Grávida e marido vivem há um mês em jazigo ao lado do túmulo da filha.
Casal está há um mês morando num jazigo |
Grávida e sem ter onde morar, Sandra
da Silva, de 25 anos, encontrou abrigo no Cemitério Santa Cruz em Guajará-Mirim
(RO), município a cerca de 330 quilômetros de Porto Velho. Ela vive junto com o
marido, Josiano Cavalcante, de 23 anos, em um jazigo. O casal já está no local
há cerca de um mês. Segundo ela, a família, dona do mausoléu, registrou um
boletim de ocorrência e pede a saída deles.
Tudo começou quando os dois foram
visitar o túmulo da filha que morreu afogada num balde de água em outubro de
2013 e perceberam o jazigo aberto. Com a oportunidade, os dois decidiram fixar
moradia ali mesmo porque já estavam há dois dias na vivendo na rua.
À época da morte da filha, eles
moravam em um barco de uma empresa que faz o transporte de passageiros entre
Guajará-Mirim e Surpresa, distrito do município onde moram os pais de Josiano.
"Depois do que aconteceu com a nossa filha desanimamos de tudo. Eu rezo
quando fico perto da bebê, porque ela está na paz", revela Josiano. Os
dois não falam sobre a morte da criança e também não explicam como moravam no
barco e nem se trabalham para a empresa.
No jazigo invadido por eles, o casal
dorme em um colchão no chão. "Em cima do defunto é desrespeito",
enfatiza Josiano que durante o dia sai para catar latinhas. Sandra fica cuidando
da "casa" e tenta manter tudo limpo e organizado. Eles usam o túmulo
para colocar enfeites. Como o cemitério tem água encanada, eles a usam para
beber, lavar roupa e tomar banho. Com uma ferida na perna exposta a moscas, ela
termina faxina diária e passa o restante do dia sentada num túmulo cuidando da
sepultura de sua filha.
Jazigo fica próximo ao túmulo da filha do casal |
Ele diz que pretende ir para Tangará
da Serra (MT), município onde vive a família de Sandra, mas não tem recursos
para custear a viagem. "Quero voltar para Mato Grosso, mas as passagens
estão cada vez mais caras", lamenta ele. Sandra diz que saiu de lá há
cerca de três anos e com o tempo, perdeu o contato.
Sem ter feito nenhum exame médico,
Sandra acredita que já esteja para completar nove meses de gestação. Ela afirma
ter família no Mato Grosso e há cerca de três anos não fala com eles, por falta
de condições. Os vizinhos do cemitério ajudam os dois e dizem que a família de
Josiano já foi diversas vezes tentar tirar o casal de lá, mas eles se recusam a
sair. Alguns vizinhos também afirmam que eles são usuários de droga, mas não
incomodam ninguém.
A família dona do mausoléu pede a
saída do casal, segundo Sandra. "Se vierem tirar a gente, nós vamos
procurar outra sepultura para ficar", afirma Josiano ressaltando que a
Polícia Militar já esteve no local e pediu que eles deixassem a sepultura.
A secretária municipal de Trabalho e
Assistência Social, Ester Lopes, afirmou que desconhecia a situação do casal,
mas garantiu ao G1 que irá tomar providências com urgência.
G1/RO
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