Governo do Estado fracassa nas tentativas de equilibrar contas.
A
Paraíba fechou 2015 no vermelho e o governador Ricardo Coutinho (PSB) corre
atrás do prejuízo para garantir o equilíbrio fiscal do Estado, mas a conta não
fecha. No ano passado, o governo extrapolou em mais de 5 pontos percentuais a
despesa com pessoal e fechou o mês de dezembro com um comprometimento de 65,37%
da receita corrente líquida com pagamento da folha. O limite máximo é 60%. Com
a arrecadação sofrendo sucessivas quedas e, em contrapartida as despesas
aumentando, o governador baixou decreto na terça-feira (19) para revisar todas
as licitações e contratos, além das dívidas com fornecedores.
A
medida preocupa o empresariado, que teme sofrer calote. O presidente da
Associação Comercial de Campina Grande (ACCG), Álvaro Morais, afirmou que o
decreto governamental prejudica principalmente as empresas que já realizaram
serviços, tiveram despesas e agora vão ter que renegociar contratos de serviços
já executados. “Uma redução dessa (15%) é preocupante. Para aqueles contratos
ainda não realizados existe a possibilidade de baratear, cortando alguma coisa,
mas e quem já executou o serviço?”, avaliou.
Desde
2014, portanto antes da crise econômica ganhar a dimensão atual, Coutinho tem
publicado uma série de decretos para reduzir as despesas do Estado, mas o saldo
ainda não foi positivo. A “quebradeira” pode ser comprovada através de uma
breve análise no histórico das metas e resultados alcançados no Programa de
Ajuste Fiscal (PAF). Das seis metas estabelecidas no Programa de Ajuste Fiscal
do Estado da Paraíba (PAF), apenas uma foi alcançada.
A
previsão do governo para dezembro era comprometer 30,55% da Receita Líquida
Real (RLR) com outras despesas correntes, mas encerrou o ano com um
comprometimento de 32,85%. Além disso, a arrecadação própria não foi a prevista
para o período. Conforme o histórico do PAF, em dezembro a arrecadação chegou a
R$4,8 milhões, mas a meta estabelecida era de R$ 4,8 milhões.
Apesar
das constantes medidas para reduzir despesas, os gastos do Estado com pessoal
fizeram caminho inverso. Ao longo de 2015, somente nos meses de janeiro e
fevereiro a meta para comprometimento de 60% da Receita Corrente Líquida (RCL)
com pessoal foi atingida. Nos meses seguintes, o que se pode verificar são
sucessivos aumentos no percentual de comprometimento, que atingiu o maior
índice no último mês do ano, com 65,37%.
Justificando
a necessidade de enfrentar a crise financeira, Coutinho recorreu diversas vezes
à presidente Dilma Rousseff (PT) em busca de mais recursos federais. Outra
saída encontrada pelo governador foi contratar empréstimos com bancos
internacionais, mas só no último semestre de 2015 as operações foram aprovadas
pelo Planalto.
Na
última terça-feira, Coutinho publicou ato governamental criando a Câmara de
Conciliação e Instrução, que tem como principal objetivo reavaliar as
licitações em curso para compras, as contratações de bens e serviços, buscando
a redução de custos. A meta é economizar no mínimo 15%.
Oposição
aproveita para criticar
O
pacote de medidas adotadas por Coutinho provocou reações na classe política. O
senador Cássio Cunha Lima (PSDB), seu adversário na disputa pelo governo do
Estado, em 2014, prevê que a reavaliação dos contratos vai causar um forte
impacto no empresariado paraibano, sobretudo nas empresas que já prestaram
serviço e aguardam o Estado quitar os pagamentos pendentes, o que deve refletir
também em um aumento considerável no desemprego.
“Assim
como a presidente Dilma Rousseff, para vencer a eleição, Ricardo Coutinho
gastou muito mais do que devia”, afirmou. Já o vereador da capital Bira Pereira
(PSD) avaliou os atos do governador como sendo reflexos da falta de
planejamento e gestão para enfrentar crise. Para ele, o último decreto assinado
por Coutinho vai ser “uma grande dor de cabeça” para as empresas fornecedoras
da administração estadual.
Outro
lado
O
procurador-geral do Estado, Gilberto Carneiro, e o secretário de Comunicação,
Luís Torres, ocuparam espaços na mídia, ontem, para negar a existência de
calote nas renegociações de dívidas do ente governo do Estado. Carneiro
garantiu que os fornecedores não deixarão de receber pelo serviço prestado,
entretanto, espera que eles negociem a redução dos valores. Torres usa
argumento semelhante, lembrando que as medidas são necessárias para o equilíbrio financeiro do Estado.
JPOnline
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