Prevenção à covid-19 na volta às aulas depende da comunidade escolar.
É necessário atenção a sintomas
gripais e é importante a vacinação
A segurança na volta às aulas
presenciais em meio à onda de transmissão de covid-19 provocada pela variante
Ômicron depende do engajamento de toda a comunidade escolar, incluindo os
responsáveis, destacam a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Sociedade Brasileira
de Pediatria. Além de estar atentos aos sintomas e aos protocolos, os pais
devem se vacinar, vacinar seus filhos e buscar participar da prevenção no dia a
dia.
Coordenadora do grupo de trabalho
criado na Fiocruz para produzir recomendações sobre a prevenção da covid-19 no
ambiente escolar, a pneumologista Patrícia Canto afirma que os pais não podem
delegar as responsabilidades apenas para a escola.
"A gente não pode esperar
que o professor assuma todas as funções. As crianças aprendem muito pelo exemplo,
com os pais usando máscara, álcool em gel e explicando o que é certo e errado
nesse momento da covid. É claro que o professor tem essa função na sala de
aula, mas é fundamental que a família faça seu papel nessa orientação".
Vacinação
A pesquisadora acrescenta que a
vacinação é uma das principais ferramentas para tornar o ambiente escolar mais
seguro, porque pessoas imunizadas, mesmo quando contaminadas, tendem a ter
menores cargas virais e transmitir menos a doença.
"É importante que a gente faça
campanhas para que os pais levem os filhos para que possam ser vacinados e é
importante que os pais sejam vacinados, porque essa também é uma forma de
proteção das crianças", afirma. "Quanto mais pessoas imunizadas,
menos o vírus vai circular".
Patrícia defende que as crianças
sejam vacinadas assim que houver vacinas disponíveis para elas no calendário de
cada município, mas recomenda que os pais não devem condicionar a volta às
aulas presenciais à imunização completa ou esperar algum período para que as
vacinas já aplicadas façam efeito.
"A gente tem tido uma grande
preocupação com o retorno às aulas presenciais por conta da alta
transmissibilidade da variante Ômicron, mas entendemos que as crianças e
adolescentes foram muito penalizadas por conta de ficar tanto tempo afastadas
das aulas presenciais. Isso traz consequências sérias para o desenvolvimento
psicossocial e até nutricional, porque muitas crianças são dependentes da
nutrição nas escolas", disse, citando que a escola também é um espaço de
proteção social contra diversas formas de violência. "Nesse momento, nós
entendemos que as crianças estão mais vulnerabilizadas pela ausência da aula
presencial do que pelo risco de formas graves da doença".
Apesar disso, ela ressalta que
crianças podem, sim, ter formas severas e até morrer por covid-19, o que
justifica a importância da vacinação e das demais medidas de prevenção. Além
disso, a pneumologista explica que crianças com condições específicas de saúde
como doenças congênitas ou imunossupressão devem ter seus casos analisados pelo
médico que acompanha seu caso, devido ao risco aumentado de formas graves da
covid-19.
Pacto da comunidade escolar
O presidente do Departamento
Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri,
também considera que o retorno seguro às aulas presenciais depende de um pacto
que envolva toda a comunidade escolar e considera as vacinas como um dos
principais redutores do risco oferecido pela doença.
"Nada é 100% seguro ou 100%
arriscado. É preciso entender que o risco é dependente de cinco pilares: estar
ou não vacinado, estar ou não de máscara, estar ou não muito próximos uns dos
outros, estar em ambiente fechado ou ventilado, e da higiene das mãos e do
local. Baseados nesses princípios que vamos conseguir avaliar os riscos das
aulas presenciais", afirma. "As vacinas são uma ferramenta a mais de
prevenção, devem ser aplicadas à medida que chegarem, mas não é uma condição
[para as aulas presenciais]".
Para o imunologista, os
benefícios da educação presencial são enormes e os riscos não são maiores do
que outras situações que já voltaram a fazer parte do cotidiano, como
restaurantes, academias e reuniões familiares.
"A escola mais reflete o que
está acontecendo na sociedade do que é uma mola propulsora de casos. Os estudos
e a experiência com dois anos da pandemia mostram que a escola não incrementa o
número de transmissões. Não precisamos da escola para ter mais casos, a doença
circula fora da escola também, e o mesmo risco que essa criança corre dentro de
sua família e no circulo de amigos, onde vive, onde brinca e onde frequenta, é
semelhante ao risco da escola".
Atenção aos sintomas
Além de ensinar como se proteger
da doença e buscar a vacinação, um dos pontos mais importantes para os pais é a
atenção aos sintomas gripais em crianças, como obstrução nasal, febre, tosse,
dor de cabeça e diarreia. A pneumologista da Fiocruz pede que os responsáveis
se comprometam a não levar para a escola crianças sintomáticas ou com casos
confirmados em pessoas da mesma residência.
"É comum que os pais achem
que com uma febre baixa ou nariz escorrendo pode mandar para a escola, mas,
nesse momento, é importante que todos tenham a consciência que qualquer sintoma
é igual a não ir para a escola e comunicar a coordenação para que tomem as
providências", afirma Patrícia.
A Secretaria Municipal de Saúde
do Rio de Janeiro, onde as aulas presenciais retornam nesta semana, recomenda
em seu protocolo que os responsáveis verifiquem a temperatura dos estudantes
antes da ida à escola, e, se o resultado for mais de 37,5 graus Celsius, eles
deve ficar em casa e a escola deve ser comunicada. Também não devem ir à
escola, segundo o protocolo da secretaria, estudantes, responsáveis e
servidores que apresentarem ao menos dois sintomas gripais, como obstrução
nasal, diarreia, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza e
alterações no paladar e olfato.
"O risco de transmissão é
sempre diminuído se todos estiverem de máscaras e se houver uma ventilação
adequada. Então, não recomendamos a suspensão de aulas de uma turma com menos
de três casos confirmados", explica a pneumologista, que afirma que os
demais pais devem ser orientados a observar os sintomas.
Renato Kfouri recomenda ainda que
o ideal é a testagem de todos os alunos de uma turma em que haja casos
positivos, para que a detecção de positivos assintomáticos possa frear a
transmissão.
"Os pais devem estar atentos
e compromissados em não mandar filhos sintomáticos para as salas de aula. E as
escolas devem oferecer condições, dentro das suas possibilidades, de maior
distanciamento possível e treinamento de todo profissional de educação em
relação ao uso de máscara, higiene das mãos, manter janelas abertas, fazer
atividades ao ar livre sempre que possível e evitar reuniões e aglomerações".
Os pesquisadores concordam que as
escolas devem organizar horários diferentes para as refeições de cada turma, de
modo que os alunos façam as refeições apenas com aqueles com que já têm
contato. Nos demais momentos, é importante que o uso de máscaras eficazes, como
as cirúrgicas, seja constante.
O representante da Sociedade
Brasileira de Pediatria reconhece que a possibilidade de adotar as medidas de
prevenção ideais dependem das condições físicas de cada escola, o que também
está ligado à desigualdade no acesso à educação.
"No Brasil, infelizmente, há
escolas em que não há menor condição de ter crianças com distanciamento nem em
sala ventilada", diz. "O que acentua mais essa desigualdade é que as
crianças que frequentam as escolas com menor condição de distanciamento são
justamente as que mais dependem da escola para uma segurança alimentar e
doméstica, para o seu desenvolvimento, e são as que têm menos acesso ao ensino
remoto de qualidade".
Por Vinícius Lisboa - repórter da
Agência Brasil -
Nenhum comentário