Pagamento irregular do Auxílio Emergencial de R$ 300 pode chegar a R$ 808,9 milhões, aponta CGU.
Controladoria-Geral da União
identificou 1,8 milhão de beneficiários não elegíveis. Enquanto isso, parte das
famílias não recebeu todas as parcelas a que tinha direito.
A Controladoria-Geral da União
(CGU) encontrou indícios de que o pagamento irregular do Auxílio Emergencial de
R$ 300 – que vigorou por quatro meses em 2020 – pode ter chegado a R$ 808,9
milhões em 2020.
Ao mesmo tempo, a CGU identificou
famílias que não receberam todas as parcelas a que tinham direito. Veja o
calendário de pagamentos Auxílio do Brasil em 2022.
Em relatório do final do ano
passado, o órgão avaliou que 1,8 milhão de pessoas podem ter recebido as
parcelas indevidamente – o número equivale a 3,2% do total de 56,8 milhões dos
beneficiários.
O governo federal pagou Auxílio
Emergencial no valor de R$ 600 mensais no início da pandemia de Covid, entre
abril e agosto de 2020. Depois, prorrogou o benefício por quatro meses em valor
menor, de R$ 300. Essa extensão foi analisada por uma auditoria da CGU por meio
de cruzamento de dados.
O relatório publicado em dezembro
de 2021 aponta que, entre os beneficiários do programa, havia:
>cerca de 15,7 mil pessoas com
indicativo de óbito;
>mais de 38,2 mil presos em
regime fechado;
>aproximadamente 16,7 mil
residentes no exterior;
>quase 822 mil trabalhadores
com vínculo formal de emprego;
>quase 240 mil famílias com
renda mensal superior ao limite;
>cerca de 18 mil famílias com
mais de um beneficiário;
>75,6 mil pessoas que
receberam mais parcelas do que o programa permitia;
>mais de 160,6 mil pessoas que
recebiam um benefício do INSS simultaneamente, e
>442,2 mil beneficiários que
receberam o Bolsa Família ao mesmo tempo em valor acima do teto.
Como consequência, o Ministério
da Cidadania passou a adotar ações preventivas para suspender, bloquear ou
cancelar benefícios com indicativo de irregularidades.
Porém, segundo a CGU, parte dos
beneficiários receberam menos parcelas – e a situação deles é “relacionada
quase integralmente” às ações preventivas do ministério.
O relatório também aponta que
parte dos benefícios irregulares nessa etapa do Auxílio Emergencial foram
devolvidos à União. Somados, devoluções e estornos dos valores não sacados
totalizaram R$ 44,4 milhões.
Deduzindo o valor que voltou aos
cofres públicos, os pagamentos indevidos que exigem “adoção de providências
pelo Ministério da Cidadania” somam R$ 764,5 milhões.
Irregularidades similares
Ainda segundo a CGU, as possíveis
irregularidades identificadas nessa etapa do Auxílio Emergencial "possuem
similaridades" com outras fases do programa – as parcelas de R$ 600 pagas
anteriormente e a versão de 2021 do auxílio.
Assim, a CGU recomendou que o
ministério verifique as inconsistências cadastrais apontadas pela auditoria –
já que o cruzamento de dados, isoladamente, não é capaz de comprovar as
irregularidades.
Ainda, a controladoria sugeriu
que a pasta ajuste as bases de dados dos beneficiários, avalie a pertinência de
adotar “medidas para solicitação de devolução” dos recursos e tome
“providências operacionais” para evitar novos pagamentos indevidos.
O que diz o ministério
Em resposta à CGU, o Ministério
da Cidadania afirmou que o método usado pela auditoria não considerou os
benefícios que foram cancelados na revisão mensal ou em decorrência das
recomendações dos órgãos de controle – como a própria CGU.
Ainda, a pasta alegou que houve
“expressivo aumento” nos valores que foram devolvidos pelos beneficiários ou
estornados por não terem sido movimentados no prazo dado pela lei.
Além disso, o Ministério da
Cidadania disse que o relatório chegou com atraso – quando a última parcela do
Auxílio Emergencial, de outubro de 2021, já tinha sido paga. Com isso, não
houve como processar cancelamentos relativos a essas irregularidades na folha
de pagamentos.
“Não houve tempo hábil para
processar os arquivos com efeitos ainda no momento de vigência [do programa]”,
afirmou o ministério.
A pasta também afirmou que, uma
vez que os pagamentos indevidos forem verificados e confirmados, a devolução
dos recursos será solicitada.
Por Jamile Racanicci e Marcelo Parreira, TV Globo — Brasília
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