CUBATÍ: Agricultoras organizadas na luta por espaços de comercialização solidária no Seridó Paraibano.
Uma das cinco visitas de intercâmbio
do “I Encontro Nacional de Agricultoras Experimentadoras” da Articulação
Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) realizadas nesta quarta-feira, (24), foi
conhecer a experiência da agricultora Solange José de Medeiros, na comunidade
Capoeiras, no município de Cubati, Seridó da Paraíba, sobre o tema de acesso a
mercados. Solange vive com o marido e os pais em uma propriedade de apenas dois
hectares.
Ela é presidente da associação da
comunidade, facilitadora dos cursos de formação dos programas Uma Terra e Duas
Águas (P1+2) e Um Milhão de Cisternas (P1MC), liderança religiosa e integrante
da comissão de sementes do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura
Familiar, uma das dinâmicas territoriais que integram a Articulação do
Semiárido Paraibano (ASA Paraíba). Apesar da pouca terra, a agricultora tem uma
produção diversificada com as hortaliças: cebolinha, couve, berinjela,
pimentão, coentro, pimenta dedo de moça, tomate cereja. Além de roçados de
beterraba, palma doce e fava cearense, entre outros. As plantas medicinais:
hortelã, malva rosa, anador, capim santo, dipirona, arruda, alecrim e sabugueiro.
Tem ainda as frutas: romã, maracujá, graviola, acerola.
A agricultora é uma das gestoras da
“Feira da Agricultura Familiar do Município de Cubati”, que acontece toda
última quarta-feira de cada mês, no largo ao lado da Igreja Matriz da cidade. A
feira surgiu em março de 2014 a partir da organização das famílias agricultoras
por meio do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural. Atualmente a feira tem
12 famílias cadastradas e seis delas participam de forma periódica. As
participantes do encontro conheceram a feira e tomaram café no local com os
feirantes. Em seguida, foram até a comunidade de Solange conhecer de perto a
forma como ela organiza a sua produção ao lado da cisterna calçadão do P1+2.
“No início o meu marido não acreditava que eu pudesse sair por aí vendendo os
meus produtos. Mas eu me sinto como uma borboleta que saiu do casulo, eu me
libertei e mostrei que posso e hoje eu sou quem vende o queijo de cabras que
ele produz. Acredito que primeiro a gente tem que ir construindo a nossa
autonomia dentro de casa pra depois ir conquistando na sociedade”, comenta
Solange.
Intercâmbio à propriedade da família
de Solange, uma das gestoras da feira | Foto: Áurea Olímpia Beneficiamento e
comercialização – As visitantes também conheceram a sede do grupo de
beneficiamento de frutas do qual Solange participa. Como no local há grande
disponibilidade de frutas nativas como o umbu e o caju, um grupo de sete
mulheres viu a oportunidade de acabarem com o desperdício e ainda gerarem renda.
Em 2009 com o apoio do Coletivo e do
Patac (Ong que presta assessoria às famílias agricultoras da região) elas
participaram de intercâmbios e aprenderem com outras mulheres de que forma
poderiam se organizar e fazer o projeto da casa de beneficiamento se
concretizar.
Iniciaram produzindo em uma casa
emprestada com o material e os utensílios trazidos pelas próprias agricultoras,
acessaram mercados institucionais como os Programas PAA (Programa de Aquisição
de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), vendendo
polpas de frutas e doces. Hoje já com sede própria e adequada de acordo com as
exigências da vigilância sanitária, o grupo se ampliou de sete para nove
mulheres e ainda com pessoas que querem entrar: “As pessoas que antes achavam
que não ia dar certo, hoje estão querendo entrar no grupo, pois viram o
resultado”, disse Maria das Dores Medeiros, outra integrante do grupo de
mulheres.
Luzia Bezerra, conhecida como Lita,
agricultora do município de Itatuba, no Agreste Paraibano, destacou a
necessidade de, ao voltar do encontro, as pessoas compartilharem o que
aprenderam em suas comunidades: “Espero que nessa troca a gente consiga dar início
a novas experiências nas nossas comunidades. É uma riqueza o que estamos vendo
aqui e na minha comunidade eu aproveito, assim que chego, ainda no ‘quente’
para reunir as mulheres e repassar o que eu vejo aqui”, afirmou.
O “I Encontro Nacional das Agricultoras
Experimentadoras”, aconteceu nestes dias 23 e 24 de setembro, em Lagoa Seca, no
Brejo Paraibano e reuniu mais de 100 agricultoras de todo o Semiárido
Brasileiro. Com o lema “Celebrando conquistas na Trajetória da ASA”, o encontro
foi um espaço de reafirmação do papel das mulheres agricultoras na construção
do modelo de convivência com o semiárido que a ASA vem construindo ao longo da
sua existência. As visitas de intercâmbio aconteceram no segundo e último dia
do encontro nos municípios de Olivedos, Cubati, Massaranduba, Queimadas e
Boqueirão, sobre os temas: criação animal, manejo da água, diversificação
produtiva nos quintais, sementes e acesso a mercados.
Áurea Olímpia - comunicadora popular da ASA
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