Mais de 120 mil famílias da PB não têm moradia.
A Paraíba possui um déficit
habitacional de 120.741 moradias, segundo dados do Ministério das Cidades. O
número tem como base o Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e demonstra uma realidade que não modificou
muito, mesmo com o passar dos anos. Atualmente, pelo menos 150 mil pessoas
ainda estão inscritas junto à Companhia Estadual de Habitação Popular da
Paraíba (Cehap) aguardando serem contempladas com o direito a benefícios de
habitação popular.
De acordo com a diretora presidente
da Companhia, Emília Correia, nos últimos três anos, período em que assumiu a
gestão do órgão, 8,5 mil moradias foram entregues em todo o Estado. Além dessas
moradias, a expectativa é que, até o fim deste ano, outras 4.953 sejam
finalizadas e também entregues. “Arredondando os números, em dezembro deste ano
teremos entregado quase 15 mil casas na Paraíba. Além destas, também temos
outras 9.253 obras em andamento”, comentou.
Além das obras em andamento e
daquelas que têm previsão de entrega até dezembro deste ano, pelo menos outros
10.1514 projetos de habitação popular estão prontos aguardando apenas a
liberação da verba e posterior contratação das empresas para iniciarem.
Na expectativa de que seu nome
esteja entre esses números está Angélica Barbosa, de 33 anos. Ela está
desempregada e hoje mora, junto com o marido e dois filhos, em uma ocupação que
fica no antigo Hotel Tropicana, na capital, conhecida como 'Tijolinho
Vermelho'. Lá, segundo ela, o espaço é dividido com outras 270 famílias, todas
inscritas na Cehap aguardando serem contempladas.
“Eu morava de aluguel, até que
começou a não dar mais. Eu tive que decidir: ou eu tinha um teto ou comida para
comer. Decidi vir para cá e, pelo menos, ter dinheiro para comprar uma feira.
Não foi uma decisão fácil, mas eu tive que decidir, pela vida dos meus filhos”,
disse.
Segundo Angélica, que, para
sobreviver, muitas vezes chega a trabalhar vendendo água no fim de semana,
quando o dinheiro dá para comprar, há mais de 11 anos ela é inscrita nos
programas de habitação, mas, até hoje, ainda não foi contemplada. “Quando eu me
inscrevi pela primeira vez um filho meu era recém-nascido e agora ele tem 11
anos. É muito tempo esperando. Dessas famílias que eu conheço que também se
cadastraram, só três foram contempladas”, disse.
Na mesma situação que Angélica está
Maria de Jesus Marques, 32 anos. Há três meses ela mora em uma ocupação situada
no bairro Treze de Maio, em João Pessoa, chamada 'Capadócia II'. Lá, ela montou
um barraco na expectativa de também ser contemplada com projetos habitacionais,
o que ela espera há, pelo menos, cinco anos. “Eu tinha feito um cadastro em
2009 e depois disseram que não valia mais. Aí eu nem me cadastrei mais. Agora
soube que o povo ia ocupar aqui e vim também, na esperança de ter minha
casinha”, comentou. Ela mora junto com a filha, o genro e uma neta de apenas
três meses. Segundo Maria de Jesus, ir morar na ocupação foi a única
alternativa, porque pagar um aluguel de R$ 400 começou a se tornar inviável.
“Lá em casa a gente só tem a renda do meu genro, e ele recebe um salário”,
relatou.
Maria de Jesus está fora das
estatísticas da Cehap, por não ter feito cadastro junto ao órgão, mas, ainda
assim, faz parte da parcela de paraibanos que não têm uma casa para morar. Para
ela, a esperança é que, após a ocupação de um terreno junto com outras 88
famílias, ela possa ser contemplada. “Vieram aqui e disseram que a gente vai
poder ser contemplado com uma casa. Começaram a pegar os nomes para cadastrar a
gente. Eu mesma tenho esperanças”, afirmou.
Conforme a diretora presidente da
Cehap, Emília Correia, as 150 mil pessoas inscritas não correspondem ao déficit
real vivenciado hoje pela Paraíba. “Muitas pessoas se inscrevem sem nem ter
acesso ao direito. Quando vamos avaliar a situação daquelas pessoas, vemos que
elas não podem ser contempladas, seja pela renda ou por algum outro motivo”,
alegou.
Ainda assim, Emília reconheceu que o
déficit de moradias da Paraíba é alto e justificou que isso foi devido a um
período de 15 anos em que o país ficou sem políticas habitacionais. De acordo
com ela, além das habitações entregues, outros projetos são desenvolvidos pelo
órgão que não têm contrapartida do governo federal, a exemplo de condomínios
residenciais para idosos. Em João Pessoa, um já foi entregue e a perspectiva é
de que outro seja finalizado até o fim do ano. “Ainda temos outro em
Cajazeiras. Além disso, estamos tentando parcerias com prefeituras”, disse.
JPOnline
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