Faleceu em João Pessoa Dr. Pereira, cuiteense radicado em Picuí PB.
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Neste sábado (27), faleceu em João Pessoa o médico José Pereira da Costa, com 97 anos. Dr. Pereira como era mais conhecido, era cuiteense e foi um dos idealizadores da Maternidade Nossa Senhora de Fátima, que por muitos anos prestou relevantes serviços a saúde de Picuí e região. Na politica foi deputado estado estadual por 3 mandatos, ao tentar um quarto mandato na ALPB, ficou na primeira suplência.
O corpo do Dr. Pereira foi velado em João Pessoa
até meio dia e seu sepultamento acontecerá as 17:00 horas, deste domingo (28),
no cemitério público de Cuité, sua terra natal.
O prefeito de Picuí Olivânio
Remígio, se solidarizou com a família enlutada:
─ Me solidarizo com os familiares
de José Pereira da Costa, Dr. Pereira como era conhecido, pelo seu falecimento.
Filho de Cuité, foi o 1º deputado eleito pela região ─ disse Olivânio.
A jornalista, advogada e escritora picuiense Fabiana Agra, em seu livro Picuí do Seridó Século XX, retratou a trajetória
do Cuiteense, ‘filho adotivo’ e radicado em Picuí.
TRAJETÓRIA POLÍTICA DE DR.
PEREIRA
Extraído do livro:
AGRA, Fabiana de Fátima Medeiros.
Picuí do Seridó Século XX, volume 2, 1951-2000. João Pessoa: A União, 2015.
Picuí elege um deputado: o médico
José Pereira da Costa
Em 1958, o médico cuiteense radicado
em Picuí, José Pereira da Costa, se elegia deputado estadual pelo PSD. Nessa
primeira campanha, “doutor” Pereira obteve 3.519 votos, sendo 1.860 deles de
eleitores picuienses. Finalmente, o município podia dizer que havia um
representante seu na Assembleia Legislativa. Em 1962, Pereira se candidatou
pelo PDC (seu número era 97004) e conseguiu se reeleger, obtendo 3.691 votos em
toda a Paraíba – dessa vez, o município de Picuí, sozinho, conferiu 2.139 votos
ao médico, ou seja, mais da metade dos eleitores picuienses votaram em “doutor
Pereira”, como era popularmente conhecido; já 1.346 cuiteenses votaram no filho
da terra. Nas mesmas eleições, o também cuiteense Orlando Venâncio dos Santos
foi candidato a deputado estadual pelo PTB e, mesmo obtendo 2.098 votos, não
conseguiu se eleger, ficando na suplência. Nas eleições de 1966, Pereira se
candidatou a deputado estadual, pela ARENA1 e, pela terceira vez, foi eleito,
obtendo uma votação total de 6.295 votos – e mais da metade desses votos, ou
seja, 3.306 votos, saíram das urnas picuienses. Em 1970, ao se candidatar pela
quarta vez e obter 5.665 votos, Pereira não se elegeu, ficando na suplência.
Como deputado governista de 1958
a 1970, José Pereira da Costa possui inúmeras obras vinculadas à sua atuação parlamentar,
destacando-se: ampliação total da Maternidade Nossa Senhora de Fátima,
transformando-a em uma “maternidade hospital”, que atendia a toda região
circunvizinha; instalação das agências do Banco do Brasil em Cuité e do Banco
do Estado da Paraíba em Picuí; construção de pontes sobre diversos rios da
região: ponte sobre o rio Picuí (com 80 metros de extensão), e as pontes sobre
os rios Campo Comprido, Trapiá, e Tanques. No entanto, a sua principal
intervenção, segundo Francisco Cavalcanti, foi intermediar a vinda da energia
elétrica de Paulo Afonso, que chegou a Picuí no ano de 1966. Apesar de
adversário político naquela época, Chico Cavalcanti leu o telegrama que dava a
notícia já durante sua posse no cargo de vereador, pois nas suas palavras, “naquela
época não existia a condição de ódio entre vencedores e derrotados”. E a
energia chegou pelas mãos do então deputado José Pereira da Costa.
O homem por trás do político
José Pereira da Costa iniciou o
curso de medicina em Recife, ressaltando-se que, no Nordeste da época, além da
capital pernambucana, só existia curso de medicina em Salvador. Mas teve sorte,
pois a universidade, que era particular, foi federalizada no ano de 1950. Antes
de terminar o curso, em 1955, foi candidato a prefeito de Cuité, perdendo as
eleições por apenas três votos, Pereira obteve 1.540 votos, enquanto Orlando
Venâncio dos Santos, 1.543 votos. Após o resultado das eleições, voltou para o
Recife e concluiu o curso no final do ano de 1955.
