Eduardo Cunha mancha o Congresso.
O
processo instaurado contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
bate recorde de tramitação no Conselho de Ética da Casa, com seis meses de
procrastinações causadas por manobras de aliados de Cunha. Por isso, há no
Supremo pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que a
Corte afaste Cunha do cargo, cujos poderes são manipulados por ele em defesa
própria.
Formalmente
da base do governo, o deputado fluminense passou a ser tratado como inimigo ao
ganhar a presidência da Câmara, na atual legislatura, derrotando o candidato do
Planalto, o petista Arlindo Chinaglia, com votos de sobra. Entrou, então, em
choque com a presidente Dilma e, cumprindo prerrogativas do cargo, aceitou
pedido de impeachment contra a presidente.
A
beligerância de Cunha com PT e Dilma, bem como seu prontuário, é usada para
desqualificar o processo de impedimento, tachado de “golpe” pela presidente e
lulopetistas. Fingem não saber que toda a tramitação do impedimento tem
respaldo no Supremo, responsável pelo rito do processo, e que até agora
rejeitou recursos impetrados por Dilma.
Além
de tudo, a admissibilidade do pedido de impeachment de Dilma recebeu sinal
verde na Câmara com votação maciça, e deverá ser aprovada pela comissão
especial instalada no Senado para decidir se o processo irá a julgamento.
Tudo
à margem de Eduardo Cunha. Mas a sobrevivência do mandato dele mancha o
Congresso. Já existem contra ele quatro inquéritos e uma ação penal no Supremo,
além do pedido de afastamento da presidência da Câmara protocolado pela PGR.
Sua
bancada de defensores no Conselho de Ética atua com extremo cinismo. Deseja que
ele seja julgado apenas pela acusação de ter mentido, na CPI da Petrobras, ao
garantir não ter contas na Suíça — as quais de fato possui.
As
provas da existência de dinheiro não declarado no exterior, a bancada acha
desimportantes. O lobista Fernando Baiano, já condenado pela Lava-Jato, depôs
no Conselho na terça, quando confirmou ter passado dinheiro desviado da Petrobras
para Cunha, mas disse não saber de contas no exterior. O que parece ter
agradado aos aliados do presidente da Câmara. Mas o próprio Fernando Baiano, ao
ser sabatinado, disse que o nome certo para aquele dinheiro é mesmo “propina”.
A
expectativa é que, passado o impeachment, o Supremo acelere definições sobre
acusações a parlamentares encaminhadas à Corte pela Lava-Jato, entre os quais
Eduardo Cunha, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e vários
políticos também de outros partidos.
Será
um desdobramento saudável para as instituições republicanas.
Editorial de O Globo
Nenhum comentário