Criminosos explodem bomba em ponte e incendeiam transporte escolar na 12ª noite de ataques no Ceará.
Criminosos voltaram a
cometer ataques criminosos neste domingo (13) no Ceará, 12º noite seguida da
onda de violência que atinge o estado desde o dia 2 de janeiro. Os bandidos
explodiram uma bomba em uma ponte em Fortaleza, metralharam a sede da Guarda Municipal
e incendiaram um ônibus escolar no município de Saboeiro, interior do Ceará. De
acordo com a Secretaria da Segurança Pública, 347 pessoas foram capturadas por
envolvimento nos crimes.
Desde o dia 2 de janeiro,
ocorreram mais de 200 ataques criminosos em pelo menos 44 cidades. A série de
atentados começou em Fortaleza, foi para a Região Metropolitana e também se
espalhou pelo interior do estado. Áudios compartilhados entre membros de
facções do Ceará revelaram que as ordens para as ações contra ônibus, prefeituras
e prédios públicos partiram de presidiários. As mensagens chegaram até as
autoridades após a apreensão de 407 aparelhos de celulares nas unidades
prisionais do estado, no dia 6 de janeiro.
Em um dos áudios, um detento
diz que a sequência de crimes é uma tentativa de fazer com que o secretário da
Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuqurque, desista de medidas que
tornam mais rigorosa a fiscalização no sistema penitenciário. "Vocês vão tirar
esse secretário aí dos presídios. Vocês vão ver, vai piorar é pra vocês",
ameaça um criminoso.
Áudios também compartilhados
em redes sociais revelam o secretário Mauro Albuquerque ordenando apreensões de
celulares e televisores nas unidades prisionais. "Vamos intensificar as
gerais dentro das unidades. É pra estar dando geral aí até a gente estar
arrancando esses celulares tudinho dentro da cadeia, tá ok?", ordena
Albuquerque aos agentes penitenciários.
Entenda o que está
acontecendo no Ceará
>O governo criou a secretaria
de Administração Penitenciária e iniciou uma série de ações para combater o
crime dentro dos presídios.
>O novo secretário, Mauro
Albuquerque, coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas.
Também disse que não reconhecia facções e que o estado iria parar de dividir
presos conforme a filiação a grupos criminosos.
>Criminosos começaram a
atacar ônibus e prédios públicos e privados. As ações começaram na Região
Metropolitana e se espalharam pelo interior ao longo da semana.
>O governo pediu apoio da
Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro,
autorizou o envio de tropas; 406 agentes da Força Nacional reforçam a segurança
no estado.
>A população de Fortaleza e
da Região Metropolitana sofre com interrupções no transporte público, com a
falta de coleta de lixo e com o fechamento do comércio.
>Onda de violência afastou
turistas e fez a ocupação hoteleira no estado cair.
>35 membros de facções
criminosas foram transferidos do Ceará para presídios federais desde o início
dos ataques, segundo o último balanço do Ministério da Justiça.
12ª noite de ataques
A ponte atacada pelos
bandidos liga o Bonsucesso a outros bairros da região. De acordo com
testemunhas, homens passaram em um carro e jogaram explosivos no local. Um dos
artefatos explodiu. Moradores do local informaram que os telhados das
residências tremeram durante a explosão.
A base da Guarda Municipal
de Fortaleza, localizada na Avenida Juscelino Kubitscek, no Bairro Passaré,
também foi atacada durante a noite. De acordo com a Polícia Militar, os
suspeitos passaram em frente ao local, atiraram e fugiram. No local funciona a
inspetoria da Guarda Municipal de Fortaleza e estão guardados os veículos da
Guarda e da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC).
Além dos ataques, uma
granada foi encontrada na estação de metrô do São Miguel, no município de
Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza. Segundo a Polícia, o material foi
encontrado no chão da estação e não chegou a detonar. O esquadrão antibombas
foi acionado e usou um robô para recolher o explosivo.
Represália
Os áudios compartilhados por
detentos mostram que os ataques são uma represália à nomeação de Mauro
Albuquerque para o cargo de gestor das unidades prisionais do estado.
"Vocês vão tirar esse secretário aí dos presídios. Vocês vão ver, vai
piorar é pra vocês", ameaça um criminoso.
O secretário da Segurança
Pública do Ceará, André Costa, já havia informado ao G1 que a nomeação do novo
secretário de Administração Penitenciária provocou a onda de ações criminosas."Só
a indicação dele [Luís Mauro] já causou essa reação", disse Costa.
Em entrevista no dia 1º de
janeiro, ao tomar posse da nova secretaria criada no segundo mandato de Camilo
Santana, Mauro Albuquerque afirmou que não iria reconhecer as facções nos
presídios e prometeu medidas para impedir a entrada de celulares nas celas.
Televisores e tomadas de energia elétrica foram retiradas das celas das
unidades prisionais.
Atualmente, a divisão de
presos no Ceará é feita conforme a facção da qual cada interno é membro. O
secretário pretende acabar com esse critério. "O que nós estamos fazendo é
cumprindo a lei dentro dos presídios", disse o governador Camilo Santana.
Medidas contra os ataques
Na noite de sábado (12), em
sessão extraordinária durante o recesso parlamentar, os deputados estaduais
aprovaram um pacote de medidas na tentativa de fortalecer o combate às facções
criminosas. As medidas foram sancionadas neste domingo por Camilo Santana.
O pacote inclui recompensa
para quem denunciar autores de ataques ou fornecer informações que possam
prevenir crimes. Estiveram presentes na sessão 36 dos 46 deputados estaduais do
Ceará. O governador Camilo Santana assinou o pacote neste domingo e publicou em
edição extra do Diário Oficial do Estado.
G1
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