Construção de cisternas leva desenvolvimento à região do semiárido.
Em tempos de grave seca no
Nordeste e no norte de Minas Gerais, a Fundação Banco do Brasil (FBB) anunciou,
nessa quarta-feira (22), novo investimento social para garantir o acesso à água
potável a cerca de 14,3 mil pessoas em nove estados do semiárido.
Serão destinados RS 17,3
milhões para a implantação de 3.588 cisternas para captação e armazenamento de
água nos estados de Alagoas, da Bahia, do Ceará, de Minas Gerais, da Paraíba,
do Piauí, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte e de Sergipe.
A fundação firmou convênio
com a Articulação do Semiárido (ASA), rede formada por mais de 3 mil
organizações da sociedade civil, que será responsável pela identificação e
mobilização dos beneficiados, além da construção dos reservatórios e da
assessoria técnica.
As novas cisternas serão
divididas em dois tipos: 3.198 voltadas para o consumo básico, que é água de
beber, conhecidas como Cisternas de Placas; e 390 relacionadas à produção de
alimentos e à criação de pequenos animais, chamadas de Cisterna Enxurrada e
Calçadão.
Nos últimos quatro anos, a
FBB já implantou 80 mil unidades de consumo básico e 12 mil de produção, em
parceria com a ASA, correspondendo a investimento total de R$ 327 milhões, que
beneficiou 350 mil pessoas. “Estudos sobre os impactos positivos gerados por
essa tecnologia social indicaram a redução na incidência de doenças e o aumento
na frequência escolar entre crianças e jovens”, informou a fundação.
Família
beneficiada
O sítio da família Silva
Oliveira, localizado na cidade de Esperança, zona rural da Paraíba, foi um dos
beneficiados pelo projeto de cisternas. Dona Lia e seu Miguel Antônio tiveram
oito filhos, que foram migrando para a cidade em busca de renda e sustento. A
cisterna, além de garantir água para beber e cozinhar, possibilitou que seus filhos
conseguissem renda a partir da plantação no próprio sítio.
Hoje, Delfino, 23 anos, um
dos filhos do casal, fincou raízes na zona rural, onde se casou e pretende
continuar vivendo. Mas nem sempre foi assim, contou o rapaz. “A gente nasceu e
se criou aqui. Alguns dos meus irmãos foram para a cidade, eu também queria ir
para a cidade, meu pensamento era esse. Com o passar do tempo, quando completei
a idade, eu disse 'não, agora chegou a minha vez, eu vou para a cidade que lá é
onde vou ganhar o meu pão'”.
Os jovens da zona rural
acabam saindo de suas casas pela falta de trabalho, imposta pela seca que
assola a região. “Não tinha incentivo, como eu ia ficar no sítio?”, disse
Delfino. Após ter acesso a projetos sociais, como o da FBB, Delfino enxergou
uma oportunidade no sítio. Primeiro, a família conseguiu uma caixa d'água,
depois a irrigação por gotejamento e finalmente a cisterna, que possibilitou
melhor produção de legumes, verduras e hortaliças. Atualmente, a família vende
essa produção em uma feira da cidade.
“Eu e meu irmão estamos
incentivados, a gente vai ficar no sítio. Essa casa aqui [construída para ele e
a mulher] já é fruto da feirinha, já consegui construir. É pequena, mas dá para
morar. No futuro, eu cresço. Esse carro aqui já foi fruto de renda”, comemorou
o rapaz.
Perspectiva
no semiárido
Dona Lia, 54 anos, contou
como levava água para casa antes da construção da cisterna no sítio. “[Trazia]
no carrinho de mão, nos baldes ou então na cabeça. Era longe que a gente pegava
água [a uma distância de 1 km]. Era água para tudo, era para tomar banho, para
beber, para cozinhar. E agora, com essa água para beber, da cisterna de 16 mil
litros, a gente tem água boa, água limpa, não é mais água de barreiro”, disse.
Depois de ver cinco de
seus filhos migrando para a cidade, que ela chama de “rua”, dona Lia disse
estar feliz com a decisão de Delfino e de mais dois filhos, de permanecer na
área rural. “Ele falava sempre de arrumar um emprego na rua, que também não
dava [para ficar] no sítio, mas agora ele não quer mais viver em rua”.
Ela comemora também a
renda própria e sua individualidade. “Eu faço polpa de fruta, as frutas eu
aproveito tudo, para vender e para a gente consumir. Graças a Deus, tenho
minhas plantinhas, arrumo meu dinheirinho”, disse. Segundo dona Lia, sem a
cisterna não tinha condição de plantar: “não plantava porque não ia carregar
água na cabeça para aguar [as plantas]. Mas, por toda a vida eu sempre fui
apaixonada por flor e agora consigo vender”.
Tecnologia
social
As Cisternas de Placas
foram certificadas como tecnologia social em 2001 pela FBB, com a finalidade de
captar e armazenar água de chuva. Para o consumo das famílias, o sistema
permite o acúmulo de até 16 mil litros, que atende às necessidades de uma
família de cinco pessoas pelo período de até oito meses. O equipamento é
composto por encanamento simples para recolher água da chuva nos telhados das
casas e por um reservatório no subsolo, revestido com placas.
Para as atividades
produtivas, as cisternas são de dois modelos: Calçadão e Enxurrada, que são
construídas perto das residências. As duas têm capacidade para 52 mil litros de
água. A diferença é que a Enxurrada é instalada no caminho por onde passa o
fluxo pluvial e a Calçadão capta de áreas em declive.
Agência Brasil
Nenhum comentário