Justiça bloqueia 281 títulos da BBom.

Acusada de ser uma pirâmide
financeira que atraiu 300 mil pessoas, a BBom é investigada também por suspeita
de lavagem de dinheiro. O negócio é comandado por João Francisco de Paulo, um
empresário do interior paulista.
Em julho de 2013, a BBom e seus
responsáveis tiveram R$ 300 milhões congelados por decisão da 4ª Vara Federal
Cível de Goiás. A medida, porém, não havia alcançado os R$ 1,3 milhão
depositados nos 281 títulos de capitalização da Brasilcap – o bloqueio só foi
determinado no fim da semana passado.
Segundo o iG apurou, os títulos
tinham menos de R$ 50 mil (a média simples é R$ 4,6 mil) aplicados. O valor é o
mínimo necessário para que compras de títulos de capitalização – individual ou
em conjunto – sejam comunicadas obrigatoriamente ao Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf), um dos órgãos responsáveis pelo combate à
lavagem de dinheiro no Brasil.
Com a ressalva de que não fala
especificamente sobre o caso da BBom, o advogado Euro Bento Maciel Filho diz
que a realização de pequenos investimentos em títulos de capitalização pode ser
"uma forma inteligente de pulverizar dinheiro" e escapar ao crivo do
Coaf.
"O Coaf, em tese, não tem
conhecimento sobre essas transações", afirma Maciel Filho, que é mestre em
Direito Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Outras transações mais vultuosas
feitas pela BBom acabaram identificadas pelo órgão, e parte dos valores foram
bloqueados pela 6ª Vara Criminal Federal, onde a empresa é acusada de lavagem
de dinheiro e crime contra o sistema financeiro nacional.
Em um dos casos, como o iG mostrou,
a BBom transferiu R$ 20 milhões a uma empresa que já foi administrada por João
Francisco de Paulo, e cuja dona tem sede num paraíso fiscal. Desse total,
apenas R$ 2,94 milhões (15% do valor) foram efetivamente congelados – o
restante escapou.
Como investimento, título de
capitalização não faz sentido.
Os títulos de capitalização costumam
oferecer um retorno baixo em troca da possibilidade de o aplicador ganhar algum
prêmio. Por isso, não são considerados um bom tipo de investimento e mais uma
aposta, diz o educador financeiro Reinaldo Domingos, que também ressalva não
falar especificamente sobre o caso BBom, mas sobre a aplicação de R$ 1,3 milhão
em 281 títulos de capitalização.
"Não é comum uma pessoa
jurídica fazer esse tipo de investimento", afirma. "Com certeza
existiu dinheiro fácil no passado."
Lançada em fevereiro de 2013 como um
braço de marketing multinível da Embrasystem, que atua no mercado de
rastreadores, a BBom fez o faturamento do grupo disparar 3.000% até o bloqueio
provisório, seis meses depois.
Para o Ministério Público Federal em
Goiás (MPF-GO), essa disparada foi sustentada pelas taxas de adesão de R$ 600 a
R$ 3 mil pagas por quem aderiu ao negócio. Assim, a BBom dependia do dinheiro
dos associados, e não da venda de assinaturas de rastreadores, num típico esquema
de pirâmide, no entender dos procuradores da República.
Em novembro de 2013, a BBom obteve
uma liberação parcial e provisória no Tribunal Regional Federal da 1ª Região
(TRF-1), com sede em Brasília. Em maio deste ano, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) questionou a investigação criminal contra a empresa, mas ela
continua a ocorrer– no início deste mês, a Polícia Federal apreendeu documentos
da empresa em três cidades de São Paulo.
Procurados por e-mail, os
representantes da BBom não retornaram os contatos. Em outras ocasiões, eles
sempre negaram irregularidades. O Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO),
que pede a extinção da empresa, também informou que não se pronunciaria. A
Brasilcap também não comentou.
IG
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