Logo após o término do curso,
apareceram vários chamados para Pereira trabalhar no interior de Pernambuco e
de Alagoas; no entanto, ele preferiu voltar para Cuité; ao chegar à região,
soube que havia uma vaga para médico em Araruna – no entanto, um fato curioso
ocorreu: no dia em que o jovem médico estava de saída para Araruna, o caminhão
da feira deu um problema no motor e ele retornou para a casa de seu irmão
Jaime. Poucas horas depois, chegaram os picuienses Eduardo Macedo e Roldão
Zacarias e relataram que o médico residente de Picuí, Washington Andrade, iria
deixar o município e que a vaga de médico precisava ser preenchida. Jovino
Pereira da Costa, tio e tutor do médico, vaticinou: “Agora você vai acertar, porque
Araruna tem muita briga política e Picuí é nossa terra, lá é difícil alguém não
ser seu parente, você vai!”
No dia 17 de janeiro de 1956,
Pereira chegou a Picuí, durante os preparativos das festividades em homenagem
ao padroeiro São Sebastião. Mas, tão logo que chegou ao pavilhão da festa,
recebeu um recado do farmacêutico Severino Fernandes, para socorrer um homem
que havia sido esfaqueado no “beco de Joaquim Neto”; quando ele chegou ao
local, pegou um chumaço de algodão para estancar o sangue mas não tinha como
suturar o ferimento. Severino Fernandes lembrou que as ferramentas de
Washington estavam no posto médico – que funcionava onde atualmente se encontra
a Coletoria Estadual. Levaram o ferido para o consultório, Pereira conseguiu
socorrê-lo e o homem sobreviveu ao ferimento. Ainda em 1955, Pereira fez o seu
primeiro atendimento na região e conta como foi:
“Eu estava de saída para o sítio
Saco do Milho, para visitar minha irmã; quando o carro ia chegando na
propriedade rural, chegou Paulo Hipácio, a bordo de um caminhão, e perguntou: -
doutor Pereira vai aí? Aí eu disse: - o que é que houve? Ele disse: tem uma
mulher que mora de Baraúna pra lá, na Boa Fé e está morrendo de parto, e tô
vindo me valer de você. Aí eu respondi: mas eu não tenho nada aqui. Paulo
disse: - não tem nada, eu trouxe os ferros de doutor Washington! Esses ferros
eram guardados numa caixa de metal; eu peguei as ferramentas e desci a serra de
Cuité, passamos por Mari Preto e eu pensando: mas meu Deus, o que eu vou fazer
lá, sem equipamentos adequados? Quando cheguei na casa da mulher, vi que
faltava apenas romper a bolsa e rapidamente a criança nasceu”.
Eduardo Macedo era prefeito e, na
época, não havia verbas federais ou estaduais para pagar ao médico, mas Eduardo
disse que daria uma ajuda de custo pela Prefeitura. Assim, Pereira ficou
morando na “república do médico”, fazendo refeições no Hotel de Zé Pedro e
trabalhando no posto. Quando ele chegou, o prédio da maternidade estava quase
pronto e Pereira encampou o projeto, sendo ajudado por Abílio César de
Oliveira, Eduardo Macedo, Dona do Carmo, Nilo Dantas, Evaniza Dantas, José
Rosendo, Joaquim Vidal, além de outras pessoas que também colaboraram com a
obra. Em 19 de julho de 1956, o médico Washington Soares Almeida deixou o cargo
de presidente da recém-fundada APAMIP, sendo sugerido o nome do novo médico
para ocupar o cargo, sendo aclamado como tal por unanimidade. Para conseguir
donativos para a conclusão da maternidade, foram realizados bingos, vaquejadas
e festas. Depois, ele conseguiu um convênio com o Ministério da Saúde, através
do paraibano Assis Chateaubriand, e lembra que havia uma verba que, muitas
vezes, ele ia no próprio carro pegar em Recife. Finalmente, no dia 30 de
dezembro de 1958, através da Prefeitura de Picuí, do Departamento Vacional da
Criança e da própria APAMIP, foi fundada a “Maternidade Nossa Senhora de
Fátima”, sob a direção de José Pereira da Costa.
Em 1959, doutor Pereira é eleito
deputado estadual e, durante seu primeiro mandato, a meta principal na Assembleia
era a saúde e a maternidade: equipou-a em julho de 1959, e a maternidade foi
inaugurada com a presença do governador. No entanto, inicialmente eram feitos
somente partos e quando ocorriam casos graves, esses eram encaminhados para
Campina Grande. Pereira então recorreu ao governador Pedro Gondim e conseguiu
verbas para comprar uma sala de cirurgia; a partir daí, ele e José Pereira de
Oliveira começaram a fazer cirurgias em Picuí. Ainda durante o governo de Pedro
Gondim, o deputado conseguiu verbas para a ampliação de 12 leitos, para 32
leitos da maternidade, que passou a ser “Hospital Regional de Picuí”.
