Até 2025, 400 cidades vão ter pontos de coleta de lixo eletrônico.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Atualmente, sete capitais já
aderiram ao projeto do Ministério do Meio Ambiente. Iniciativa coloca em
prática o decreto federal sobre logística reversa de eletroeletrônicos.
O Ministério do Meio Ambiente vai
instalar centrais de triagem e pontos de entrega voluntária de lixo
eletroeletrônico nas 400 maiores cidades brasileiras. A estimativa é que até
2025 a meta seja concluída. Atualmente, as capitais Rio de Janeiro (RJ), Campo
Grande (MS), Florianópolis (SC), Vitória (ES), Brasília (DF), Maceió (AL) e
Manaus (AM) já aderiram ao projeto. Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Fortaleza
(CE) são outras três capitais que vão receber os ecopontos em novembro.
Os pontos de entrega voluntária
de lixo eletroeletrônico são locais em que a população pode deixar
eletrodomésticos em desuso como geladeiras, fogões e TVs. Depois, o material é
encaminhado para uma central de triagem onde profissionais habilitados fazem a
separação do que vai para a reciclagem e o que será destinado aos aterros
sanitários.
O recolhimento desses materiais
para a reciclagem varia de acordo com cada cidade, como explica o secretário de
Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, André França. “Há vários
modelos funcionando. No caso do Rio de Janeiro haverá participação de
cooperativas fazendo o recolhimento nesses pontos de entrega voluntária até o
ponto de consolidação. É o caso de Manaus também, que vai fazer em parceria com
as cooperativas. Em outros municípios, ou até mesmo no Distrito Federal, foi
pensado um modelo diferente. Foi contratada uma empresa para fazer o
agendamento e coleta porta a porta”.
O secretário lembra ainda que
esse é o primeiro ano da logística reversa de eletroeletrônicos no Brasil. “É
algo que ainda está se consolidando e se materializando, soluções estão sendo
testadas, algumas estão produzindo bons resultados e vão ficar, outras vão
evoluir para outros arranjos de cooperação. Mas é um sistema novo que já possui
1,9 mil pontos implantados”, explica.
A implementação, estruturação e a
operacionalização do sistema de logística reversa de produtos eletroeletrônicos
faz parte do Decreto Federal n° 10.240/2020. No ano passado, o decreto
estabeleceu a estruturação do sistema com ações relacionadas ao planejamento,
para que em 2021 o dispositivo começasse a valer por metas quantitativas.
“O decreto prevê, até 2025, o
conjunto de pontos de coleta de eletroeletrônicos de acordo com a quantidade de
habitantes no município, de forma a abranger as 400 maiores cidades com
unidades fixas. Enquanto os municípios menores podem ser atendidos por
campanhas móveis, já que a geração no fluxo de eletroeletrônicos é menor”,
pontuou André França.
Logística reversa
A logística reversa está
integrada no programa Lixão Zero do Ministério do Meio Ambiente, que tem como
objetivo eliminar os lixões existentes no país e apoiar os municípios para
soluções mais adequadas de destinação final dos resíduos sólidos. André França
explica que os produtos reciclados voltam à cadeia produtiva, sendo
reaproveitados em novos produtos pela indústria.
Além de projetos de iniciativa do
Governo Federal, algumas cidades possuem suas próprias iniciativas para
recolhimento e reciclagem de lixo eletrônico. É o caso do Distrito Federal, que
atua por meio do Reciclotech. O programa trabalha na conscientização do
descarte correto de eletroeletrônicos, promovendo ações educativas que
contribuem para democratizar o acesso à tecnologia por meio de
recondicionamento e doações de equipamentos.
Além disso, o projeto capacita
jovens de 14 a 18 anos de baixa renda em cursos voltados à tecnologia. O
projeto conta com uma usina de reciclagem que, segundo a Secretaria de
Tecnologia do Distrito Federal, recupera 99,8% do lixo eletrônico recebido.
O Reciclotech segue a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que define a logística reversa como um
instrumento de desenvolvimento econômico e social, ao investir na coleta e
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial. Uma vez restituído, esse
material pode ser reaproveitado em diversos ciclos produtivos ou ganhar outra
destinação ambientalmente adequada.
O secretário de Ciência,
Tecnologia e Inovação (Secti) do Distrito Federal, Gilvan Máximo, explica que a
pasta realiza projetos de conscientização da população para fazer o descarte
correto do lixo eletrônico. “Estamos fazendo gincana nas escolas, drive thru
pelas cidades, o nosso ônibus tem filmes sobre a coleta de lixo e também temos mais
de 90 pontos de coleta de lixo eletrônico pelas cidades satélites. Essas ações
são importantes para que o descarte correto de lixo eletrônico passe a ser a
cultura do brasiliense”.
Além de o Reciclotech recolher e
reciclar esses itens, cooperativas e ONGs também auxiliam nesse processo.
Nos Pontos de Entrega Voluntária
(PEVs) do Distrito Federal é possível descartar bateria, celular, lâmpadas,
cabos, notebooks e computadores. Nos drives thrus a população descarta
geladeiras, televisão, balanças entre outros. Neles, foram recolhidas 120
toneladas de lixo eletrônico na ação realizada em junho.
Projeto de Lei discute medidas de
incentivo à reciclagem
Aprovado na Comissão de Meio
Ambiente (CMA) do Senado, o Projeto de Lei 6.545/2019, que cria incentivos
fiscais à indústria da reciclagem e emissão de títulos para financiar projetos,
agora aguarda análise no plenário da Casa. O PL cria também o Fundo de Apoio
para Ações Voltadas à Reciclagem (Favorecicle) e Fundos de Investimentos para
Projetos de Reciclagem (ProRecicle).
