Vereadores aprovam abertura de impeachment de prefeito que exigiu comissionados em show da noiva.
Parlamentares de Camaragibe,
no Grande Recife, aprovaram o pedido, durante sessão marcada por confusão,
nesta terça-feira (26).
Os vereadores de Camaragibe,
no Grande Recife, aprovaram, nesta terça-feira (26), o pedido de abertura de
impeachment do prefeito Demóstenes Meira (PTB), durante uma sessão marcada por
confusão. A oposição vai investigar a conduta do chefe do Executivo, que exigiu
a presença de servidores comissionados em uma prévia carnavalesca, durante o
show da noiva dele, Taty Dantas, que também é secretária de Assistência Social
do município.
A sessão que avaliou o pedido
de impeachment de Meira ocorreu com o plenário da câmara de Camaragibe lotado.
Muitos servidores comissionados acompanharam os debates. Dos 13 vereadores,
cinco votaram pela aprovação da investigação, quatro se abstiveram e quatro
foram contra.
O voto decisivo pela
aprovação foi dado pelo presidente do Legislativo Municipal, Toninho Oliveira
(PTB), que também é o autor do pedido de investigação.
Para ele votar, no entanto,
foi preciso consultar o Departamento Jurídico da Câmara, que encontrou uma brecha
na legislação, permitindo que o proponente e presidente da Casa participasse do
processo para formação de quórum em votação decisiva.
Além de Oliveira, votaram a
favor da abertura do processo de impeachment Délio Júnior, José Roberto
(Roberto da Loteria), Leandro Lima (Leo Família) e Lindomar Santos.
Foram contra a abertura da
investigação Antônio Carlos Tomé, Eugênio Victorino, Hélio Albino e Manoel
Rodrigues. Abstiveram-se Adriano Tabatinga, Paulo André, Renê Cabral e Severino
Gomes (Cabeça).
Em entrevista à TV Globo,
Toninho Oliveira disse que a Câmara de Camaragibe está cumprindo o seu papel de
fiscalizar os atos do prefeito.
“A promotoria entrou com
ação civil contra o prefeito, o Ministério Público de Contas está com uma ação
e o Tribunal de Contas também está no alerta, assim como a OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil em Pernambuco) “, justificou.
Líder da bancada que apoia
Meira, o vereador Antônio Carlos Tomé (PV) afirmou que o evento carnavalesco
acontece há muitos anos. "Houve uma convocação do prefeito, mas isso que
aconteceu não dá para resultar em impeachment", afirmou.
Três vereadores participarão
de uma comissão especial formada para atuar durante o processo de impeachment
de Meira. Integram esse colegiado Roberto da Loteria, Délio Júnior e Leandro
Lima.
Após a sessão tumultuada, os
parlamentares informaram que ainda vão marcar a data para o depoimento do
prefeito, mas isso só deve ocorrer depois do carnaval.
Por meio de nota enviada à
TV Globo, a Prefeitura de Camaragibe afirmou que não tinha sido notificada
sobre a abertura do processo de impeachment.
Entenda o caso
No dia 17 de fevereiro, o
prefeito Demóstenes Meira divulgou mensagens de voz pelas redes sociais e
WhatsApp, convocando os servidores comissionados para participar o desfile do
bloco Canário Elétrico, no Centro de Camaragibe. (Ouça o áudio acima)
A festa da agremiação, que
teve a participação da cantora e secretária da prefeitura, foi organizada pelo
secretário de Educação Denivaldo Freire. A contratação de Taty Dantas, segundo
o secretário, ocorreu a partir de um pedido do prefeito Demóstenes Meira.
Nas mensagens, Meira afirmou
que filmaria o evento para saber quantos comissionados compareceriam, de fato,
para prestigiar Taty Dantas.
Pouco antes do desfile do
bloco, o prefeito confirmou que fez a convocação dos servidores e justificou
que “era preciso apoiar a noiva”.
Reação
No dia 18 de fevereiro, o
Ministério Público de Pernambuco (MPPE) abriu procedimentos para investigar o
prefeito de Camaragibe.
O MPPE informou que o
procurador-geral de Justiça, Francisco Dirceu Barros, determinou à assessoria
criminal a abertura de investigação para apurar o possível caso de peculato,
por causa do uso de verbas da prefeitura para um ”fim privado e pessoal”.
Segundo o subprocurador de
Justiça, Clênio Valença, caso denunciado e condenado pelas infrações
preliminarmente verificadas pelo MPPE, o prefeito poderia cumprir pena de dois
a 12 anos de prisão.
Também no dia 18, a
procuradora-geral do Ministério Público de Contas, Germana Laureano, solicitou
que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) enviasse um ofício ao prefeito.
Meira deveria, segundo o
órgão, prestar informações sobre a existência de patrocínio ou verbas públicas
na programação carnavalesca da cidade. O pedido foi feito ao conselheiro Carlos
Porto, relator das contas de Camaragibe no TCE.
Por meio de nota, o TCE
informou que a procuradora pediu, ainda, que o prefeito explicasse se a
secretária de Assistência Social do município, Taty Dantas, sua noiva, constava
ou não como atração nos blocos carnavalescos que podem receber verbas públicas.
No mesmo ofício, a
procuradora expediu uma recomendação para evitar que a prefeitura efetuasse
pagamentos para atividades carnavalescas, até uma nova análise do TCE.
Em 19 de fevereiro, o MPPE
informou que ingressou com uma ação civil pública contra o prefeito No mesmo
dia, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) impediu a prefeitura de repassar
verbas públicas a atrações do carnaval em 2019.
A ação civil pública também
traz como réus a cantora Taty Dantas e o secretário municipal de Educação,
Denivaldo Freire Bastos.
A atitude de Meira também
provocou a reação da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE). O
presidente da entidade, Bruno Baptista, disse à TV Globo, no domingo (17), que
o conteúdo das gravações era muito grave.
Por Bruno Grubertt - TV Globo - G1/PE
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