Participação de pais na vida escolar melhora desempenho dos filhos
Imagem da internet |
Dados são da plataforma
educacional Mapa da Aprendizagem
De segunda a sexta, a
dentista Laudicéia Magalhães, acompanha a filha, Clarice, 16 anos, até a
escola. São oito minutos do local onde moram até a Escola de Referência em
Ensino Médio Aura Sampaio Parente Muniz, em Salgueiro (PE). “Eu não abro mão de
acordar mais cedo, mesmo quando durmo tarde, para deixar ela na escola. No
caminho, conversamos, pergunto como estão as coisas, desejo boa prova, se ela
for fazer algum exame”.
Gestos como este podem
ajudar as crianças e adolescentes a terem um melhor desempenho escolar, de
acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa),
exame internacional que avalia estudantes de 15 anos de cerca de 70 países,
disponíveis na plataforma de dados educacionais Mapa da Aprendizagem.
A plataforma reúne os dados
coletados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), no Pisa 2015, que é a última edição com os resultados disponíveis.
Nesse ano, o enfoque foi em ciências.
Entre os estudantes que
disseram que os pais se interessam muito pela vida escolar, a média de
desempenho em ciências foi 414,08 pontos. Já entre aqueles cujos pais não
mostram interesse na escola, a média foi 357,19. A diferença equivale a quase
dois anos de estudos entre os dois grupos.
Clarice, que está no 2º ano
do ensino médio, é a caçula de três filhos. Além de levá-la para a escola, as
duas sempre almoçam juntas. Em casa, cada um dos filhos têm uma prateleira para
os livros e materiais didáticos e tem um espaço para estudar. “Mostro para eles
que realizar o que eles sonham só depende deles, não depende nem de mim, nem do
pai. Se querem ter um carro bom, que estudem, que um dia terão. Se querem uma
casa boa, estudem, que vão conseguir. O caminho é esse”, diz Laudicéia.
Participação dos pais
No Brasil, 50,2% dos
estudantes dizem que os pais têm interesse pelas atividades escolares. A
porcentagem coloca o país na 24ª posição em um ranking de 49 países com o dado
disponível. A média dos países da OCDE é 48,07%. Os dados brasileiros apontam
que há diferença entre aqueles com maior nível socioeconômico, grupo no qual
63,2% dos estudantes relatam a participação dos pais, e aqueles com menor nível
socioeconômico, com 46%.
“Pais que participam geram
um ambiente de valorização da educação que é super necessário para o jovem se
engajar”, diz o diretor executivo do Interdisciplinaridade e Evidências no
Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria.
Faria explica que participar
da vida escolar é acompanhar a frequência escolar dos filhos, ou seja, saber se
estão ou não indo para a escola, participar de reuniões e conversar com os
próprios filhos. Não significa necessariamente corrigir os deveres de casa,
isso poderá ficar a cargo da escola, mas ter uma clareza do que a instituição
de ensino espera do estudante e se ele está engajado nos estudos. É importante,
segundo o pesquisador, que pais e escolas ajam em conjunto.
“Os pais têm necessidades
diferentes e disponibilidade de tempo diferentes. A escola pode fazer um
diálogo, estabelecendo um combinado com os pais”, diz Faria, que acrescenta: “O
mais importante é que os combinados sejam claros para que não haja uma relação
conflituosa das escola criticando pais por não participarem e dos pais
criticando as escolas por conta de expectativas de aprendizagem que não
acontecem”.
Diferença de aprendizagem
O engajamento dos pais foi
um dos diferenciais que colocou a escola de Clarice entre as instituições de ensino
que atendem a estudantes de baixo nível socioeconômico com os melhores
desempenhos na Prova Brasil e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo
o estudo “Excelência com Equidade no Ensino Médio: a dificuldade das redes de
ensino para dar um suporte efetivo às escolas”.
“Essa parceria dos pais e
professores é muito importante, sobretudo na adolescência”, diz a professora de
biologia da escola, Uanne Freire Bezerra. A professora conta que uma vez a cada
dois meses os pais são convidados à escola para receber o boletim dos filhos.
“A gente faz um dia de plantão. Sabemos que tem pais que trabalham e, por isso,
ficamos o dia todo disponíveis para eles. Eles escolhem o horário. Recebem o
boletim e têm uma conversa individual com cada professor”, diz. Além disso, a
equipe faz atendimentos para tratar de questões do dia a dia ao longo de todo o
ano letivo.
Segundo Uanne, faz parte do
calendário escolar de toda a rede estadual, também uma vez a cada dois meses,
um evento recreativo com pais, estudantes e professores. “Isso para os pais não
irem à escola só quando tem problema com os alunos. Fazemos dinâmica, café da
manhã, almoço com música ao vivo. É um momento de descontração, em que eles têm
a oportunidade de ver o resultado do trabalho dos filhos”.
Mapa da Aprendizagem
O Mapa de Aprendizagem foi
desenvolvido pelo Iede, Fundação Lemann e Itaú BBA e disponibilizado, em
primeira mão, para a Agência Brasil. O objetivo da plataforma é facilitar o
acesso aos dados do Pisa. É possível consultar os dados dos países
participantes da avaliação e de cada um dos estados brasileiros. Além de
consultas, é possível fazer comparações personalizadas.
Por Mariana Tokarnia -
Repórter da Agência Brasil
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