Ministério da Saúde injeta R$ 624 milhões para reestruturar o modelo da rede de saúde materno-infantil.
Dados preliminares de 2021,
apontam alta na taxa de óbitos maternos nos últimos dois anos.
Com o objetivo de reduzir os
óbitos maternos-infantis agravados na pandemia, o Brasil contará com acréscimo
de R$ 624 milhões ao financiamento da rede de saúde. O aprimoramento da
assistência terá o fortalecimento das maternidades e a criação dos ambulatórios
de assistência a gestantes com alto risco para complicações.
Com esse montante, o Ministério
da Saúde pretende reestruturar o modelo da rede de saúde materno-infantil, para
fortalecer a integralidade da assistência e o combate à mortalidade materna e
na infância.
Às vésperas do Dia Nacional de
Redução da Mortalidade Materna e Dia Internacional de Luta pela Saúde da
Mulher, comemorado neste sábado (28), o Ministério da Saúde apontou uma
inversão nos motivos dos falecimentos.
Entre 2017 e 2019, as mortes
diretamente ligadas a causas obstétricas, como hipertensão e hemorragias,
predominavam. Os dados preliminares de 2021 apontam que causas indiretas, como
doenças do sistema respiratório e circulatório, ultrapassaram, somando 1.625
óbitos.
Segundo a diretora do
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (DAPES), ginecologista e
obstetra Lana de Lourdes Aguiar, com a pandemia, as fragilidades da Rede de
Atenção à Saúde foram expostas de Norte a Sul do país.
“Tanto barreiras de acesso
ocasionaram demoras quanto a detecção precoce, o diagnóstico e o tratamento
oportuno de gestantes e puérperas que eram acometidas pela Covid-19”,
afirmou.
A morte materna ocorre durante a
gravidez ou dentro de um período de 42 dias seguintes ao parto ou aborto espontâneo,
independentemente da duração, devido a qualquer causa relacionada ou agravada
pela gestação e seu tratamento.
Para além das estatísticas, fica
o vazio das crianças que sequer têm a chance de conhecer quem as trouxe ao
mundo. A estudante brasiliense Bianca Amorim, de 21 anos, perdeu a mãe em 2007,
em decorrência de problemas no parto da irmã. "A minha mãe teve uma
gestação bem complicada. Ela ficou de repouso, fez pré-natal, exames, tomava
muitos remédios. Mas teve uma hemorragia durante o parto, que resultou em uma
trombose pulmonar e ela não resistiu”, contou.
Com apenas seis anos à época, sem
entender bem o que havia acontecido, foi extremamente difícil compreender o
fato de que a mãe, que havia saído de casa para dar à luz sua irmãzinha tão esperada,
não voltaria mais do hospital.
“E pra mim ficou o vazio da dor,
que vai sempre me acompanhar, que a gente só aprende a conviver com ela. Mas o
que aquece o meu coração é saber que cada pedaço meu tem um pedacinho dela.”
Óbitos maternos notificados ao
Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)
2019: 1.576 óbitos
2020: 1965 óbitos
2021*: 2.768 óbitos (Dados
preliminares)
O painel do Ministério da Saúde
mostra que o país vinha registrando uma queda nos óbitos de gestantes e
puérperas entre 2017 e 2019. No entanto, em 2020, com o início da disseminação
do coronavírus, a situação mudou.
Região
Apesar de atingir todas as Unidades
de Federação, segundo o DAPES, os óbitos maternos concentram-se mais nas
regiões Norte e Nordeste, dadas as dificuldades acentuadas nos vazios
assistenciais. Apesar disso, com a pandemia, observou-se um aumento
representativo da mortalidade materna em estados como Santa Catarina, Paraná e
Distrito Federal.
Segundo a médica Lana de Lourdes
Aguiar, diretora do DAPES, até a pandemia, a mortalidade materna fazia parte de
um indicador de desigualdade social, cenário que passou a não ter mais
precedentes. “Ao observar os estados com trajetória na rede de atenção materna
e infantil, e com Índices de Desenvolvimento Humano superiores a muitos estados
brasileiros, estes performaram insatisfatoriamente no atendimento ágil e
oportuno de gestantes e puérperas com Covid.”
Ações para redução da mortalidade
materna
Dos óbitos que ocorrem durante a
gravidez ou por complicações durante o parto, 90% das causas são consideradas
evitáveis, com atenção à saúde precoce e de qualidade.
As ações, de acordo com o DAPES,
serão voltadas à atenção a gestantes e puérperas por meio da ampliação da Rede
Cegonha. “Estamos mantendo todos os serviços da antiga Rede Cegonha e agora
trabalhando para ampliar, fortalecer esses componentes que já eram propostos no
passado e oferecer um cuidado mais integral”, destacou Aguiar.
O aprimoramento da assistência
contará com o fortalecimento das maternidades e a criação dos ambulatórios de
assistência a gestantes com alto risco para complicações.
Segundo o secretário de Atenção
Primária à Saúde, Raphael Parente, a análise desses dados é um indicador
importante para medir a qualidade dos serviços de saúde e direcionar melhor
ações e recursos. “Esses processos de vigilância e análise contínua de dados, e
ter acesso a informações oportunas de qualidade, facilitam e favorecem uma
resposta adequada a essas situações e agravos de saúde.”
Fonte: Brasil 61 -
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