Pesquisa Datafolha: Brasileiros avaliam que aumentou o número de moradores de rua.
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) –
Para 43% dos brasileiros, o número de moradores de rua em suas cidades aumentou
no último ano. Outros 44% dizem que a quantidade se manteve igual em 2019,
segundo pesquisa Datafolha. O levantamento aponta que para 8% esse número
diminuiu. Não opinaram 4%.
Foram ouvidas 2.948 pessoas
de 16 anos ou mais em 176 municípios do Brasil, entre 5 e 6 de dezembro. A
margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível
de confiança é de 95%.
A percepção de que a
quantidade de moradores de rua aumentou em 2019 é mais alta entre os moradores
da região Sudeste (48%), de capitais (58%) e de municípios com mais de meio
milhão de habitantes (58%).
Já a percepção de que o
número de moradores de rua diminuiu em 2019 é mais alta entre os moradores do
interior (51%) e entre os que habitam municípios com até 50 mil habitantes
(58%).
Em São Paulo, que faz parte
do grupo de cidades em que essa percepção de alta é maior, em três anos o total
de pessoas abordadas como moradores de rua quase dobrou.
Ao longo de 2018,
assistentes sociais municipais abordaram cerca de 105,3 mil pessoas nas
calçadas da cidade, de acordo com a base de dados disponibilizada no site da
prefeitura.
Esse número é 66% maior do
que a quantidade de pessoas abordadas na mesma situação em 2016, quando foram
contabilizados 63,2 mil indivíduos, e 88% maior que o total de abordagens
realizadas em 2015.
O número de indivíduos
abordados não representa a quantidade de pessoas que vive de fato nas ruas.
Entre essas pessoas há, por
exemplo, moradores da periferia que passam dias e noites vivendo nas calçadas
da região central em busca de doações, mas que durante parte do mês retornam a
suas casas; e pessoas que estão de passagem pela cidade, entre outras
situações.
Mesmo assim, o levantamento
é o indicador mais próximo para retratar o aumento cada vez mais perceptível
dessa população.
Mesmo quem está em situação
de rua em São Paulo diz notar o crescimento. Há um mês, Wallace Barbosa de
Souza, 26, engrossa o número de pessoas que não tem onde morar. Essa não é a
primeira passagem do auxiliar de cozinha pelas ruas.
“Já fiquei três meses uma
vez e seis meses outra. Percebo que tem mais gente agora precisando de ajuda”,
diz.
Wallace não tem família;
cresceu entre idas e vindas da casa dos avós para o orfanato. Ele reclama da
falta de oportunidades e da discriminação.
“É como se a gente não
existisse, te olham de cima a baixo e não te veem”, diz o jovem que convive há
15 anos com a depressão e espera para retomar o tratamento na rede pública.
Ao seu lado, sentado na
praça Marechal Deodoro, Josimar Batista, 34, diz que já passou sete anos nas
ruas. Usuário de crack, o ex-soldador tem família em Mauá, mas o vício e as
brigas o devolveram recentemente ao centro de São Paulo.
“Costumo andar sozinho, não
me misturar para não me meter em confusão”, diz. “Dessa vez vejo que tem mais
gente nessa situação.”
O problema se repete em
outras cidades. No Rio, o número de moradores de rua contados pela prefeitura
quase triplicou de 2013 a 2016, para 14.279 pessoas. Depois, a gestão Marcelo
Crivella (PRB) mudou a metodologia e contou menos de 5.000 pessoas nessa
situação –especialistas contestam o dado.
Uma amostra do tamanho dessa
população são as marquises da região central da capital fluminense, que ficam
lotadas, com fila para a sopa levada por voluntários, e o fato de até na praia
haver moradores de rua dormindo.
Em Porto Alegre, a
prefeitura estima em 4.000 as pessoas nas ruas, o dobro do registrado em 2016.
Em Curitiba, o avanço foi de 50% em três anos, para 2.186 neste ano.
Em Manaus, os venezuelanos
inflaram o contingente de 2.000 pessoas que vive nas ruas, segundo o Comitê
Intersetorial de Políticas à População de Rua, do governo estadual.
Em Belém, houve aumento na
procura de moradores de rua por atendimento, segundo a Funpapa (Fundação Papa
João 23), ligada à prefeitura, que mantém abrigos. Foram 677 atendimentos até
abril –em 2018 inteiro, haviam sido 853. De cada 5 atendidos, 4 são homens.
Não há levantamento anual em
Belo Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza, mas ONGs que atuam com pessoas em
situação de rua confirmam o aumento recente.
Na capital baiana, a
prefeitura tem cadastradas 5.900 pessoas. Contudo, um estudo feito em 2017 pela
ONG Projeto Axé aponta de 14 mil a 17 mil pessoas nas ruas de Salvador.
EMILIO SANT’ANNA/ Folhapress
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