Posição do TSE é 'muito clara': quem propagar fake news 'terá registro cassado', diz Moraes.
Ministro do STF, que comandará
Justiça Eleitoral nas eleições, deu entrevista em Curitiba. Na véspera,
ministro Nunes Marques suspendeu decisões do TSE que cassaram deputados.
O ministro Alexandre de Moraes,
do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta-feira (3) que a posição
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é "muito clara" e que a Corte
vai cassar os mandatos de candidatos que propagarem fake news nas eleições
deste ano.
A afirmação foi feita um dia após
o ministro Nunes Marques, do STF, ter derrubado decisão do TSE que havia
cassado o mandato do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR),
aliado do presidente Jair Bolsonaro, por uso de redes sociais para propagar
informações falsas sobre o sistema de votação. Além disso, Nunes Marques também
suspendeu outra decisão do TSE e devolveu ao deputado bolsonarista Valdevan
Noventa (PL-SE) o mandato cassado pelo tribunal eleitoral.
Alexandre de Moraes deu as
declarações ao conceder entrevista antes de participação no Congresso
Brasileiro de Direito Eleitoral, em Curitiba. Questionado sobre os próximos
passos no caso de Francischini, deputado estadual no Paraná, Moraes afirmou:
“A posição do TSE é muito clara,
já foi dada em dois casos importantes e vai ser aplicada nessas eleições: quem
se utilizar de fake news, quem falar de fraude nas urnas, quem propagar
discurso mentiroso, discurso fraudulento e discurso de ódio, terá seu registro
cassado, independentemente de candidatos a qualquer dos cargos.”
O ministro disse
"garantir" a cassação dos registros de candidatos que incorrerem
nessas práticas.
“Posso garantir que aqueles que
se utilizarem de fake news nas eleições terão seus registros indeferidos, seus
mandatos cassados, porque a democracia não admite que milícias digitais tentem
capturar a vontade popular”, declarou.
Segundo Moraes, o TSE já vem
trabalhando no combate à desinformação nos últimos anos.
“Eu diria que o TSE e toda a
Justiça Eleitoral estão muito mais preparados hoje para atuar contra notícias
fraudulentas, que pretendem capturar a vontade do eleitor, com discurso de
ódio, com discursos mentirosos, com agressões a democracia”, afirmou.
Na palestra que fez no congresso
de direito eleitoral, Moraes disse que a Justiça vai analisar casos de abuso de
poder político e econômico cometidos por candidatos em todos os meios de
comunicação, inclusive as redes sociais.
De acordo com o ministro, a
Justiça Eleitoral não pode se comportar como "avestruz" e
"fingir que nada acontece" no ambiente virtual.
"Todos os meios das redes
serão considerados meios de comunicação para fins de abuso de poder econômico e
abuso de poder político", afirmou Moraes ao participar do Congresso
Brasileiro de Direito Eleitoral, cujo tema foi "Democracia em Ação".
Segundo ele, os eventuais abusos
cometidos por meio de plataformas digitais serão analisados pela Justiça
Eleitoral, assim como o abuso de poder político e econômico no caso da mídia
tradicional, disse o ministro.
“Independentemente de um
obstáculo que logo será superado — logo mesmo — é isto que este ano nas
eleições será aplicado no Tribunal Superior Eleitoral. Para fins eleitorais, as
plataformas, todos os meios das redes, serão considerados meios de comunicação
para fins de abuso de poder econômico e abuso de poder político. Quem abusar
por meio dessas plataformas, sua responsabilidade será analisada pela Justiça
Eleitoral, da mesma forma que o abuso de poder político, de poder econômico
pela mídia tradicional”, afirmou Moraes.
O caso do deputado Francischini
foi o primeiro em que o tribunal tomou decisão relacionada a político que fez
ataque às urnas eletrônicas.
O presidente Jair Bolsonaro e
aliados dele têm feito ataques ao sistema eletrônico de votação e colocado em
dúvida o processo eleitoral, sem apresentar provas das acusações.
O TSE considerou que a conduta de
propagar desinformação pode configurar uso indevido dos meios de comunicação e
abuso de poder político.
Nunes Marques, ao justificar a
decisão em favor do político, argumentou justamente que as redes sociais não
poderiam ter sido equiparadas aos meios de comunicação tradicionais nas
eleições 2018, quando ocorreu o fato que levou à cassação de Francischini pelo
TSE.
A decisão do Tribunal Superior
Eleitoral em desfavor de Francischini é de outubro do ano passado e, segundo
Nunes Marques, o entendimento do TSE sobre as redes sociais não poderia
retroagir para punir ato ocorrido em 2018.
Com a decisão, Francischini
reassume o mandato e pode voltar a disputar as eleições deste ano.
Se houver recursos contra as
medidas, Nunes Marques levará para análise da 2ª Turma do STF as decisões que
devolveram mandatos de parlamentares.
Em relação a Valdevan Noventa, o
deputado foi cassado por unanimidade pelo TSE por abuso de poder econômico e
compra de votos durante a campanha eleitoral de 2018. Nesse caso, Nunes Marques
também suspendeu a decisão do TSE e devolveu o mandato ao deputado. O PT
recorreu porque o suplente de Noventa que estava no exercício do mandato é um
deputado do partido.
Para o ministro Alexandre de
Moraes, "de tédio ninguém vai morrer" nas eleições deste ano.
“De uma coisa vamos ter certeza:
este ano — e os últimos acontecimentos também mostram — de tédio, ninguém vai
morrer este ano”, disse. “De monotonia, ninguém vai morrer. Cada dia uma
aventura para que possamos consolidar o que o Brasil vem consolidando”, afirmou.
De acordo com o ministro, é
"exagerado" o número de obstáculos neste ano em relação às eleições,
"algo que parecia totalmente consolidado no Brasil".
Por Rosanne D'Agostino, g1 — Brasília
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