Trajetória política de José
Pereira da Costa
Na época em que detinha o mandato
de deputado, Pereira viajava todas as semanas a João Pessoa, para comparecer
aos trabalhos da Assembleia Legislativa, tendo como motorista “Pequeno de
Rafael”. Enfrentando várias dificuldades, o deputado conseguiu inúmeras obras e
melhorias para as regiões do Seridó oriental e Curimataú ocidental da Paraíba.
No seu primeiro mandato, através de sua iniciativa, foram criados os municípios
de Frei Martinho, Cubati, Nova Palmeira e também ocorreu a votação pela criação
do município de Barra de Santa Rosa, já que o projeto se encontrava engavetado
há muito tempo. Através de seus requerimentos, foram criados os distritos de
Sossego, Telha, Baraúnas e Santa Luzia.
Em 21 de janeiro de 1962, a
APAMIP passa a manter a Maternidade Nossa Senhora de Fátima, recebendo a
denominação de Hospital Regional de Picuí, além do Posto de Puericultura Assis
Chateaubriand. Em 1965, o deputado José Pereira da Costa apresentou recursos
oriundos do Ministério da Fazenda, no valor de sete milhões de cruzeiros, para
a construção de um pavilhão anexo à Maternidade e ampliação de leitos
hospitalares. Nesse mesmo ano, ele afastou-se da direção da associação,
deixando sua esposa Roldemília Macedo em seu lugar, pelo período de 1967 a
1973.
Ainda na primeira legislatura,
com a colaboração do presidente da Fundação Padre Ibiapina, o deputado José
Pereira conseguiu fundar dois colégios na região: o de Cuité – “Colégio
Comercial Professor Clóvis Lima –, que tinha como diretora Anita Coelho, e o de
Picuí – “Colégio Comercial 5 de agosto” –, que teve o próprio deputado como seu
primeiro diretor. Os professores e diretores não eram remunerados, eram
voluntários; havia a arrecadação dos sócios da entidade, além de uma pequena
contribuição da própria fundação. Em Picuí, a primeira turma era composta por
José Mariano da Silva, Joventina, Marli, dentre outros. Após a segunda turma, a
campanha de Felipe Tiago foi ganhando vulto e aquele solicitou que a escola
fosse transferida para a CNEG. Apesar de não ver a medida com bons olhos, o
presidente da Fundação Padre Ibiapina, Afonso Pereira, terminou concordando com
a transferência da instituição para a Campanha.
Em 1960, faltando 20 dias para as
eleições e devido às divergências dentro do próprio PSB, José Pereira da Costa
fez a campanha a favor de Pedro Gondim, que havia saído do partido e se
candidato pela UDN. A partir desse apoio, Pereira conseguiu vários benefícios
para a região: recuperou a estrada para Frei Martinho (que praticamente não
existia) e a estrada para Nova Palmeira, ligando os municípios até a BR-230, em
Soledade.
Durante o governo de João
Agripino, o deputado José Pereira da Costa começou a pleitear a construção de
pontes na região: ponte da Piaba, perto de Remígio, ponte de Barra de Santa
Rosa, ponte Trapiá e a ponte do rio Picuí. João Agripino prometeu, mas nada de
saírem as obras, que eram caras. Após ouvir suas bases, Pereira prometeu
solucionar o problema ou tomar uma atitude; quando chegou a João Pessoa,
resolveu ter uma conversa com o governador no Palácio da Redenção, nesses
termos: “Governador, não vim lhe afrontar nem lhe desaforar, só vim dizer uma
coisa: o curimataú está isolado do resto do estado! Mas agora eu vou tomar uma
atitude, eu não vou romper com o governo, mas todos os dias eu vou me inscrever
na Assembleia para chorar, para falar do sofrimento do povo do curimataú!
Governador, diminua o nosso sofrimento, o senhor faça as quatro pontes que eu
fico satisfeito”.
João Agripino disse então: “Eu
não vou fazer o que você está pedindo não, eu não vou fazer as quatro não. Eu
vou fazer todas! E quando chegar a Picuí, pode dizer que em menos de 15 dias começa
a chegar material para a ponte de Barra de Santa Rosa e para Picuí”. Ao que
Pereira retrucou: “Eu não vou dar minha palavra não, que eu já estou de cara
lisa. Eu vou dizer que o senhor prometeu que iria chegar o material, só não sei
quando”. E realmente, antes de quinze dias começou a chegar o material para a
construção das pontes. Assim era o estilo de fazer política de José Pereira da
Costa.
Francisco Araújo com Fabiana Agra
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