Criado na UFCG, Projeto para retirar sal da água do mar é alternativa para o fim da seca. Projeto funciona em Santa Luzia do Seridó.
Em meio à seca que se agrava e causa
sérios problemas não só para 198 municípios da Paraíba, mas também para várias
áreas do Nordeste e até mesmo para a cidade de São Paulo, os projetos de
dessalinização de água extraída de poços ou do mar aparecem como alternativas viáveis
e baratas que podem pôr fim a esse problema.
Quem explica a ideia é o coordenador
do Laboratório de Referência em Dessalinização (Labdes) da Universidade Federal
de Campina Grande, Kepler Borges Franca. Doutor em Engenharia Química com
formação na Inglaterra, ele está há cerca de 30 anos desenvolvendo estudos nessa
área. Segundo Kepler, extrair o sal da água do mar em uma região litorânea,
como a da Paraíba que tem cerca de dez cidades, desafogaria o sistema de
abastecimento em parte do interior do estado.
A água é retirada do mar por meio de
bombas; passa por tubos até o reservatório de dessalinização, onde é filtrada
em membranas poliméricas, feitas com material orgânico e resistentes à alta
pressão; e chega tratada até outro reservatório.
Como exemplo de utilização dessa
prática, Kepler cita a ilha de Fernando de Noronha. Localizado na costa Norte
do Brasil, próximo do Rio Grande do Norte, mas sob o Governo de Pernambuco, o
local com cerca de 3 mil habitantes é o único no país totalmente abastecido com
água dessalinizada e retirada do mar, segundo fala o doutor.
“Extrair a água do mar para
distribuição nas cidades próximas do litoral desafogaria em cerca de 30% o
sistema de abastecimento em outros municípios mais distantes da costa. Em Fernando
de Noronha a ideia é muito bem sucedida. Na Paraíba, a proposta ainda se
restringe à utilização em poços, presentes em centenas de cidades do estado”,
ressalta.
Sobre os custos, Kepler disse que a
água dessalinizada pode ficar entre R$ 1 e R$ 2 o metro cúbico, valor que
aumenta um pouco quando acrescido de manutenção e pagamento de funcionários,
por exemplo. Para a instalação da usina, o doutor fala que tudo depende da
demanda.
A respeito da pureza da água
extraída do mar, principalmente quando há relatórios semanais da Sudema
indicando poluição em algumas praias do estado, Képler garante que o sistema de
purificação por membrana é altamente eficiente e não só retira o sal, como
também todos os micro-organismos nocivos.
O coordenador do Labdes lembra que a
dessalinização da água vem sendo utilizada no exterior, como em cidades dos
Estados Unidos e na Venezuela, onde uma usina para essa finalidade está sendo
construída para fornecer 200 mil litros de água por segundo, a 550 km da
capital Caracas.
No Nordeste, ele diz que há 1.860
sistemas de dessalinização instalados. Além de fornecer água portável para
consumo, a ferramenta pode melhorar a economia local, com agricultura e
irrigação. A ideia também é levada para comunidades distantes, como na região Norte,
onde o Amapá já tem populações beneficiadas com a purificação de água por
membranas poliméricas.
Na comunidade rural de Uruçu, em São
João do Cariri, a 216 km de João Pessoa, cerca de 600 pessoas são beneficiadas
com um sistema de dessalinização para água extraída de poço. Segundo o doutor, a ideia é replicada na
comunidade Santa Luzia, na cidade de Picuí, a 250 km da Capital, onde outras
1.100 pessoas também deve receber nos próximos meses água potável por meio
desse método.
“Acredito nesse sistema como uma
solução viável para o abastecimento de água no mundo. Além de ser barato, é
bastante eficiente quanto à filtragem. Apesar dessa alternativa, é importante
que as pessoas utilizem a água de forma consciente e que os gestores não deixem
de lado as opções de desenvolvimento sustentável que protejam o planeta e
garantam qualidade de vida”, finaliza Kepler.
Correio
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