Cresce o número de brasileiros com depressão e ansiedade durante pandemia da Covid-19.
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Diversos estudos têm
mostrado que isolamento social contribui para agravar quadro de transtornos
psíquicos.
O número de brasileiros com
quadros de depressão e ansiedade cresceu desde o início da pandemia da
Covid-19. A mais recente pesquisa do Ministério da Saúde sobre o quadro
psiquiátrico dos brasileiros neste período revela que 32,6% dos entrevistados
se sentiram para baixo ou deprimidos de março para cá.
Outro estudo, do Instituto
de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), aponta que o
número de brasileiros com depressão praticamente duplicou nos primeiros dois
meses de isolamento social. O percentual de pessoas com a doença passou de 4,2%
para 8%. Já os casos de ansiedade saltaram de 8,7% para 14,9%. A pesquisa feita
com 1.460 pessoas em 23 estados indica um aumento preocupante nos casos de
pessoas com transtornos mentais.
Para especialistas, o
isolamento social colabora para o aumento no número de casos de transtornos
mentais. É o que explica o psiquiatra Luan Diego Marques. “Já era uma tendência
desde 2019 o brasileiro ter quadros de alterações de humor e ansiedade. O
isolamento, as mudanças abruptas e a quarentena só impulsionaram um maior
desgaste e uma eliminação dos recursos de saúde mental, que é a liberdade, o
lazer e a interação social.”
Ele também atribui à crise
econômica papel importante nos indicadores. “A vulnerabilidade financeira
prejudica o quadro emocional e essa também é uma das possibilidades da piora do
nível de ansiedade aqui no Brasil”, complementa.
Percepção médica
A percepção da maior
ocorrência de quadros depressivos também ocorre entre os médicos. Um estudo da
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) entrevistou profissionais da área.
Quase 90% dos psiquiatras afirmaram que os quadros psiquiátricos de seus
pacientes se agravaram com a pandemia da Covid-19.
Apesar do momento crítico e
do confinamento, Marques afirma que é possível minimizar as chances de
depressão. “A depressão pode sim ser evitada”, assegura. Segundo ele, uma das
melhores ferramentas para a saúde mental é cultivar relacionamentos.
“Ter uma rede de apoio é uma
das ferramentas para reduzir a chance dessa pessoa desenvolver depressão.
Existem algumas pesquisas que mostram pessoas que possuem confidentes, que
podem desabafar, têm menor risco de desenvolver depressão.”
Ampliação do atendimento
Há cidades que tentaram
minimizar o impacto da suspensão de consultas com psicólogos e psiquiatras
neste período. Em Teresina, por exemplo, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) se
organizou para garantir o atendimento em saúde mental à população durante a
pandemia do novo coronavírus. O órgão disponibilizou um telefone para quem
precisar falar com um psicólogo gratuitamente.
Além disso, a Rede de
Atenção Psicossocial do município continua funcionando, de segunda a sexta-feira,
das 8h às 11h e das 14h às 17h. Ao todo, há sete Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) para pessoas com transtornos mentais graves. Teresina conta
ainda com um ambulatório, o Provida, que atende pessoas que tentaram suicídio.
Ações
Preocupado com os efeitos
das medidas de distanciamento social, sobretudo entre os jovens e adolescentes,
o Governo Federal lançou recentemente uma ação de prevenção ao suicídio e
automutilação com foco nesses grupos. A medida é uma forma de o país se
antecipar à chamada “quarta onda da pandemia”, que se caracteriza pelo
agravamento das doenças mentais entre a população.
O objetivo do Ministério da
Saúde é qualificar profissionais da saúde, educadores da rede pública e privada
de ensino, líderes de associações religiosas, profissionais que atuam em
conselhos tutelares, entidades beneficentes e movimentos sociais para que
saibam abordar adolescentes entre 11 e 18 anos.
RAPS
A Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) é formada por diversos pontos de atenção à saúde mental,
que atendem a pessoas com quadros psíquicos em diferentes níveis de
complexidade. Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) espalhados por
municípios de todo o país constituem um dos principais pontos de atendimento
para pacientes com sofrimento ou transtorno mental. Existem ainda os serviços
de urgência e emergência, como o SAMU 192, a sala de estabilização, Unidades de
Pronto Atendimento (UPA) e prontos-socorros que integram a rede.
Também fazem parte os
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), que são moradias destinadas a cuidar
de pacientes com transtornos mentais e que não possuem suporte social ou laços
familiares. Além disso, a rede tem Unidades de Acolhimento (UA), ambulatórios
multiprofissionais de saúde mental e comunidades terapêuticas. A ideia é que
todos esses serviços funcionem de forma integrada.
Brasil 61
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