Pelo texto, os recursos do
Favorecicle deverão vir de doações, do Orçamento da União, de convênios e
acordos de cooperação, além de rendimentos das aplicações em fundo de
investimento específico.
Para incentivar as indústrias e
as entidades dedicadas à reutilização, ao tratamento e à reciclagem de resíduos
sólidos produzidos no território nacional, o texto propõe que a União, pelo
prazo de cinco anos após a promulgação da lei, ofereça às pessoas físicas e
jurídicas tributadas pelo sistema de lucro real a opção de deduzir do Imposto
de Renda os valores gastos com projetos de reciclagem previamente aprovados
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). O limite de dedução será de até 1% do
imposto devido para pessoas jurídicas e 6% para pessoas físicas.
Pesquisa aponta que 33% dos
brasileiros não sabem o que é lixo eletrônico
Uma pesquisa divulgada pela Green
Eletron, gestora sem fins lucrativos de logística reversa de eletroeletrônicos
e pilhas, mostra que 33% dos brasileiros acreditam que o lixo eletrônico seja
algo digital, como e-mails, spam, fotos ou arquivos. Para outros 42% dos
brasileiros o lixo eletrônico são aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos
quebrados e 3% acreditam que são todos os aparelhos que já foram descartados,
inclusive aqueles que acabam sendo destinados de forma incorreta em aterros ou
na natureza.
Outros 10% relacionam aos
resíduos/restos/sucatas que sobram após o descarte dos aparelhos eletrônicos
(algo que não se recicla), 5% dizem que são os componentes desses aparelhos e
7% não sabem o que é.
No Brasil, as cidades do interior
de São Paulo, a capital do Rio de Janeiro e Fortaleza são os locais com o menor
nível de conhecimento sobre o que realmente são os resíduos eletrônicos.
Florianópolis, Joinville e Distrito Federal são os locais do país com maior
nível de conscientização sobre o termo.
Em nota, a prefeitura de
Joinville (SC) informou que apoia a iniciativa e promove a divulgação dos
pontos de coleta dos materiais no site do município. A entidade catarinense
weee.do é responsável pelo acordo setorial da logística reversa de
eletroeletrônicos em Santa Catarina e recolhe esses resíduos. A entidade faz o
beneficiamento dos materiais e a reciclagem. Uma parte do material é
encaminhada ao Comitê da Democratização da Informática, em Florianópolis, uma
iniciativa de inclusão social. “Como não são pontos da Prefeitura de Joinville
e o recolhimento não é organizado pelo município, não há dados da quantidade
recolhida”, informou a nota.
A pesquisa mostrou ainda que 87%
da população guarda algum tipo de eletroeletrônico sem utilidade em casa por
mais de 2 meses e 25% nunca levou seus resíduos eletrônicos até um ponto de
coleta, ou PEV (Ponto de Entrega Voluntária). Outro indicador apontou também
que quanto mais próximos os PEVs estão do consumidor, maior será a frequência
do descarte.
Somente 13% dos entrevistados não
guardam nenhum dos itens considerados lixo eletrônico em casa. Entre os que
guardam, 31% mantém os itens há mais de um ano.
Os produtos mais descartados são
pilhas e eletroeletrônicos de pequeno porte, que também são os que ficam
guardados em gavetas por mais tempo. Eletroeletrônicos grandes e que ocupam
mais espaço tendem a ficar menos de um mês nas residências.
Sobre o descarte inadequado, 16%
descartam com certa frequência algum eletroeletrônico no lixo comum. Esse tipo
de descarte não permite a reciclagem das matérias-primas presentes nos
aparelhos.
O que é lixo eletrônico?
O lixo eletrônico é todo objeto que possui um circuito elétrico dentro, seja esse circuito composto por uma fiação que vai ligar um motor ou, em casos mais complexos, aquele que possui placa eletrônica para tomada de decisão, que seria geladeira, freezer ou máquina de lavar.
O lixo eletrônico pode ser
separado por classes, como explica o especialista em meio ambiente Charles
Dayler. “Seriam os grandes equipamentos, por exemplo, uma geladeira é um lixo
eletrônico. Mas de forma alguma o lixo eletrônico vai se restringir a pilha e
bateria, ele vai muito além disso. Praticamente todos os lares modernos já
possuem vários equipamentos eletrônicos em casa como celulares, televisores,
caixinhas de som bluetooth e por aí vai. Então tudo isso é lixo eletrônico”.
O descarte incorreto de lixo
eletrônico pode prejudicar não apenas o meio ambiente, como também a saúde
humana. “Na maioria das pilhas e baterias há produtos tóxicos. Se tiver o
extravasamento dessa pilha, o material pode cair no solo e prejudicar o lençol
freático. Dependendo do volume que tiver, o meio ambiente é impactado. Quando
olhamos para a saúde humana temos que lembrar que dentro dos equipamentos
eletrônicos existem metais pesados. Então nos componentes estruturais a gente
vai ter alumínio, cádmio, por exemplo, se pensarmos na questão das pilhas, a
gente vai ter antimônio, bismuto, chumbo. Então, tem muita coisa que a gente
pode ter de metal pesado que vai trazer problema para saúde humana”, explicou
Charles.
Para fazer a reciclagem desse
material é necessário condições específicas para receber esses itens e
capacidade técnica para manusear os produtos.
Fonte: Brasil 61 -
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