Lula quer Haddad pronto para assumir candidatura.
Foi há 11 dias, num encontro
com três amigos e uma garrafa de uísque no instituto que leva seu nome, em São
Paulo, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou pela primeira vez
sem rodeios sobre o mapa de sobrevivência a ser implementado pelo PT caso sua
candidatura ao Planalto seja barrada.
Para os interlocutores, que
compõem a correia de transmissão de poder no partido, mostrava-se angustiado,
principalmente com o futuro dos filhos, mas sobre política foi o pragmático de
sempre.
Caso seus recursos no STJ
(Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal) não vinguem,
e a Justiça Eleitoral o impeça de entrar na disputa de outubro, sentencia,
Fernando Haddad deve ir para o aquecimento.
Naquele 13 de março, o STF
ainda não havia proibido a prisão de Lula até 4 de abril, quando a corte
retomará o julgamento de seu habeas corpus, mas a hipótese cada vez mais
concreta de que sua candidatura será barrada mostrava que seus caminhos estavam
mais estreitos.
Lula usou de habitual
metáfora para resumir como avalia hoje a situação de Jaques Wagner, seu
preferido para substituí-lo nas urnas caso seja impedido de concorrer nas
eleições. Disse que o ex-governador da Bahia levou um tiro, só não se sabe
"se no peito ou na canela".
Baleado ele próprio pela
Lava Jato, Lula referia-se à operação que investiga desvios na construção da
Arena Fonte Nova, em Salvador. A Polícia Federal indiciou Jaques por suspeita
de ter recebido R$ 82 milhões em propina do consórcio responsável pelo estádio,
o que ele nega.
Colocar em marcha o plano C
com Haddad não é o mundo ideal do ex-presidente, nem de dirigentes petistas que
consideram o ex-prefeito de pouco traquejo político e quase nenhuma disposição
de se envolver com os esquemas operacionais do partido.
Na conversa em sua sala,
argumentou que educação será tema importante na eleição presidencial, o que foi
visto como senha para manter Haddad nessa raia.
O ex-prefeito foi ministro
da Educação durante os governos Lula e Dilma Rousseff e responsável por
implantar o ProUni (Programa Universidade Para Todos), que concede bolsas de
estudos para alunos de baixa renda em universidades privadas.
MUITA CALMA
Na avaliação de assessores,
Lula sabe que deverá indicar alguém para substituir seu nome na corrida
eleitoral, mas é preciso impedir que ele adote esse discurso em público desde
já e desmobilize sua própria candidatura.
A tese é a de que, mesmo
preso, o ex-presidente tem que ser registrado candidato em 15 de agosto —fim do
prazo para que isso seja feito— e aguarde que a Justiça Eleitoral barre seu
nome com base na Lei da Ficha Limpa.
Em seguida, em meados de
setembro, pelas contas do PT, Lula indicaria seu substituto.
O fato é que o ex-presidente
tem sentido o peso da condenação que pode levá-lo à cadeia para cumprir pena de
12 anos e 1 mês pelo caso do tríplex em Guarujá (SP).
Considera "uma grande
bobagem" qualquer possibilidade de fugir do país e pedir asilo no exterior
e demonstra vigor em enfrentar o que chama de injustiça, mas demonstra
preocupação, principalmente com os filhos.
Diz que eles têm sido
perseguidos, não conseguem arrumar emprego e podem ficar em uma situação ainda
pior se o pai for preso.
Pelo menos dois dos cinco
filhos do ex-presidente enriqueceram na gestão do petista ao firmarem contratos
com empresas que tinham negócios com o governo.
Os dois empresários, Fábio
Luís e Luís Claudio, este dono da LFT Marketing Esportivo e alvo da Operação
Zelotes, viram as firmas naufragarem após as investigações.
Já Marcos Cláudio, filho do
primeiro casamento de Marisa Letícia e adotado por Lula, mudou-se com a mulher
para Paulínia, no interior de São Paulo, e chegou a trabalhar com venda de
carvão.
Folha de São Paulo
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