Homicídio de mulheres cresce 260% na Paraíba.
Em
sua última pesquisa sobre feminicídio – mortes de mulheres por conflitos de
gênero –, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou a Paraíba
como o 4º Estado do Nordeste mais perigoso para uma mulher viver. Segundo a
pesquisa, entre 2009 e 2011 foram quase sete assassinatos por 100 mil mulheres,
taxa acima da média nacional, que foi de 5,82 óbitos.
No
total foram 408 mulheres mortas pela sua condição de mulher, média de 136
mortes ao ano, enquanto no país foram 16.994. As regiões Nordeste, Centro-Oeste
e Norte apresentaram as taxas de feminicídios mais elevadas, respectivamente
6,90; 6,86 e 6,42 mortes por 100 mil mulheres.
Em
seu estudo “Tolerância social à violência contra as mulheres”, o Ipea constatou
dados alarmantes sobre a forma como a sociedade encara direitos básicos das
mulheres.
De
acordo com a pesquisa, 63% dos entrevistados concordaram total ou parcialmente
que violência doméstica deve ser resolvida somente entre membros da família;
89% dos entrevistados tenderam a concordar que “a roupa suja deve ser lavada em
casa”; e 82% que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
Na
mesma pesquisa, quase 64% das entrevistadas e dos entrevistados afirmaram
concordar total ou parcialmente com a ideia de que “os homens devem ser a
cabeça do lar”, enquanto para 79% dos entrevistados “toda mulher sonha em se
casar”. A pesquisa revelou também que, segundo a maior parte das pessoas
ouvidas, o comportamento sexual feminino está diretamente ligado ao seu
caráter, já que quase 55% concordaram que “tem mulher que é para casar e tem
mulher que é para cama”.
O
último Mapa da Violência, divulgado ano passado pela Faculdade Latino-Americana
de Ciências Sociais ( Flacso), em parceria com a ONU Mulheres e Secretaria
Especial de Políticas Para as Mulheres, mostrou que a taxa de homicídios de
mulheres na Paraíba cresceu 260% entre 2003 e 2013, saltando de 35 para 126. Em
todo o Nordeste, o aumento foi de 93,7%, passando de 798 para 1.546. Em todo o
país, segundo estimativas apontadas no estudo, foram 13 assassinatos por dia em
2013. O Sudeste foi à única região que apresentou queda no percentual de
feminicídio nos dez anos analisados, caindo de 2.070 para 1.604 (-22.5%).
3 Perguntas
Para Margarete Almeida, membro do Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisa e Ação sobre Mulher e Relações de Sexo e Gênero
(Nipam) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mídia e Gênero (GEM), ambos da
UFPB.
JP:
Na sua avaliação, qual a importância da lei que garante cirurgia plástica
reparadora para mulheres vítimas de violência física?
Essa
é uma lei transversal às garantias da Lei Maria da Penha. Não basta punir o
agressor, é necessário dar garantias de sobrevivência às mulheres vítimas da
violência, que deixam sequelas no corpo físico, emocional e mental. De acordo
com o Mapa da Violência 2015, duas em cada três mulheres que sofreram violência
precisam de atenção médica. As sequelas são diversas, muitas são queimadas,
mutiladas, sofrem lesões corporais graves, com deformidade ou perdas de
membros.
JP:
Este ano a Lei Maria da Penha completa dez anos. O que significa a chegada
desse instrumento ao país?
Um
avanço para a sociedade brasileira e um marco histórico de proteção contra
a violência às mulheres, com impacto
positivo para coibir, punir e prevenir a violência doméstica e familiar.
Além de hoje ser crime e ter o sistema
de punição mais rigoroso por lei, as mulheres hoje podem contar com mais
delegacias especializadas, mecanismos de prevenção e denúncia, como o 180, assistência às
vitimas, entre outros. Mas estamos longe
de ter mudanças realmente transformadoras.
JP:
Diante de um congresso conservador, qual importância em se reforçar a luta por
direitos humanos?
Vivemos
um período de refluxo conservador em todo mundo. É um momento, citando Caetano
Veloso, que é preciso estar atento e forte. As forças opressoras da política
brasileira tem representado uma ameaça aos direitos das mulheres e LGBTs. É o
retrocesso da garantia básica de direitos humanos já conquistados. Com uma
mistura de discurso de ódio atrelado à religião conservadora, é uma bomba de
pautas misoginas, sexistas, homofóbicas, abusivas que ferem a Constituição e os
direitos de mulheres.
JPOnline
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