Dessalinizador de baixo custo garante água potável no semiárido
Um dessalinizador solar de
baixo custo de implantação e manutenção, com capacidade para produzir água
potável sem uso de eletricidade e livre de produtos químicos, é alternativa
para famílias do semiárido da Paraíba, que enfrentam longas estiagens e sofrem
com escassez de água de boa qualidade.
O modelo já atendeu a cerca
de 300 famílias e está disponível em um banco de tecnologias online para ser
replicado em qualquer parte do país e ajudar a solucionar a falta de acesso à
água potável.
Resultado da parceria da
Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Autopromoção e da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o dessalinizador aproveita o potencial
solar da região e atende a assentamentos de agricultores familiares desde 2015.
O modelo foi reconhecido como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil
(FBB), chegando a ser premiado pela entidade em 2017.
“A ideia [do dessalinizador]
parte do princípio de que vivemos no semiárido. Os poços que a gente perfura,
quase em sua totalidade, têm água salobra, água salgada, o que não serve para o
consumo humano. Então, desenvolvemos junto com a UEPB essa tecnologia para
exatamente fazer com que essa água salgada se tornasse uma água ideal para o
consumo humano”, contou Jonas Marques de Araújo Neto, presidente da
cooperativa.
“O primeiro impacto que o
dessalinizador gerou foi maior solidariedade ainda entre eles [agricultores],
porque um dessalinizador desse serve para quatro ou cinco famílias, não é uma
questão individual. Dá uma média de 80 litros de água por dia, que é
distribuída entre eles. Nós [da cooperativa] não temos o menor poder sobre
isso, eles é que têm o verdadeiro poder e eles é quem dizem como vai ser
dividida essa água”, disse, ao acrescentar que esse modelo fortalece a
comunidade.
Além disso, ele destacou a
importância do consumo de água potável para a saúde. “Você chega em um hospital
público e pergunta: ‘depois dessa história do dessalinizador, quantas crianças
apareceram aqui com dor de barriga, com subnutrição?’. Eles vão dizer para
você, sem sombra de dúvida, que diminuiu muito”.
Outro benefício da
implementação dessa tecnologia é que as pessoas conseguem manter seu modo de
vida no semiárido, desenvolver as atividades e sustentar as famílias sem
precisar migrar para conseguir oferta de água potável, nem recorrer a
subempregos nos centros urbanos. “Isso faz com que as pessoas consigam ficar
nas suas terras, consigam habitar o semiárido”.
O dessalinizador consiste em
uma caixa construída com placas pré-moldadas de concreto e cobertura de vidro
que deixa passar a radiação solar. Dessa forma, a construção possibilita o
aumento da temperatura dentro da caixa e a evaporação da água armazenada em uma
lona encerada, conhecida como lona de caminhão.
Tecnologias sociais
Responsável por um Banco de
Tecnologias Sociais – uma base de dados com mais de 900 soluções para problemas
sociais nascidas da sabedoria popular e do conhecimento científico – a fundação
já beneficiou cerca de 130 mil pessoas no país, em 444 municípios, por meio de
um total de 389 projetos, de acordo com relatório divulgado pela instituição na
última semana. Os projetos tiveram investimento total de R$ 156,3 milhões.
Todas as tecnologias sociais
do banco fazem referência aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),
da Organização das Nações Unidas (ONU). As inscrições estão abertas para
certificação de novas tecnologias sociais até o dia 21 deste mês, com a
possibilidade de concorrerem a prêmios em dinheiro. Podem participar entidades
sem fins lucrativos, do Brasil ou de outros países da América Latina ou do
Caribe.
Por Camila Boehm – Repórter
da Agência Brasil
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