TCU promove Diálogo Público para debater privatização da Eletrobras.
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Ministro Aroldo Cedraz
discursa durante abertura do Diálogo Público
Foi
discutido projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados que propõe
aumentar o capital da estatal com a emissão de ações e reduzir a participação
da União de 60% para menos de 50%, levando a empresa ao controle privado.
O Tribunal de Contas da União
(TCU) realizou, na última terça-feira (27), o “Diálogo Público – Privatização
da Eletrobras: Repercussões setoriais para a modicidade tarifária e modelagem
societária”. O encontro foi realizado na sede do TCU, em Brasília (DF), com a
participação de diversas autoridades, entre elas os ministros da Fazenda,
Henrique Meirelles, de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, e do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Henrique de Oliveira.
Durante a abertura, o
ministro do TCU, Aroldo Cedraz, deixou claro que o objetivo do diálogo é
levantar questionamentos e contribuir para os avanços da administração pública.
“Eu queria dizer que o Tribunal tem buscado não só abrir as suas portas para o diálogo
público, mas que, acima de tudo, sabe que tem uma missão importante: contribuir
para os avanços da administração pública”, explicou o relator do tema Energia
no biênio (2017-2018).
De acordo com o
ministro-relator, o caminho certo, apesar de difícil, é o do aprendizado
organizacional, corporativo: “Este diálogo público é oportunidade ímpar para
juntos discutirmos as condições previstas para a privatização e identificarmos
os possíveis impactos que dela possam surgir sobre o setor elétrico brasileiro,
além de ponderarmos acerca do que pode ser previsto para a participação do
Estado no modelo proposto”.
Porém, Aroldo Cedraz
enfatizou que não compete ao Tribunal imiscuir-se na tomada de decisão
governamental quanto à conveniência de privatizar. “Jamais transgrediremos
aquela linha importante de respeito ao poder discricionário dos gestores”.
Em seguida, o ministro
Cedraz, anfitrião do Diálogo Público, passou a palavra aos convidados. O
primeiro a falar, o relator do Projeto de Lei 9.463/2018 (que dispõe sobre a
desestatização da Eletrobras) na Câmara dos Deputados, José Carlos Aleluia
(BA), declarou que o “projeto precisa de aperfeiçoamento político”, mas que
“tecnicamente é perfeito”. Para ele, há mudanças necessárias na Eletrobras que
são fundamentais. Uma delas é na área de tecnologia e outra é a revitalização
do Rio São Francisco.
Para o ministro
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Oliveira, a grande relevância da
privatização não é fiscal, “é a possibilidade de nós criarmos no Brasil uma empresa
de classe mundial, com capacidade de renovar, de representar o Brasil em outros
países”.
De acordo com ele, o governo
federal “não está vendendo a Eletrobras, está aumentando o capital, trazendo
dinheiro para que possa implementar um programa de investimento, para que seja
recuperada a sua situação financeira e possa voltar a investir no País”. Ponto
de vista reforçado pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho,
para quem o objetivo do governo é fazer com que a estatal volte a ser competitiva.
Concluindo as falas da mesa
de abertura do diálogo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, asseverou
que a “discussão sobre a capitalização da Eletrobras, e a transferência de
controle para outro modelo de capitalização e de gestão, é um processo muito
grande que envolve ao mesmo tempo a possibilidade de reforço de capital,
independência de gestão e uma maior confiança dos agentes econômicos na empresa
e, principalmente, uma capacidade maior de geração de energia para o Brasil e
de valorização do patrimônio da União”, pontuou Meirelles.
Pontos de vista
Logo após a abertura, foi
realizado o primeiro painel do dia sobre “Visões da privatização”, que teve a
mediação do ministro Cedraz e a participação do ministro de Minas e Energia, do
deputado Aleluia e do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
Robson Braga de Andrade. Ao iniciar os debates, o ministro-relator Aroldo
Cedraz primeiramente destacou a importância do tema central do diálogo. “Não
apenas para a economia brasileira, mas também para a vida pública nacional, uma
vez que nada é possível sem água, sem energia, sem democracia”, defendeu.
Para ele, “todo mundo é
importante no Brasil, menos quem paga, e chegou a hora de darmos aqui uma
contribuição para a reversão dessa cultura”. E mais uma vez reforçou o papel do
Tribunal: “O TCU respeita enormemente as suas limitações constitucionais e,
portanto, não avançaremos o sinal, e nosso objetivo aqui é muitas vezes
entender melhor essa proposta do Executivo e também essa perspectiva que se tem
de avanços quando propostas como essa chegam ao Congresso Nacional”, esclareceu
Cedraz.
No debate, Robson Andrade
chamou a atenção para o “elevado custo da energia para o setor da indústria”,
que, para ele, está no centro da discussão. Explicou o presidente da CNI,
ainda, que a falta de investimento no setor elétrico tem forte impacto negativo
na indústria. “Nós cidadãos é que acabamos pagando e uma empresa privada não
fica feliz com isso”, ponderou. “A privatização é fundamental”, explicitou.
A Eletrobras
As participações na parte da
manhã foram encerradas com a palestra do presidente da Eletrobras, Wilson
Ferreira Júnior, sobre o tema “A Eletrobras ontem, hoje e o que esperar do
futuro”. De acordo com ele, a estatal é a 16ª maior empresa de energia do
mundo, com 48 GW instalados em 233 usinas e R$ 171 bilhões em ativos.
A expectativa dele é que,
até 2030, a empresa passe a ser uma das três maiores do mundo em energia limpa.
Atualmente, 88% da energia gerada pela Eletrobras são originários de
hidrelétricas; 6%, de térmicas; 4% são de origem nuclear; e 2%, de eólica e
solar.
Segundo as suas informações,
de acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia 2016, da Empresa de
Pesquisa Energética (EPE), serão necessários daqui para a frente R$ 242 bilhões
de investimentos em geração e R$ 137 bilhões em transmissão. Apenas para manter
a posição atual, com 31% de geração nacional e 47% de transmissão, seriam
necessários investimentos de R$ 14 bilhões por ano. “Sem a aprovação do PL
9.463, de 2018, se o governo mantiver os seus 60% (de participação na empresa),
precisará investir R$ 8,4 bilhões por ano ou R$ 84 bilhões em dez anos. Não tem
esses recursos”, explicou Wilson Ferreira Júnior.
Segundo ele, a melhor
solução é, sim, “aumentar o capital com emissão de ações e a União reduzir a
sua participação de 60% para menos de 50%”. Assim, o controle passaria a ser
privado e a empresa ficaria “livre das amarras burocráticas das estatais”. O
atual presidente da Eletrobras compreende que “seriam beneficiados o consumidor
e os cofres públicos, além do Rio São Francisco, que poderia ser revitalizado”.
Também participaram do
diálogo público o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da
República, Moreira Franco, e o subprocurador-geral do Ministério Público junto
ao TCU Lucas Rocha Furtado.
Secom/TCU


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