Menina de 4 anos é resgatada após ficar 5 dias na floresta no Pará.
Criança estava perdida na Floresta Amazônia - Foto: Reprodução |
A garota manteve-se viva
porque conseguiu comer frutas ácidas (buriti e taperebá) colhidas no chão e se
hidratar com água dos igarapés.
MANAUS, AM (FOLHAPRESS) -
Uma menina de quatro anos que passou por um teste real de sobrevivência no
início deste ano. Ana Vitória Soares ficou cinco dias perdida na floresta
amazônica, na fronteira entre Pará e Amapá.
A garota manteve-se viva
porque conseguiu comer frutas ácidas (buriti e taperebá) colhidas no chão e se
hidratar com água dos igarapés. As buscas persistiram nos cinco dias em que ela
esteve desaparecida. Bombeiros do Amapá e ribeirinhos se mobilizaram na tarefa
assim que a irmã, que brincava com Ana Vitória, avisou que não achava a garota,
em 29 de dezembro.
Resgatada, parentes e
vizinhos fizeram orações de agradecimento, enquanto a garota tomava mamadeira
na rede, com olhar assustado. Ela ficou três dias internada em um hospital para
se recuperar das lesões no pé e da desidratação.
Ana Vitória mora com os pais
e os oito irmãos em uma comunidade ribeirinha do município de Afuá no Pará. O
local é afastado -o acesso mais fácil ao meio urbano é uma viagem de 1h de
voadeira, lancha de pequeno porte, até a cidade de Santana, no estado do Amapá.
A sobrevivência da menina
impressionou equipes de resgate, pelo risco de ataques de animais selvagens,
falta de alimentos e água e pelo desgaste psicológico.
"Ela foi guerreira.
Qualquer adulto que não tenha conhecimento de mata, se passar cinco dias
perdido, não sei se ia resistir. Muita coisa poderia ter ocorrido com uma
criança de quatro anos no meio da floresta. Em relação a animais, ali, o maior
risco era ataque de cobras. Mas poderia ter atraído outros animais", disse
o major Orielson Ferreira Pantoja Campos, que comandou o grupamento deslocado
para o resgate.
Pelo relato da prima de Ana,
Erika Silva, 36, a menina foi vista pela última vez brincando com a irmã de dez
anos no quintal da casa, próximo à área de floresta, quando sumiu.
Após passarem horas a
procurando sem resultado, um familiar foi de voadeira até Santana pedir ajuda
para os bombeiros.
"Começávamos às 8h e
terminávamos às 18h. Com o passar do tempo, a gente sabia que a probabilidade
de encontrá-la com vida era muito pequena. É uma criança de só quatro anos. Não
podemos dizer isso assim aos familiares, em nenhum caso. A gente faz a nossa
parte. Mas não tínhamos muita esperança de encontrá-la com vida", disse o
major.
Mergulhadores dos bombeiros
fizeram pente fino no igarapé e não encontraram sinal do corpo da menina.
Passaram, então, a concentrar as buscas na floresta. A esperança diminuiu ao
fim dos dias. Em certo momento das buscas, pensou-se que a menina tinha morrido
afogada –até caixão foi comprado para Ana Vitória.
No penúltimo dia de buscas,
Rosa Soares, a mãe, resolveu entrar no mato em busca da menina. Já era quase
17h quando ela voltou para casa dizendo que tinha encontrado rastros da criança
pelo chão na floresta.
Então, com lanternas, facões
e botas, parte dos vizinhos foi à floresta. Mas nada encontraram e voltaram pra
casa. No último dia, 2 de janeiro, após nova busca de bombeiros e ribeirinhos,
a criança foi encontrada por um dos primos de Ana Vitória.
"Era muita gente na
mata, no outro dia. Meu irmão foi de Santana ajudar. Os vizinhos também. Quem
ficou em casa, ficou orando. Os crentes ficaram orando, na sala. Meu irmão,
quando se afastou do grupo maior foi orando também. Até que achou a Ana. E
gritou para chamar os outros. Ela, quando foi achada, perguntava pelo pai e
estava com muita fome. E os pés dela bem machucados", disse Érika.
Os bombeiros se assustaram
com a boa condição física da garota. "Impressionante como estava bem.
Nenhuma hemorragia. Os pezinhos muito machucados, com espinhos. E ela já não
estava mais andando na floresta. Estava sentada num tronco de árvore. Se
demorasse mais tempo, um ou dois dias, aí poderia ser diferente porque ela ia
parar de se alimentar e beber água."
Ana Vitória passou três dias
internada no hospital público de Santana. A equipe dos bombeiros ainda fez
campanha de doações de alimentos que foi levada para a família da menina.
"Foi um milagre tão
grande. Ela está bem, em casa. Agora, a mãe não deixa mais ela sair sozinha
para o quintal", contou a prima.
Resgates nos estados
amazônicos costumam mobilizar equipes de salvamento. No Amazonas, por exemplo,
segundo os bombeiros, em 2019, foram registrados 25 resgates de pessoas que se
perderam na selva. Nem todos com vida. Já houve resgatados ainda vivos que já
vagavam na mata por 15 dias.
Por ROSIENE
CARVALHO/FOLHAPRESS
Via ClickPB
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