografia registra os episódios de ranger dos dentes, permitindo
identificar alterações do sono e micro despertares.
As
alterações predominam no estágio 2 do sono não REM e nas transições entre os
estágios. A polissonografia permite ainda o diagnóstico de outros distúrbios do
sono, tais como ronco, apneia do sono, movimentos periódicos dos membros,
distúrbio comportamental do sono REM e outros.
6. Tratamento:
A
cura propriamente dita e permanente do bruxismo ainda é desconhecida até o
presente momento. O que existe de fato é todo um conjunto de métodos a serem
utilizados para seu tratamento. Assim, mais importante que tratar os sintomas
do Bruxismo é investigar e buscar reconhecer e eliminar suas causas. O
tratamento deve ser individualizado para cada paciente. Uma anamnese aprofundada pode trazer
informações importantes sobre o paciente, seu dia a dia, seus hábitos, e
assim ajudar no estabelecimento de um plano de tratamento. Contudo, a obtenção
de uma harmonia oclusal e a manutenção de uma correta função fisiológica do
sistema estomatognático é considerada parte fundamental do tratamento.
A
utilização de placas de mordida é uma alternativa indicada à pacientes
portadores de bruxismo. Suas principais funções estão relacionadas, à proteção
do tecido dental, quanto aos processos de desgaste e ao alivio da musculatura e
articulações temporomandibulares, contra as forças excessivas que se formam
durante a parafunção. Ainda em relação ás placas oclusais, estas podem ser
confeccionadas em acrílico ou silicone. Contudo
muitos especialistas não recomendam a placa de silicone, por seus
efeitos serem menos controláveis. Apesar de proporcionarem um maior conforto a
seus usuários, elas podem estimular os hábitos e, por serem mais porosas, podem
reter bactérias causando mau cheiro, de modo que a placa de acrílico é ainda a
mais indicada por muitos especialistas.
À medida que as pesquisas avançam,
medicamentos serão propostos. Foi observado por exemplo que a clonidina,
visando reduzir a ativação do sistema nervoso autônomo, eliminou o bruxismo em
60% dos pacientes, mas às custas de hipotensão, ou seja, efeitos colaterais
sérios que a contraindicaram no tratamento.
Aplicações locais
de toxina botulínica (Botox) nos músculos envolvidos têm sido utilizadas em
casos de bruxismo do sono que não respondem ao tratamento convencional
A Fisioterapia é utilizada com bastante valia como
coadjuvante no tratamento do bruxismo. O laser de onda infra vermelho é
utilizado, para redução da dor muscular e originados de problemas dos nervos
(lesões e nevralgias). O tens, é um aparelho que imita os impulsos nervosos,
que geram a movimentação músculos, visando promover o relaxamento muscular, na
terapêutica, do tratamento da ATM (articulação temporomandibular.
Ambos (o Tens e o Laser), tem a função de redução dos sintomas de dor e das tensões musculares, pela liberação pelo nosso corpo da endorfina, que tem princípios semelhantes a morfina, que tem função analgésica, relaxante e calmante.
Ambos (o Tens e o Laser), tem a função de redução dos sintomas de dor e das tensões musculares, pela liberação pelo nosso corpo da endorfina, que tem princípios semelhantes a morfina, que tem função analgésica, relaxante e calmante.
Importante:
1. O
bruxismo não é controlado por ajuste oclusal, não há diferenças morfológicas
oclusais entre pacientes com e sem bruxismo, a interferência oclusal não
aumenta a atividade eletromiográfica de masseter e ainda, sabe-se que, o
contato oclusal no bruxismo do sono é o último evento a acontecer em um
episódio de bruxismo.
2.
Qualquer sinal de
desgaste dental, dor e cansaço na musculatura, principalmente ao acordar ou ao
mastigar, procure um especialista em dor orofacial.
3.
Vale
lembrar que pacientes portadores de bruxismo devem realizar um
acompanhamento odontológico rigoroso e mesmo o uso da placa oclusal
deve ser avaliada e ajustada periodicamente.
4.
O
bruxismo em crianças de até 6 anos é normal, faz parte do
desenvolvimento dos ossos da face. Só intervimos, se estiver prejudicando os
dentes e causando problemas de desgaste excessivo ou mobilidade dental. Nesses
casos, deve-se tomar medidas de proteção, para os dentes (como o uso de placa
de mordida, de silicone - diferente da placa para o tratamento da ATM, que
normalmente é rígida ou dura). Após dessa idade, deve ser tratado, através de
uma terapia de apoio.
Em
A – vista frontal mostra os movimentos que o paciente faz, rangendo seus
dentes. B – placa oclusal utilizada no tratamento do bruxismo. C – paciente
adaptando a placa oclusal nos dentes superiores. D – vista frontal do paciente
usando a placa oclusal para bruxismo.
Fonte:
Casos clínicos dr. Edgley Port
Por: Edgley Porto
Email: edgleys.porto@hotmail.com
Fan page:
https://www.facebook.com/pages/Dr-Edgley-Porto-Cirurgia-e-Traumatologia-Maxilofacial/342241135868911?ref=hl
Bibliografias sugeridas:
|

Atua
nas áreas de Cirurgia e Trauma, Dor Orofacial e Disfunção Têmporo-Mandibular,
Diagnóstico e Patologia Bucal, Implantes Dentais e Laser.
Pós-graduando
em Gestão em Saúde pela UEPB.
Possui
coluna mensal onde trata sobre temas relevantes da sua área nos portais:
Contato:
Telefone:
8807-8508
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Twitter: @DrEdgley_Porto
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